Esta dramática capa da Manchete (foto de Flávio Ferreira) é de 22 de julho de 1978. A revista trazia a emocionada cobertura do incêndio que destruiu o acervo do Museu de Arte Moderna, feita pelo saudoso jornalista e crítico de arte Flávio de Aquino. O fogo consumiu um acervo de mil quadros, entre os quais telas e esculturas de Picasso, Dali, Magritte, Max Ernst, Paul Klee, Matisse, Portinari, Segall e Guignard, além de 80 trabalhos do maior pintor uruguaio, Joaquim Torres Garcia. Na época, restaram as cinzas, nada aconteceu, a direção do MAM não foi responsabilizada, a lição não foi assimilada, e outros museus, no Brasil, permanecem como bombas-relógios sujeitos a destruições semelhantes ou a roubos frequentes de obras de arte. Agora, o drama se repete. Dessa vez, em uma residência particular, não em uma instituição, mas a perda cultural é igualmente incalculável. Na última sexta-feira, um incêndio destruiu parte da casa do arquiteto Cesar Oiticica, irmão do artista plástico Hélio Oiticica, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. O fogo atingiu uma sala onde estavam guardadas instalações, pinturas e esculturas do artista plástico. O prejuízo material teria sido estimado em 200 milhões de dólares mas o que as chamas consumiram foi cultura brasileira de valor jamais mensurável. A Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro criou, em 1996, o Centro de Artes Hélio Oiticica, na Praça Tiradentes. Recentemente, os jornais registraram uma polêmica entre parentes do artista, responsáveis pela sua obra, e representantes da Secretaria Municipal. O desentendimento teria levado a família a retirar peças de Oiticica expostas no Centro. Segundo Cesar Oiticica, 90% das obras do irmão foram agora destruidas. A Secretaria teria proposto à família um comodato que permitisse que o acervo ficasse guardado no Centro de Artes mas, diz a secretária Jandira Feghali, a proposta não foi aceita. A sala que guardava o acervo na residência da família tinha, segundo Cesar declarou à imprensa, controle de umidade e temperatura mas não se sabe ainda o que provocou o fogo ou se havia dispositivos de segurança ou alarmes adequados. Após a morte do artista, em 1980, foi criado o Projeto Hélio Oiticica, destinado a preservar sua importante obra. Nas ilustrações que acompanham este post, as reproduções da capa da Manchete com o incêndio do MAM e de Hélio Oiticica em uma página do livro Marginália - Arte & Cultura na Idade da Pedrada, de Marisa Alvarez Lima.
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sábado, 17 de outubro de 2009
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