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quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
O que os Novos Anos 20 terão a ver com os Loucos Anos 20...
por José Esmeraldo Gonçalves
A edição de janeiro da revista britânica Tatler convidou Nicole Kidman para ilustrar uma capa temática sobre os Novos Anos 20.
A ilação remete a uma era do século passado quando o mundo desbundou de vez. A gíria não existia, mas serve para definir o período entre 1919 e 1929, os Loucos Anos Vinte, quando o planeta parecia girar mais rápido e acelerar mudanças sociais, industriais e culturais.
Depois da tragédia e do sofrimento provocados pela Primeira Guerra, a Europa mandava a mensagem dos seus Années Folles: cair de boca na vida antes que outra guerra acabe com a festa. E o mundo entendeu o recado. Os Estados Unidos embarcaram nos Roaring Twenties e até o Rio de Janeiro, como conta o novo livro de Ruy Castro - Metrópole à Beira-Mar - o Rio Moderno dos Anos 20 - também pirou na modernidade. Que não se entenda mal, aquelas gerações bebiam, dançavam, amavam as drogas e o sexo e com o mesmo dinamismo faziam a literatura, a arte, a música, a arquitetura, o comportamento, os direitos sociais, as indústrias cinematográfica e automobilística, a telefonia, o rádio e o jornalismo avançarem anos-luz. Eram os tempos de Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e Gertrude Stein. Sinclair Lewis, art déco, expressionismo, surrealismo, jazz, Bauhaus, Henry Ford, Man Ray, Max Ernst, Pablo Picasso, André Breton, Joan Miró, Marcel Duchamp e Salvador Dali, entre tantos outros. Aqui, o agito cultural era ditado por nomes como João do Rio, Lima Barreto, Gilka Machado, Álvaro e Eugenia Moreyra, Bidu Sayão, Vila-Lobos, Agripino Grieco, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Sinhô e Pixinguinha. O Rio, como conta Ruy Castro, fazia sua parte e tocava o Brasil para a frente.
Os Loucos Anos 20 chegaram ao fim em uma data precisa: 29 de outubro de 1929, a Terça-Feira Negra que quebrou a Bolsa de Valores de Nova York e espalhou pelo mundo um rastilho que transformou economias em cinzas e desempregou milhões de pessoas.
Não se sabe como serão nem como terminarão os New Twenties que a Tatler anuncia. Aqueles, os do século passado, acabaram em ditaduras e guerras das quais o mundo precisou novamente se recuperar nos anos 1950. Esses que agora começam estão sob a sombra dos avanços da direita, do fundamentalismo religioso, da intolerância e de uma economia que nega prosperidade para bilhões de pessoas, concentra riquezas em pequeno percentual de bolsos e cofres e, por último mas não menos importante, despreza os impactos do aquecimento global. Mas aí é outro capítulo.
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