por José Esmeraldo Gonçalves
O tempo é de absurdos e a mídia, talvez por enfado, acaba "normalizando" o inimaginável e confundindo o lodo com a água limpa.
"Orçamento Secreto" é um negócio que vem com carimbo de má intenção. Até uma organização criminosa como o PCC anota em cadernetas com espiral, que ainda existem, a movimentação financeira da casa. Às vezes a polícia apreende esses anais do crime, espécie de ata de sessão da bandidagem.
Pois o Congresso "legaliza" o uso escondido do dinheiro do povo, claramente em troca de votos no plenário, sem que o povo tenha direito de saber quem botou a mão na grana ou possa auditar a transação. Os engravatados das legislações não mostram a caderneta.
O título do Globo, hoje, é desses que "normalizam" a jogada. Não é só O Globo. Nós nos acostumamos com o surreal. A boiada tanto passa, o trator também, que não surpreendem mais.
O jornal praticamente diz que "Orçamento secreto", pode, terá teto, ufa, mas só falta transparência. Ah, bom. Agora explica, como um orçamento secreto pode ter transparência? Nunca pode. Não é feito para ser visto.
Resta constatar que o Brasil evolui: dinheiro na cueca, sujeito correndo com mochila cheia de milhões, malas rechonchudas de propinas, apartamento atulhado de pixulés, tudo isso fica no passado folclórico.
"Orçamento secreto" é o cuecão no modo invisível. Com uma grande vantagem: não é detectável em aeroportos.