Meu conterrâneo, o jornalista Xico Sá, recentemente pediu demissão da Folha de São Paulo porque foi impedido de publicar um texto no qual justificava e informava o seu voto na Presidenta Dilma. A Folha não admitiu o que seria o "partidarismo" de Xico, que guardou o texto e altivamente, pediu demissão do Jornal.
Ao contrário de outros profissionais e meios de comunicação, Xico preferiu não induzir o leitor, mas escancarou a sua vontade eleitoral. Se analisarmos a quantidade de outros colegas de profissão que, embora não declarando voto, induzem o leitor a cada postagem ou manifestação, o textículo (desculpando desde já pelo termo) de Xico, seria uma onda a mais, no oceano da chamada grande mídia.
Por isso, quando ele resolveu tornar público o seu texto, decidi publicá-lo aqui em meu blog. Não apenas em desagravo ao Xico Sá, mas também a outros Chicos que apoiam e declaram seu voto em Dilma. O Buarque, o César e tantos outros Brasil afora e que acabam sendo julgados por uma manifestação cívica e pacífica, que é a escolha de um candidato. Decisão esta, mormente em função de um período onde uma perigosa e minoritária parcela social tupiniquim, tenta desconstruir o que temos conquistado a duras penas, seja econômica, social e politicamente. Ao terem que emudecer, Xico e tantos outros parecem personagens kafkianas caladas por uma eclosão de uma perigosa modinha tropical que parece mais um neomacartismo contra tudo e todos que ousam remar contra aquela maré controlada. Antes fosse a volta do tropicalismo.
Leia abaixo o texto recusado pela Folha de São Paulo e que provocou a saída do jornalista cratense Xico Sá do jornal onde trabalhava há quase 20 anos.
"Fla-Flu eleitoral"
por Xico Sá
"Se no primeiro turno foi Brasileirão de pontos corridos, agora, camarada, é Copa do Brasil, mata-mata. Amigo torcedor, amigo secador, mesmo com a obviedade ululante de PT x PSDB, eleição não é Fla-Flu, eleição não é sequer Atlético x Cruzeiro, Galo x Raposa, para levar a contenda para as Minas Gerais onde nasceram os dois candidatos do segundo turno.
Eleição não é um dérbi clássico como Guarani x Ponte Preta, eleição é tão mais rico que cabe, lindamente contra o voto, meus colegas anarquistas na parada, votar simplesmente no nada, nonada, como nos sertões de Guimarães Rosa, sempre na área.
Fla-Flu, embora exista antes do infinito e da ideia de Gênesis, nego esquece em uma semana. Futebol nego esquece no 25º casco debaixo da mesa, afinal de contas, como dizia meu irmão Sócrates Brasileiro, futebol não é uma caixinha de nada, futebol é um engradado de surpresas sempre dividido com amigos de todos os clubes.
Doutor Sócrates Brasileiro que foi mais pedagógico, um Paulo Freire da bola, com a Democracia Corintiana, do que muitas escolas. Doutor Sócrates, Casagrande e Vladimir nos ensinaram mais sobre a ideia grega do "poder do povo e pelo povo" do que toda aquela imposição de Educação Moral e Cívica dos generais das trevas.
Foi-se o tempo que viver era Arena x MDB, era Brahma x Antarctica. Até porque eles hoje são a mesma coisa, a mesma fábrica, a mesma Ambev que botou dinheiro de monte até na Marina evangélica –la não queria, mas o tesoureiro, talvez neopentecostal, pegou do mesmo jeito de todo mundo, vai saber, já era.
Eleição é coisa de quatro anos, no mínimo, pois até quem diz que não quer mais compra um aninho de luxúria e sossego iluminista em Paris, como já vimos no caso do FHC, comprovado em um dos maiores furos desta Folha, reportagem do grande Fernando Rodrigues, parlamentar comprado a preço de mensalão superfaturado.
Cadê a memória, a mínima morália, como diria Adorno, jornalismo safado?
Quem dera eleição fosse apenas o Fla-Flu que dizem. Quem dera fosse apenas um cordel que poderia ser resumido na peleja do playboy danadinho contra a mulher durona. É tudo mais complexo, ainda bem, e se no primeiro turno foi Brasileirão de pontos corridos, agora, camarada, é Copa do Brasil, mata-mata.
Como sou favorável à linha dos jornais americanos que declaram voto, coisa que meu jornal aqui teimosamente não encampa, queria deixar claro da minha parte: voto Dilma, apesar do meu pendor anarquista. Perdão, Bakunin, mas meu voto é contra a imprensa burguesa.
Digo que o jornal que me emprega não encampa e justiça seja feita: nunca me proibiu de dizer nada. Nem no impresso nem no blog. "Bota pra quebrar, meu filho", lembro do velho sr. Frias nessa hora, que cabra! Seria legal que todos os jornalistas, que têm lado sim, se declarassem. Quem se apresenta para tornar as coisas mais iluminadas?"
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