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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O Carnaval do #eusouunicornio • Por Roberto Muggiati

Bloco de unicórnios em São Paulo. Reprodução Facebook

por Roberto Muggiati

O unicórnio – quem diria? – foi o adereço campeão do Carnaval de rua brasileiro em 2018.

Intrigado com a insólita mania, procurei os especialistas para uma explicação. Segundo eles, um dos movimentos que influenciaram mundialmente o surgimento da moda do unicórnio foi o chamado seapunk, de 2011. “É um movimento da internet, do Tumblr, em que os adolescentes passaram a fazer montagens com referências como golfinhos, sereias e também o unicórnio”, explica Lydia Caldana, analista de tendências da Box 1824.

A música "Higway Unicorn" foi a declaração de amor
de Lady Gaga ao animal mitológico 

Kesha "convidou" um unicórnio para participar do clipe Blow. E incluiu nos créditos um
alerta irônico: "nenhuma criatura mitológica foi maltratada na produção deste vídeo". 

Miley Cyrus se rendeu à mitologia em 2015 durante turnê com o Flaming Lips.
Foto Reprodução Instagram

Entre 2011 e 2012, cantoras pop como Azealia Banks, Lady Gaga, Miley Cyrus e Kesha incorporaram o unicórnio e outros elementos do seapunk em seus clipes ou shows. Cores do arco-íris em tons clarinhos, glitter e holografia – a chamada “estética unicórnio” – começaram a aparecer mais.
Com o tempo, o tema do unicórnio foi se tornando mais massificado fora do Brasil, e no ano passado chegou com tudo por aqui.

Causas possíveis do fenômeno? Cito ipsis literis da internet:

Crise econômica e fuga da realidade

Um dos motivos para a mania dos unicórnios ter pegado no Brasil, de acordo com os especialistas em tendências, é a crise econômica e a necessidade de fuga dos jovens para um mundo de fantasia. “O unicórnio, o mundo de fantasia, é um refúgio para o jovem que vive um momento complicado”, afirma Lydia Caldana.

Para Bruno Pompeu, coordenador do curso de coolhunting do Istituto Europeo di Design e sócio da Casa Semio, essa é a chave para entender a tendência de cultuar esses seres mitológicos e toda a estética “algodão doce” que os acompanha.
“Na história, sempre que ocorrem contextos muito críticos, as manifestações de fuga são muito fortes também. O que está por trás da ideia do unicórnio? É esse sentido mais infantil, mais lúdico, de pureza, de fuga, de escapar da realidade”.

Ele lembra que o apego aos símbolos de fuga vem de bastante tempo, mas com outra cara. “Há sete, oito anos, era a saga Crepúsculo, os vampiros, a noite, essa coisa mais sombria. Agora o escapismo tem outra cara, mais leve, mais doce”.

O pesquisador ressalta que, diferentemente de outras tendências, que surgem nos meios de comunicação de massa, o retorno do símbolo do unicórnio é um fenômeno digital, surgido nas redes sociais. “Por isso foi uma surpresa para algumas pessoas sairem na rua e verem tantos unicórnios juntos”.

Pessoalmente, cito três referências essenciais do unicórnio para mim:


• Uma das obras mais famosas da arte medieval francesa: a série de seis tapeçarias La Dame à la Licorne/A dama e o Unicórnio, que mostram uma mulher nobre ao lado de um unicórnio e representam os sentidos. Estima-se que tenham sido tecidas no século 15. Não me cansei de visitá-las no Museu de Cluny (hoje Museu Nacional da Idade Média), na rue de Cluny, uma transversal do Boul’ Mich (Boulevard Saint Michel), em Paris.


• O bom velho Scotch: o unicórnio é o animal oficial da Escócia e está presente no brasão de armas do Reino Unido simbolizando esse país, ao lado do leão, símbolo da Inglaterra. Se Vinícius disse que o uísque é o “cachorro engarrafado”, eu digo que o unicórnio escocês é o melhor amigo do homem.

• Last but not least, o genial miniconto de James Thurber – um clássico da literatura de humor do século 20 – O unicórnio no jardim, que transcrevo a seguir:

O unicórnio no jardim
JAMES THURBER

Numa bela manhã, um homem que tomava seu café olhou para fora da janela e viu - quem dera! - um unicórnio branco, com um chifre dourado, mascando tranquilamente as rosas do seu jardim. Esse senhor foi então acordar sua mulher e disse: "Tem um unicórnio no jardim, comendo nossas rosas". Irritada, ela retrucou: "O unicórnio é um animal mitológico". E, virando-se para o outro lado, voltou a dormir. 

Intrigado, o marido caminhou lentamente até o jardim. O unicórnio estava ali, beliscando suas tulipas. "Pssit, unicórnio", chamou ele, oferecendo um lírio, que o animal comeu solenemente.

Com o coração saltitante - obviamente, porque, afinal de contas, havia um unicórnio em seu jardim - o homem foi novamente despertar sua mulher. "O unicórnio comeu um lírio", anunciou ele. Só que agora ela ficou realmente irritada. "Você é um demente e eu vou te internar no manicômio!" O marido, que nunca apreciou muito a ideia de manicômios - especialmente num dia tão lindo, com um unicórnio em seu jardim - refletiu por um momento e disse: "Isso é o que veremos". Mas, antes de descer as escadas, completou: "E ele tem um chifre dourado no meio da testa".

Ao chegar novamente ao jardim, o unicórnio já tinha ido embora. O homem se sentou em meio às rosas e adormeceu. Sua mulher se vestiu rapidamente. Estava bastante irritada e regozijava-se por ter a chance de pegar seu ridículo marido. Ligou para a polícia e depois para o psiquiatra, instruindo-os para que chegassem logo com uma camisa-de-força. Quando chegaram, ela, já muito agitada, foi logo dizendo: "Meu marido viu um unicórnio hoje de manhã!". O policial e o psiquiatra se entreolharam, descrentes. "Ele me disse que o unicórnio havia comido um lírio", continuou ela. 

De novo, psiquiatra e policial trocaram um olhar desconfiado. "E também disse que o bicho tinha um chifre dourado no meio da testa!", insistiu mais uma vez. Subitamente, o policial e o psiquiatra levantaram de suas poltronas e a agarraram. Ela resistiu violentamente, mas no final eles conseguiram dominá-la e a enfiaram numa camisa-de-força. Foi nesse momento que o marido entrou, chegando do jardim. "Você por acaso disse a sua mulher que viu um unicórnio?", perguntou-lhe ceticamente o policial. "O unicórnio é um animal mitológico", respondeu seriamente o marido. "Isso era tudo o que precisávamos saber", replicou o psiquiatra. "Estamos internando sua mulher, ela surtou de vez." 

Chutando e berrando, ela foi levada ao manicômio para exames. E que fim teve o marido? Viveu feliz para sempre.