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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Mídia: tragédia e escândalo da política não entram em recesso de fim de ano...

2018 está virando a esquina, mas ainda mostra que o noticiário político não entrou em recesso. A temperatura aumentou na mídia e parece antecipar que 2019 não vai ser para amadores. Dois fatos, cada um nas suas características, respingam no jornalismo.

* Em Vitória (ES), o assassinato do ex-senador e ex-governador Gérson Camata.

* A inacreditável entrevista de Fabrício Queiroz ao SBT.

Em 2009, a denúncia do assassino de
Gérson Camata. Na Justiça, o delator
não comprovou a acusação e perdeu
processo por calúnia, injúria
e difamação.
No primeiro caso, o assassino Marcos Vinicius Moreira Andrade, ex-assessor do político, confessou que atirou porque teve 60 mil reais bloqueados pela Justiça como consequência de processo que o ex-senador lhe movia por calúnia, injúria e difamação. O matador, que perdeu a causa, havia denunciado ao Globo suposto envolvimento de Camata em cobrança de propina a empreiteiros e apropriação de dinheiro de funcionários do seu gabinete. Processado, não conseguiu provar as acusações.

Marcos Vinicius é o primeiro delator que passa da palavra à ação e fuzila o denunciado. Mas a morte do político capixaba não é a única que sucede a uma delação. O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, foi preso, pressionado e despido, no ano passado, sob a acusação de "obstruir" a investigação. A mídia conservadora veiculou amplamente a versão policial, sem contestação. Protestado inocência, mas sentindo-se humilhado e abatido, segundo amigos e familiares, Cancellier tirou a própria vida. O "crime" do qual foi acusado jamais foi comprovado.

Fabrício Queiroz no SBT. Reprodução
No segundo caso, o SBT é o protagonista da chanchada. A entrevista que foi ao ar, ontem, com o até então sumido Fabrício Queiroz, pivô de escândalo que atinge o novo governo, poderia muito bem ter entrado em um intervalo das trapalhadas do Chaves ou do Chapolim Colorado, programas que, de resto, sempre fizeram mais sucesso do que o jornalismo da TV de Sílvio Santos. As perguntas mais óbvias não foram feitas e as respostas mais bizarras foram gentil e docilmente assimiladas pela entrevistadora escalada. Todo suspeito tem o direito de se defender, claro. Pelo menos na entrevista ao SBT, Queiroz até abriu mão disso, ensaiou versões, não foi solicitado a fundamentá-las e nem fez questão disso. Em resumo; ele ainda não falou com o Ministério Público e, na TV, alegou que só falará com o Ministério Público. O suspense continua.