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quinta-feira, 22 de março de 2018

40 anos depois do incêndio devastador, crise financeira ameaça o MAM. Segundo a direção, só Jackson Pollock salva a instituição

A Manchete, assim como a Fatos & Fotos, estampou na capa o incêndio do MAM
que começou na madrugada do dia 8 de julho de 1978. 

O MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) vai relembrar em julho uma data que a Arte não comemora: no dia 8 daquele mês, em 1978, um incêndio destruiu o prédio e transformou em cinzas cerca de mil peças do acervo, entre as quais obras de Picasso, Salvador Dali, Portinari, Max Ernst, René Magritte, Ivan Serpa, Manabu Mabe, Miró, além de telas do uruguaio Torres Garcia, que eram exibidas em uma exposição.

Na época, os críticos lançaram uma acusação; a administração do Museu estava delegada a amadores.

Quando os bombeiros apagaram as chamas restavam apenas algumas dezenas de obras. O incêndio chocou o mundo e tirou o Brasil, durante anos, do circuito de exposições internacionais.

As causas do desastre jamais foram confirmadas - especulou-se em curto-circuito ou cigarro - nunca se soube se o sistema anti-incêndio era precário ou inexistia,  ninguém foi responsabilizado, os burocratas seguiram em frente e restou a Arte como a vítima maior.

Quarenta anos depois, novas chamas ameaçam o MAM. Dessa vez, são labaredas financeiras.
O museu é uma instituição privada. Mas, ao contrário de prática comum nos países desenvolvidos, não recebe expressivas doações de empresários. A cidadania e a cultura corporativa brasileira não alcançam tal nível. Já não é fácil encontrar por aí empresários como um Raimundo de Castro Maia, peça-chave na criação do museu, ou uma Niomar Muniz Sodré, que foi decisiva na sustentação do  MAM. O museu, como outras instituições culturais, é  mantido por patrocínios formatados geralmente em programas de renúncia fiscal. Ou seja, o pouco de verba que tem para se manter vem principalmente do caixa público.

Jackson Pollock, "Pintura N° 16", 1950. Foto/Divulgação/MAM

O MAM anuncia que venderá uma das suas valiosas telas - "N°16", de Jackson Pollock, avaliada em R$25 milhões - para cobrir custos e fazer investimentos na instituição. A direção alega que vai se desfazer do quadro para garantir a sobrevivência do museu. E usa um argumento, no mínimo, cínico, ao comentar que a obra do mestre do expressionismo abstrato nem chega a ser solicitada por outros museus para exposições. Só faltou dizer que não é lá essas coisas. Isso não é papo de vendedor. Ao contrário, é uma postura incomum para quem pretende vender uma obra pelo melhor preço. Se o objeto à venda é desvalorizado em entrevistas, o eventual comprador se sentirá no direito de pedir um bom desconto ou aguardar a Black Friday.

O Ministério da Cultura apoia a venda, Um grande jornal de São Paulo também. Sem surpresas. O Brasil vive essa fase rentista. Tudo está no balcão em busca de freguês.

De preferência, na hora da xepa.