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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Fotomemória da redação: em 1977, 25 anos depois da Manchete número 1, o encontro dos pioneiros

 


por José Esmeraldo Gonçalves

A foto rara mostra Gervásio Baptista, Nelson Alves, Wilson Passos, Nicolau Drei e, à direita, Dirceu Torres Nascimento. Em abril de 1977, a redação preparava uma edição especial sobre os 25 anos da Manchete. O jornalista Joel Silveira escrevia um texto que reconstruía os bastidores do fechamento do número 1 da revista. Com um reconhecido talento para mostrar os fatos através dos protagonistas, tal como fazia nas suas grandes reportagens, Joel foi buscar alguns  "pioneiros" que ainda trabalhavam na Manchete, como a própria história viva de parte da primeira redação 25 anos depois. 

O quarteto subiu ao oitavo andar do prédio da Rua do Russell e posou junto para o registro acima. Foto relâmpago, os dois fotógrafos, Gervásio e Nicolau estavam de saída para pautas. Wilson, o  chefe da Arte da revista, tinha páginas a fazer, Dirceu e Nelson eram solicitados pela administração da editora, mesmo assim ajudaram Joel Silveira a contar a saga do número 1. 

Àquela altura, 1952, lançar uma semanal ilustrada para concorrer com a poderosa O Cruzeiro equivalia a mandar David ir à luta contra Golias sem levar pedras no alforje nem a funda para derrotar o filisteu. Manchete tinha então poucos recursos para enfrentar a revista de Assis Chateaubriand. E, de fato, com pouca publicidade, quase não sobreviveu ao primeiro ano. 

Passados aqueles difíceis primeiros meses, o potencial da revista em progresso começou a aparecer. Um bom time de cronistas, criatividade para cobrir os acontecimentos, embora ainda sem condições de fazer grandes reportagens, a vocação para o fotojornalismo e uma surpreendente agilidade para levar os fatos importantes às bancas. Em setembro de 1952, Manchete mostrou essas qualidades ao cobrir a morte do cantor Chico Alves, então o maior ídolo nacional. Foi o primeiro sucesso de vendas. Em 1954,  a crise institucional, a morte e o enterro de Getúlio Vargas, com o país em estado de comoção, resultaram em grande repercussão. Era como se a Manchete estivesse finalmente se apresentando aos leitores. Em 1955, em outro acontecimento marcante, a morte de Carmen Miranda, Manchete mostrou mais uma vez a capacidade de chegar antes às bancas das principais capitais. Nos anos seguintes, a industrialização do Brasil, os bens de consumo desembarcando nos lares da classe média em ascensão e gerando publicidade, a extraordinária cobertura da construção e da inauguração de Brasília, as reportagens, o fotojornalismo, a qualidade gráfica, a agilidade e a reforma editorial liderada por Justino Martins foram os gatilhos que levariam a revista a superar O Cruzeiro já na virada dos anos 1960. E os "pioneiros" fotografados naquela tarde de abril de 1977, no oitavo andar, simbolizaram as centenas de profissionais que integraram as redações que tornaram isso possível.