Poema de Carlos Drummod de Andrade publicado em 30 de setembro de 1964 no Correio da Manaha. Naqauela semana, o então fotógrafo da Manchete abria uma exposição no Rio de Janeiro visitada pelo poeta. No mesmo ano, Aécio foi para Paris, onde trabalhou na sucursal da revista.
Alécio de Andrade no Museu do Louvre, em 1969. Foto: Acervo Alécio de Andrade |
O que Alécio vê (Carlos Drummod de Andrade)
A voz lhe disse ( uma secreta voz):
– Vai, Alécio, ver.
Vê e reflete o visto, e todos captem
por seu olhar o sentimento das formas
que é o sentimento primeiro – e último – da vida.
E Alécio vai e vê
o natural das coisas e das gentes,
o dia, em sua novidade não sabida,
a inaugurar-se todas as manhãs,
o cão, o parque, o traço da passagem
das pessoas na rua, o idílio
jamais extinto sob as ideologias,
a graça umbilical do nu feminino,
conversas de café, imagens
de que a vida flui como o Sena ou o São Francisco
para depositar-se numa folha
sobre a pedra do cais
ou para sorrir nas telas clássicas de museu
que se sabem contempladas
pela tímida (ou arrogante) desinformação das visitas,
ou ainda
para dispersar-se e concentrar-se
no jogo eterno das crianças.
Ai, as crianças… Para elas,
há um mirante iluminado no olhar de Alécio
e sua objetiva.
(Mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos de Alécio?)
Tudo se resume numa fonte
e nas três menininhas peladas que a contemplam,
soberba, risonha, puríssima foto-escultura de Alécio de Andrade,
hino matinal à criação
e a continuação do mundo em esperança.
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