Foto de Jorge Medeiros/Reprodução O Serventuário |
Reprodução/Página 13 |
O Brasil parece dar volta na História. Ou nó.
Há 30 anos, em 1987, as ruas gritavam "Fora Sarney".
A economia estava estagnada.
Assim como Michel Temer, Sarney chegara ao Planalto sem voto.
Se, agora, a polêmica é o golpe, em 1985 a discussão se deu em torno de quem deveria assumir a presidência após a morte de Tancredo Neves. Uma corrente afirmava que Ulysses Guimarães subiria a rampa já que Sarney era o vice de um presidente eleito que não tomou posse. Soube-se, mais tarde, que o general Leônidas Pires Gonçalves, já apontado por Tancredo como ministro do Exército, resolveu o impasse e Sarney subiu ao trono na alça do féretro do mineiro.
No dia 25 de junho de 1987, Sarney visitou o Rio. Com inflação em alta e salários comprimidos, ele acabou desembarcando em uma encrenca. O ônibus presidencial foi cercado e apedrejado na saída do Paço Imperial, que havia sido reformado com recursos da Lei Sarney, o que motivou sua visita ao local.
A mídia chegou a especular que um manifestante teria usado uma picareta para quebrar o vidro do veículo. Mas o fotógrafo Jorge Medeiros, que estava mais próximo da cena, viu a janela explodir com uma pedrada. A famosa picareta jamais apareceu. Um detalhe: Sarney atribuiu a indignação dos manifestantes à impopularidade de Moreira Franco, então governador do Rio de Janeiro. A propósito, em outro nó cego dos tempos, a história trouxe Moreira de volta ao poder, agora nos gabinetes do Palácio do Planalto, onde popularidade já não importa nem conta.
É de Jorge Medeiros a foto exclusiva, reproduzida no alto, feita segundos depois do impacto. Na imagem, o staff de Sarney ainda está perplexo. Na escada do ônibus, aparece Gervásio Baptista, o lendário profissional da Manchete, com longa trajetória no fotojornalismo, então fotógrafo da Presidência da República.
Anos depois, Jorge Medeiros, cuja foto histórica foi para as primeiras páginas de vários jornais, contou em entrevista que teve que chegar o mais perto possível do ônibus porque, como frila, precisava de algo exclusivo.
"Como fotojornalista independente minha pauta tinha que ser diferente dos outros fotógrafos para que meu material encontrasse publicação. E alí a única diferença era chegar o mais próximo possível para conseguir enquadrar o povo a menos de dois metros do presidente. Consegui uma foto de um manifestante gritando a plenos pulmões e com o dedo em riste quase tocando na janela do ônibus. A grande angular e um flash Metz eram parceiros fundamentais. Foi quando a janela do presidente explodiu numa pedrada. Fui o único a fazer a foto e durante um mês me escondi em São Paulo dormindo com meu negativo e recebendo o apoio dos companheiros da Agência Angular depois que Brossard (Paulo Brossard, então ministro da Justiça) anunciou que iria confiscar todos os negativos dos jornais que cobriram o Sarney naquele dia sob o velho argumento da Segurança Nacional e para identificar manifestantes."