E nos cinemas? Na bilheteria, a jovem atendente olha para nossas identidades e parece pensar: esses velhos não têm mais nada para fazer do que ocuparem o espaço das pessoas “normais”? Velhos são minoria nas filas dos cinemas. E os filmes? No nosso tempo, assistíamos, “O Homem que Sabia Demais” (com a canção Que será, será”, entoada por Doris Day, lembram?) , “E o Vento Levou”, “A dor de uma saudade”, “Dançando na chuva”... Hoje, muita violência, muitos efeitos especiais, muito computador, e olhe lá. Não tem escolha! O som é ensurdecedor. Mas tem o pacotão de pipocas...
Não se pode negar que as facilidades aumentaram: a escada rolante, lojas bonitas, limpas, com um visual belíssimo, um pouco mais de segurança, porém um convite aos gastos necessários e desnecessários. Haja dinheiro... O que assusta são as placas de aviso de piso molhado, às vezes vistas depois do tombo, sem tempo para pensar...
Eu sou do “tempo do onça”, dos bondes abertos. No
Carnaval era a batalha de “lança-perfume” e confete, tempo do Hi-Life, na
Glória, verdadeiro escândalo na época, da zona do Mangue. O vai-e-vem na Av.
Rio Branco, que continua até hoje, porém com muito mais gente. O primeiro jogo de futebol a que assisti foi América 6 x 0 Bonsucesso,
na Av. Teixeira de Castro. Fui de trem, com meu pai. Ele era América e tentava
fazer com que eu também torcesse pelo América, e quase conseguiu, até o dia que
assistindo um treino do América Jr. levei uma bolada no nariz e
desmaiei; nunca mais fui ao Andaraí, campo do América que tinha na sua equipe:
Vicente, Domício e Grita, Oscar, Dino e Amaro, China, Maneco, Cesar, Lima e
Jorginho. Sou do tempo em que o goleiro do Flamengo era o Luiz Borracha, Newton
e Norival, Biguá, Bria e Jaime, Adilson, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé.
Havia
o Trampolim do Diabo, descida da Barra, ponto de encontro das antigas corridas
de “baratinhas” onde o“cara” era o Chico Landi. Na música: Orlando Silva,
Sílvio Caldas e Dalva de Oliveira e Emilinha Borba. Hoje tem o Michell Teló...
Na política: Getúlio Vargas. Sou do tempo da PRK-30, dos impagáveis Lauro
Borges e Castro Barbosa, das novelas da Rádio Nacional, do “Direito de Nascer”,
do “Suplício de uma Saudade”, da Ísis de Oliveira, da Ismênia dos Santos, do
Roberto Faissal, do Paulo Gracindo...do Repórter Esso, da Rádio Sequência G3,
dos Espetáculos Tonelux!
Sou do tempo da Brilhantina, da Glostora e do
Gumex. Sou do tempo em que só mulher usava brinco. Tempo em que Coca era só um
refrigerante e picada era injeção na bunda. Bicha era feminino de bicho. A
grande verdade é que todos serão velhos um dia, Como dizia meu pai, "a
velhice é inevitável". Quando somos
jovens, a preocupação não é muito grande, afinal somos jovens, fortes, temos
disposição para tudo, às vezes nem damos conta que o tempo passa rápido e que o
presente, amanhã já é passado e com o passar dos anos os problemas de saúde e
físicos que só aconteciam com os mais velhos, passam a acontecer conosco.
Lembro dos colegas das redações como eram e vejo como estão agora. Todos
velhos, carecas ou de cabelos brancos, as meninas um pouco mais em forma. Todos
acham que ganharam em “experiência”. Começo a me perguntar: “Que sacanagem
fizeram conosco! ”. Em tão pouco tempo... Comigo começaram a aparecer os
cabelos brancos, as primeiras rugas, a cabeleira começou a rarear, principalmente
ali, na "grande área". O que fazer? Começamos a ter lapsos de
memória, sinal de que o Alzheimer está a caminho. Problemas com a próstata, a
ereção, e tudo ao mesmo tempo...” E os carros? Cada vez
mais velozes. Lembro do Citröen do Ezio, que adorava um “empurrãozinho” e do
meu Apolo, que não pode passar por uma oficina, se estiver com a porta aberta,
ele entra... Na rua, as pessoas olham para o meu carro com uma pontinha de
curiosidade... A expectativa de vida do brasileiro é de 72 anos.
Estou com 74, logo já estou devendo. A saúde começa a dar sinais de contagem
regressiva e temos que ser rápidos, a fila está andando. Enfim, “C’est la vie”.
Chega de saudosismos! O mundo é dos jovens, com suas formas de viver, suas
preferências, seus ídolos, suas roupas, suas “pizzas” , a tecnologia fantástica
de hoje, seus filmes e manias. Do nosso tempo, ficam
a saudade e a lembrança das coisas boas de uma longa vida, que se esvai,
enfrentando os novos tempos com disposição e coragem. No Natal não esqueça de dar para a sua esposa, que continua “um broto,
há muito tempo”, um vidro de Alfazema, (dos grandes) ela vai adorar... (Nelio Barbosa Horta, de Saquarema)