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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Mídia: Em tempo de corpo de jurados do jornalismo notícia precisa de manual de instrução

 

O repórter Álvaro Gribel, do Globo, fez a exclusiva com Haddad

Retrospectivas do ano foram inventadas em redações de jornais e revistas para facilitar folgas das equipes nas festas de Natal e Ano Novo. A TV assimilou depois a fórmula confortável. 
          
          Mesmo em dia de jornalismo retrofitado, o repórter Álvaro Gribel, do jornal Globo, correu atrás da notícia e obteve um entrevista exclusiva com Fernando Haddad. Seu radar de apurador  detectou mágoas do ministro com o PT. Todo mundo sabe que mágoa é coisa que vem à tona em fim de ano. As  ceias tradicionais costumam ser gatilho para "desabafos". E foi o que Haddad fez, desabafou no Globo . Boa matéria.

Mas quem ganhou um presentaço, no caso, foram os programas de comentaristas como Estúdio I e outros em todos os canais. Geralmente esses coletivos de talk shows reúnem um tipo de júri dos fatos publicados. Eles ainda não dão notas às notícias nem, por enquanto, têm auditório, mas lembram as bancadas de Sílvio Santos ou Raul Gil. Estão lá para fazer a resenha dos acontecimentos e mostrar ao povão os mais variados e às vezes delirantes contextos que, na visão deles, os textos ocultam. Na prática, são cuidadores: eles se dão à nobre missão de amparar o telespectador desorientado. 

A pauta do Globo com Haddad foi replicada em vários desses programas. Houve quem pegasse carona na matéria do repórter sem sequer citar o esforço do próprio para obter algo mais do que conversa jogada fora em roda de violão de analistas. 

É isso: a notícia hoje é um adereço factual. O repórter é a "ala da força" que vem atrás da grande alegoria: a "interpretação" da notícia. Não mais importa o que um entrevistado diz, mas o que ele "quis dizer". Às vezes, por exemplo, o analista abre sua fala com um didático e telepático "o que Lula quis dizer".

Não se sabe como eles apuram honestamente um "quis dizer".