por Roberto Muggiati
Imaginem, um colega querido, Lorem Falcão, e só hoje fico sabendo que ele morreu há dois anos. Nosso Jesus, José Carlos, Presidente da Comissão dos Ex-Empregados de Bloch Editores, mandou este e-mail:
“Hoje, fui procurar pelo nosso amigo Lorem Falcão. Fui a Vila Isabel o último endereço que eu tinha dele (em 2010 ele já havia perdido a esposa). Infelizmente, em 2012, veio a óbito.
Consegui com os porteiros o telefone de um dos dois filhos dele (Israel) passei as
informações para ele e o irmão se habilitarem à Massa Falida. Eles não tinham nem ideia e
informação a respeito da MFBloch. Lorem estava se tratando no hospital da Marinha (um dos filhos é da Marinha e ele tinha esse benefício) Lamentável: ele tinha duas hérnias na coluna vertebral e estava sendo tratado por mal de Alzheimer. Resultado, depois da correção do diagnóstico, foi para a cirurgia das hérnias, onde ele pegou uma infecção hospitalar, vindo a falecer em dezembro 2012. Eu estava angustiado sem notícias dele.”
Lorem foi uma das pessoas mais suaves que conheci. Dono de um belo texto, sensível, fruto de um conflito íntimo: parecia arcar, cada vez mais, com as dores deste insensato mundo. Tornou-se pastor de uma destas igrejas evangélicas, não sei qual, mas coisa séria, para ele. Foi o primeiro e único “bíblia” que tivemos, infiltrado naquela redação de comunistas e ateus. Falava com orgulho de sua cidade natal, Figueira do Rio Doce, nome poético que foi apagado por puxa-saquismo político para se tornar Governador Valadares (será o Benedito?)
Lembro um episódio que o define bem. Os repórteres de São Paulo vinham fechar suas matérias no Rio e ficavam hospedados no Hotel Novo Mundo, ao lado do prédio da Manchete. Uma repórter a quem Lorem ajudava a fechar os layouts, redigir as legendas no número de toques exato requerido, melhorar o texto e o punch da matéria, começou a passar mal, com uma cefaleia mortificante e avassaladora. Lorem – sem segundas intenções, não tinha nem primeiras – levou-a ao salão de estar do décimo andar, sentou-a numa poltrona e começou a massagear docemente sua cabeça. Aliviou a moça da sua dor e garantiu que, a partir dali, tudo ficaria bem para ela. Ao voltar a São Paulo, no dia seguinte, a moça foi notificada que estava demitida.
Eu achava interessante o seu universo familiar, a esposa para toda a vida, o filho que era técnico de futebol de um time da divisão “fraldinha” – foi a primeira vez que soube que existia essa categoria, abaixo do infantil. Recomendei-o como redator para outro mineiro, o empresário Ruy Barreto, que gostou do seu texto. Mas, no quesito dos negócios – aquela coisa de combinar prazo e preços – o Lorem se sentia totalmente perdido.
Uma alma pura, neste mundo que... bem, vocês estão cansados de saber...
Imaginem, um colega querido, Lorem Falcão, e só hoje fico sabendo que ele morreu há dois anos. Nosso Jesus, José Carlos, Presidente da Comissão dos Ex-Empregados de Bloch Editores, mandou este e-mail:
“Hoje, fui procurar pelo nosso amigo Lorem Falcão. Fui a Vila Isabel o último endereço que eu tinha dele (em 2010 ele já havia perdido a esposa). Infelizmente, em 2012, veio a óbito.
Consegui com os porteiros o telefone de um dos dois filhos dele (Israel) passei as
informações para ele e o irmão se habilitarem à Massa Falida. Eles não tinham nem ideia e
informação a respeito da MFBloch. Lorem estava se tratando no hospital da Marinha (um dos filhos é da Marinha e ele tinha esse benefício) Lamentável: ele tinha duas hérnias na coluna vertebral e estava sendo tratado por mal de Alzheimer. Resultado, depois da correção do diagnóstico, foi para a cirurgia das hérnias, onde ele pegou uma infecção hospitalar, vindo a falecer em dezembro 2012. Eu estava angustiado sem notícias dele.”
Lorem foi uma das pessoas mais suaves que conheci. Dono de um belo texto, sensível, fruto de um conflito íntimo: parecia arcar, cada vez mais, com as dores deste insensato mundo. Tornou-se pastor de uma destas igrejas evangélicas, não sei qual, mas coisa séria, para ele. Foi o primeiro e único “bíblia” que tivemos, infiltrado naquela redação de comunistas e ateus. Falava com orgulho de sua cidade natal, Figueira do Rio Doce, nome poético que foi apagado por puxa-saquismo político para se tornar Governador Valadares (será o Benedito?)
Lembro um episódio que o define bem. Os repórteres de São Paulo vinham fechar suas matérias no Rio e ficavam hospedados no Hotel Novo Mundo, ao lado do prédio da Manchete. Uma repórter a quem Lorem ajudava a fechar os layouts, redigir as legendas no número de toques exato requerido, melhorar o texto e o punch da matéria, começou a passar mal, com uma cefaleia mortificante e avassaladora. Lorem – sem segundas intenções, não tinha nem primeiras – levou-a ao salão de estar do décimo andar, sentou-a numa poltrona e começou a massagear docemente sua cabeça. Aliviou a moça da sua dor e garantiu que, a partir dali, tudo ficaria bem para ela. Ao voltar a São Paulo, no dia seguinte, a moça foi notificada que estava demitida.
Eu achava interessante o seu universo familiar, a esposa para toda a vida, o filho que era técnico de futebol de um time da divisão “fraldinha” – foi a primeira vez que soube que existia essa categoria, abaixo do infantil. Recomendei-o como redator para outro mineiro, o empresário Ruy Barreto, que gostou do seu texto. Mas, no quesito dos negócios – aquela coisa de combinar prazo e preços – o Lorem se sentia totalmente perdido.
Uma alma pura, neste mundo que... bem, vocês estão cansados de saber...
Lorem Falcão, o segundo na foto, da esquerda para a direita, na redação da Manchete, ao lado de Esmeraldo, Muggiati, Zé Rodolpho, Sergio, Telma, Otávio, Maria Helena e Alberto. |