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quinta-feira, 28 de março de 2019

Revista Senhor, 60 anos: quando o jornalismo descobriu a cultura...

Março de 1959: a capa da primeira edição.

Nahum Sirotski deixou a Manchete para editar a Senhor

No primeiro número, Djanira, Portinari, Tarsila. Artigo de Mário de La Parra pregava a paz nas artes. ""No Brasil, as tendências artísticas e seus representantes mais sugerem a CBD e digladiar-se com maior veemência do que é dedicado ao trabalho criador".

Jorge Andrade entrevistado por Flávio Rangel. 

Ray Bradbury traduzido por Ivo Barroso

Ira Etz, a então musa de Ipanema

Miguel de Carvalho alerta sobre os perigos da água.

A edição de aniversário. 

Na edição que comemorou os quatro anos, como um prenúncio do fim, Senhor publicou uma longa lista de agradecimento aos seus colaboradores, entre os quais vários jornalistas que também atuaram na Manchete, como Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, Ledo Ivo, Ibrahim Sued, Stanislaw Ponte Preta e Antonio Maria,

por José Esmeraldo Gonçalves

A agitação cultural do Brasil na segunda metade dos anos 1950 só podia acabar em revista.

No embalo da modernização do país, artistas e intelectuais refaziam o cinema, o teatro, as artes plásticas e a música popular. O jornalismo não podia ficar de fora e surgiram os cadernos culturais dos jornais. Faltava uma revista.

Nahum Sirotski ainda era diretor do Manchete, em 1958, quando em parceria com Alberto Dines pensou em criar uma publicação semanal na linha do U.S New World Report ou Esquire. A ideia só foi para o papel quando ganhou o apoio de Abraão Koogan e  Simon Waissman, que publicavam a Delta Larousse no Brasil.

Em março de 1959, há exatos 60 anos, Senhor chegou às bancas com um time de peso: Nahum como editor, Paulo Francis era o editor-assistente, Carlos Scliar assinava a Arte da revista e tinha como assistentes Glauco Rodrigues e Jaguar. Entre os colaboradores do primeiro número, Otto Maria Carpeaux, Anísio Teixeira, Carlos Lacerda, Reinaldo Jardim, Flávio Rangel, Clarice Lispector e Fernando Sabino.

A fase original original da Senhor durou menos de cinco anos, entre 1959 e 1964. Os tempos já eram sombrios quando o último número foi impresso.

Um ano antes do fim, ainda otimista e teimosa, Senhor comemorou os quatro anos. O clima no país  não tinha a ver com aquele 1959 que parecia luminoso. A intolerância, que logo virou perseguição, estava nas ruas. A conspiração saía das sombras e a cultura seria uma vítima preferencial.

A Senhor agradeceu a preferência, pediu licença e deixou as bancas.

Fez bem. Foi melhor do que virar "sim, Senhor".

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Roberto Muggiati: aventura cultural na Revista Senhor

por Roberto Muggiati (para a Gazeta do Povo)
A capital do país mudou para o Planalto, mas os cariocas não tomaram conhecimento. Quando surgiu a sigla da construtora de Brasília, Novacap, eles batizaram sua cidade de Belacap, e capital da beleza nacional ela continuou sendo – e também da inteligência. A beleza se media nos badalados concursos de Miss. Já o talento intelectual desfilava na passarela de uma nova revista, lançada em março de 1959. Sediada no Rio, ela começou com o logotipo SR., a palavra SENHOR inserida verticalmente na perna do R, e o lema "Uma revista para o senhor". Seu modelo era mais a tradicional Esquire do que a Playboy, que estourava no mercado dos EUA. Senhor tratava de elegância, etiqueta, política, economia e literatura (publicando contos e crônicas), mas não deixava de ter um olho arregalado também para mulher bonita, embora não exibisse corpos nus como alcatra num açougue, A tônica da Senhor (o logotipo passou a aparecer por extenso a partir de abril de 1960) era o bom gosto e a sofisticação. Formulava um estilo de vida para o novo homem brasileiro que emergia do desenvolvimentismo de JK. Eram tempos vibrantes: bossa nova, cinema novo, sputnik, revolução cubana, beats, cool jazz — e, claro, revolução sexual. Todos esses temas encontravam espaço nas páginas da Senhor. O aquecimento do mercado garantia um respaldo publicitário para manter a Senhor nas bancas todo mês, com anúncios de moda, automóveis, eletrodomésticos, linhas aéreas. Foi uma bela aventura cultural que durou até janeiro de 1964, um total de 59 edições, que têm sua memória resgatada agora pela antologia facsimilar O Melhor da SR, ideia e coordenação de Maria Amélia Mello, organização de Ruy Castro (520 páginas, Imprensa Oficial de São Paulo). Revejo com satisfação e – por que não? – orgulho, minha assinatura no ensaio em página dupla "Os Moralistas Corruptores", que a Senhor publicou em outubro de 1962, quando eu já estava em Londres, trabalhando na BBC.
Leia mais na Gazeta do Povo. Clique AQUI

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Senhor, 50 anos: memória de revista


Para lembrar: há 50 anos, chegava às bancas, por módicos CR$70,00, a revista Senhor. O ano era 1959, tempos de bossa nova, Brasília, cinema novo despontando, o Brasil sonhando com democracia sem imaginar o pesadelo que aguardava logo ali na esquina 64. Nahum Sirotsky era o redator-chefe, Paulo Francis editor-assistente, Carlos Scliar diretor de arte. O número 1 (olha a capa aí ao lado) tinha artigos de Otto Maria Carpeaux (Whodunit, os prazeres do crime), Carlos Lacerda (Uma rosa é uma rosa é uma rosa), Reynaldo Jardim (Como matar um escritor), um conto de Clarice Lispector (A menor mulher do mundo), outro de Ray Bradbury (La noche) e duas páginas assinadas pelo cartunista Jaguar (Welcome to Rio). Impossível deixar de folhear com prazer uma matéria intitulada Arte de Hoje, ilustrada com reproduções bem impressas de obras de Djanira, Tarsila, Milton da Costa, Ivan Serpa, Portinari e Krajcberg. O número 1 tinha poucos anúncios: o Super Constellation da Real Aerovias fazia a rota Rio-NY, o DKW Vemag era o carro do momento. Ao apresentar a revista, Nahum fez uma curiosa carta de princípios. "Em primeiro lugar" - escreveu -, "devo dizer que não fiz uma revista feminina por três motivos: porque já há muitas; porque as mulheres não gostam de revistas femininas; porque as mulheres estão querendo cada vez mais saber exatamente o que os homens andam querendo saber". Senhor inovava em conteúdo e forma. Ficou como uma bela referência jornalística e inspirou muitas publicações nos anos seguintes. Tim-tim!