por Flávio Sépia
O Grupo RBS foi ao cinema, gostou do que viu em Spotlight, e anunciou em grande estilo o lançamento de um Grupo de Investigação nas suas redações. Tem até logotipo (aí ao lado).
O modelo de um núcleo de repórteres para apurar matérias investigativas é um prática consagrada em jornais americanos, como o Boston Globe. O filme, como se sabe, aborda a apuração de um escândalo de pedofilia pelo grupo especial de jornalistas do BG que enfrentou a poderosa igreja católica local.
Embora a expressão "jornalismo investigativo" não existisse na época, o exemplo mais que perfeito do método é o trabalho dos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post, no célebre Caso Watergate, nos anos 1970.
O vice-presidente da RBS, Marcelo Rech, diz que "o jornalismo investigativo fundamental para a sociedade, especialmente em uma era em que as desinformações circulam em larga escala pelas redes sociais".
Não só nas redes sociais. Ele esqueceu de dizer que o jornalismo praticado pela grande mídia brasileira também leva, numerosas vezes, o carimbo da desinformação.
Em muitos casos, até uma desinformação consciente e pautada por interesses financeiros, políticos e partidários.
Qualquer jornalista experiente sabe que não é fácil, nesse ambiente fartamente conhecido e exemplificado, acreditar que um grupo de jornalistas terá independência e autonomia para apurar os fatos.
Por exemplo: uma investigação de sonegação continuada de impostos por parte de grandes corporações alinhadas seria uma pauta aprovada?
Diz o RBS que denúncias e sugestões de pautas podem ser enviadas para o email gdi@gruporbs.com.br
Ôba! Do "Helicoca" às contas secretas brasileiras dos Panama Papers, das pendências do CADE ao numerário verde-amarelo do HSBC na Suíça, do cartel dos trens em São Paulo à captação dos subterrâneos da Lei Rouanet, das fraudes no SUS aos "penduras" bilionários no BNDES. Apenas exemplos aleatórios...
O que não falta é pauta, isso fora as mutretas não catalogadas que devem estar em andamento por aí.
Inspirado pelo filme Spotlight, a RBS promete ligar holofotes sobre as sombras do jornalismo.
Que os refletores não sejam seletivos.
O comunicado de criação do Grupo de Investigação não informa se a cúpula da RBS viu mesmo Spotlight.
No filme, os repórteres enfrentam não apenas a poderosa igreja católica, mas sofrem enormes pressões da própria direção do Boston Globe.
Só foram em frente porque contaram com a integridade de um editor. E isso já não é tão comum na dura vida real da grande mídia idem...