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domingo, 20 de outubro de 2019

Carne artificial - Se a Veja tivesse esperado 35 anos não pagaria o mico do "Boimate": a mancada mais saborosa do jornalismo brasileiro

Reprodução

Na semana passada O Globo anunciou um novo colunista: Eurípedes Alcântara, ex-Veja. O jornal apresentou o articulista aos leitores e descreveu seu currículo. O próprio jornalista, ao comentar a nova função, contou que costuma se ligar em novidades que "realmente mudam o nosso dia a dia". Acrescentou que "pretende ser um antena para levar utilidades ao leitor". Nada mais inerente à condição de jornalista. Mas ter critério é sempre recomendável. E faltou um item importante no currículo.

Em 1984 Eurípedes se apressou a levar um novidade ao leitor e causou uma das maiores mancadas da revista Veja. O feito se tornou conhecido em redações e faculdades como o "Caso Boimate". Na ocasião, o agora colunista do Globo leu uma matéria da revista britânica New Scientist sobre um cruzamento de genes do boi com células do tomate e se empolgou com o "avanço científico". No texto, detalhou que o novo fruto, chamado "Boimate",  tinha "50% de proteína vegetal e 50% de proteína animal" e saudou a experiência dos cientistas: "permite sonhar com um tomateiro do que já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate".

O jornalista fechou a matéria e, enquanto a Veja era impressa, provavelmente dormiu embalado pela perspectiva de um mundo de "boimanga", "jabutivaca", "boicaxi" e outros frutos híbridos.

Soube-se depois que a reportagem original da revista New Scientist era apenas uma brincadeira de 1° de Abril, tradição na imprensa inglesa que Eurípedes levou a sério e fez a Veja pagar um dos maiores micos da história do jornalismo.

Em 2015, o ilustrador Paulo Nilson revelou no Facebook que desenhou mas não assinou a ilustração acima: achou a história tão fantástica que preferiu dispensar o crédito.

E Eurípedes Alcântara ficou com as subidas honras de segurar o "boimate" sozinho.

Se tivesse esperado uns 35 anos, o jornalista escaparia, em parte, da gozação. Recentemente, revistas científicas, fora do 1° de Abril, revelaram técnicas de produção de carne artificial a partir do cultivo de células animais em laboratórios.

Sem o delirante molho de tomate da Veja.