por José Esmeraldo Gonçalves
Preservar fontes é um direito dos repórteres. A ideia é utilizar o recurso para montar pistas que levem à verdade dos fatos, especialmente no curso de apurações que envolvam elementos poderosos e influentes de governos, empresas, da própria justiça, polícia, instituições sociais, esportivas, religiosas e políticas ou quaisquer pessoas que tenham motivos para dificultar o trabalho dos repórteres.
Há limites, contudo. O sigilo de fontes deve ser exceção, não regra
A questão da fonte sigilosa está em pauta na mídia após a polêmica reportagem de Malu Gaspar, do Globo, na qual informantes que não se identificaram construíram a peça acusatória do jornal contra o ministro Alexandre de Moraes.
Não apenas Malu. Muitos jornalistas brasileiros abusam do uso do informante não identificado. É um tal de "pessoa próxima ao presidente", "um político com trânsito no Planalto", "um deputado presente à reunião", etc.
O caso mais famoso de uma reportagem investigativa que utilizou uma fonte não identificada foi a série de reportagens sobre o escândalo Wateergate que levou à condenação e renúncia do presidente Richard Nixon por encomendar a espionagem de um escritório do Partido Democrata. Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, utilizaram como fonte o Deep Troath, nome que deram ao informante secreto. Em geral, ficou a impressão de que o Garganta Profunda passava informações completas aos repórteres. Não é por aí. O informante limitava-se a atuar como um GPS humano, dizia sim ou não às perguntas dos dois jornalistas, confirmava ou negava certas hipóteses e, com isso, dava o rumo que levou aos responsáveis pela invasão criminosa do escritório do Partido Democrata.
O Deep Thoath foi decisivo, sem ele Nixon e seus cúmplices não teriam sido desmascarados. Foi fonte, mas não passou informações diretas como fizeram as pessoas ocultadas pela Malu Gaspar na estranha reportagem sobre as supostas pressões de Moraes sobre o Banco Central.O suposto objetivo seria facilitar a vida e, indiretamente, as fraudes do Banco Master.
Admiradora da Lava Jato, Malu acabou cometendo o mesmo erro dos seus ídolos Sergio Moro, Deltan Dallagnol que obtiveram delações premiadas e, na quase totalidade dos casos, não buscaram as provas do que os delatores revelaram. Malu também não fez não tentou ou não obteve êxito nessa crucial complementação da sua peça acusatória.
Vai ver a ideia era expor Moraes.Por isso a repórter não precisou encontrar as fontes, as fontes a encontraram.
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