Edifício Manchete depois da reforma. Foto: Reprodução revista Veja |
Parte da história do jornalismo brasileiro foi retrofitada. A Veja dessa semana publica uma matéria sobre prédios do Rio reformados segundo a técnica de retrofit, que moderniza edifícios. O Edifício Manchete desenhado por Oscar Niemeyer e construido por Adolpho Bloch nos anos 60, sede das redações das revistas da Bloch, de setores administrativos da empresa e, posteriomente, da Rede Manchete, ganhou novos vidros, geradores próprios, sistema de coleta de água de chuva, novos elevadores e ar condiciondo central. Foi construido nos fundos um edifício-garagem de doze andares e um bicicletário. Pisos de jacarandá e revestimentos de mármore foram restaurados, assim como os jardins internos projetados por Burle Marx e o teatro. A reforma custou 100 milhões de reais. O prédio já recebeu seus novos inquilinos: as multinacionais British Petroleum e Statoil. O Edifício Manchete havia sido leiloado há alguns anos com o objetivo de arrecadar recursos para pagamento de parte das indenizações aos ex-funcionários da Bloch. Alcançou um lance de pouco mais de 60 milhões de reais. Surpreendentemente, em pouco tempo, o comprador revendeu o edifício por cerca de 200 milhões de reais, o que levou indignação aos trabalhadores da extinta Bloch diante da modesta avaliação inicial do imóvel. Está aí a imagem, por certo significativa para centenas de leitores deste blog que passaram parte de suas vidas profissionais na Rua do Russell.
"Monumentos" aos veículos desaparecidos
De certa forma, o prédio da Manchete se renova, o que, curiosamente, não é muito comum entre empresas de comunicação falidas. No Rio, por exemplo, há vários "monumentos" a veículos desaparecidos. O prédio do Jornal do Brasil, na Av. Brasil, foi depredado, virou um esqueleto e passa por reforma para se transformar em um hospital; a sede do Correio da Manhã é um casarão fechado desde os anos 70 na rua Gomes Carneiro (Carlos Heitor Cony conta que o visitou não faz muito tempo e se deparou com sua antiga mesa e ordens de serviço e avisos ainda colados nas paredes da redação); a antiga TV Tupi, na Urca, estava em ruínas e foi reformada para receber um escola de design. Mas apenas metade do prédio foi recuperada, o velho auditório e salão do Cassino estão lá com seus fantasmas empoeirados. A sede do Última Hora padece alí perto da Rodoviária Novo Rio; a Tribuna da Imprensa está selada e vazia na Rua do Lavradio. O antigo prédio do O Cruzeiro, na Rua do Livramento, ainda abriga a Rádio Tupi e o Jornal do Commércio mas as poderosas máquinas de rotogravura já não fazem tremer os pavimentos. Como o da Manchete, o edifício do O Cruzeiro foi projetado por Niemeyer. O Diário de Notícias ficava na Rua Riachuelo, foi lacrado por uns tempos e hoje é sede da Folha Dirigida; a Ebal, lembram?, que editava títulos inesquecíveis da era de ouro dos quadrinhos (Falcão da Noite, The Flash, Superman, Flash Gordon, O Fantasma), ocupava um grande complexo em São Cristóvão, perto do estádio do Vasco. O prédio está lá, hoje divide-se entre um escola e uma gráfica. A Rádio Nacional já não é a potência que era nos anos 40 e 50, continua funcionando no Edifício A Noite, na Praça Mauá, mas o jornal que deu nome a um dos primeiros arranha-céus do Brasil há muito virou história. A Editora Vecchi ficava na Rua do Riachuelo, não sei o que ocupa seu ponto hoje. Já a TV Excelsior se instalou no antigo Cine Astória, ali pelo número 500 e tantos da Visconde de Pirajá. Quando fechou, o local voltou a ser ocupado por um cinema, o Super Bruni 70 que, demolido, deu lugar a um espigão. A TV Continental funcionava na Rua das Laranjeiras. Não sei o que virou. A TV Rio, que se instalou no Posto Seis, no antigo prédio do Cassino Atlântico, que foi demolido e, no lugar, construido o prédio do hotel Sofitel, hoje Accor.
Certamente, espalhados pela cidade, há outros exemplos que escapam a este retrofit da memória jornalística.