por Eli Halfoun
Embora até por obrigação
profissional eu acompanhe novelas há muitos anos confesso que ainda não
consegui entender o mecanismo que leva os autores a esticarem tramas das quais
os telespectadores já sabem o desfecho mesmo porque muitas vezes o chamado
desfecho é o início de um lenga-lenga sem fim. Quer dizer, a trama se desenvolve
do final para o início como se existisse uma máquina de retroceder o tempo. Agora mesmo em “Sangue Bom”, por exemplo, há
um “mistério” envolvendo a paternidade do personagem Bento, que todo mundo já
sabe é filho de Wilson e não de Plínio. Ainda assim os autores, que fazem um
ótimo trabalho, insistem em uma trama que não faz mais sentido, se bem que agora
a questão é saber como a confusão será desfeita. Sei que é necessário que as
novelas criem dúvidas e mistérios para manter a curiosidade do público.
Acontece que muitas vezes essa cartilha funciona ao contrário: o público que já
sabe a verdade se cansa de tanta enrolação e perde o interesse pela novela, ou
melhor, só volta ter interesse nos capítulos finais porque o que acontecerá até
o final já não motiva tanto.
Esse viciado procedimento
é que determina o sobe e desce de audiência, o que às vezes é muito perigoso
porque faz a novela parecer um fracasso. Talvez o ideal fosse resolver as
tramas rapidamente e criar novos momentos que possam interessar ao público,
criando dentro da novela uma novelinha por semana. Novelas precisam ter ritmo
ágil, o que certamente seria conseguido se em vez de enrolação houvesse solução.
A solução não impediria de forma nenhuma que a trama geral continuasse interessante
e se desse um novo destino e uma história à cada personagem. Afinal, a vida caminha
para frente e como as novelas pretendem ser um retrato ficcional (às vezes exagerado,
é verdade) não podem ficar estagnadas, ou seja, também precisam caminhar a
frente, para o futuro. Sem perspectiva de futuro tanto a vida quanto as novelas
ficam chatíssimas. (Eli Halfoun)