Por ROBERTO MUGGIATI
Era uma segunda-feira chuvosa quando se respeitou, pela primeira vez, no Rio de Janeiro o feriado do Zumbi, ou seja, o Dia da Consciência Negra. Adolpho Bloch tinha morrido na madrugada de domingo, 19, Dia da Bandeira. Foi velado no saguão do primeiro prédio da Manchete, na Rua do Russell, 804, debaixo da frondosa escultura de galhos brancos de Frans Krajcberg. Foi o próprio Adolpho quem criou aquele ritual, em setembro de 1976, para homenagear o ex-presidente Juscelino Kubitschek, morto num nebuloso acidente de carro na Via Dutra. JK, ao lado do corpo do seu motorista Geraldo, ficou exposto à visitação pública na Manchete até o final da tarde, quando seu corpo seguiu para a cerimônia do enterro em Brasília. O velório do ex-Presidente foi disputado a tapa entre o Presidente de Bloch Editores e a diretora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Niomar Muniz Sodré. Com o apoio de Carlos Lacerda, Adolpho levou os despojos. Depois, só o jornalista David Nasser – que em seus últimos anos escrevia para a Manchete – em 1980, e Justino Martins, diretor da revista, em 1983, mereceram aquela distinção. A série encerrou com o próprio Adolpho, em 1995.
Era um feriado polêmico – não lembro se municipal, ou estadual – e havia incerteza sobre se seria ou não respeitado. Uma chuva torrencial votou a favor do feriado e fomos numa caravana de vários carros e ônibus até o cemitério judaico de Vila Rosali para a despedida de Adolpho.
Estes vinte anos passaram muito rápido, a mídia e o mundo mudaram muito, e nosso grande Adolpho foi poupado de muita coisa ruim que está acontecendo por aí. Zumbi veio para ficar, mas, fiel ao bordão inspirado na publicidade, eu posso afirmar: o primeiro Zumbi a gente nunca esquece.