por Jean-Paul Lagarride
Primeiro foi o filme nacional For All/ O trampolim da vitória, de 1997, que mostra a atuação dos militares norte-americanos em 1943 na cidade brasileira de Parnamirim, nos arredores de Natal, no Rio Grande do Norte, durante a construção da maior base militar fora dos EUA em plena Segunda Guerra Mundial.
A partir do título, o filme veicula a tese de que a palavra “forró” se originou dos bailes “para todos” (“for all”) promovidos pelos gringos.
Agora a Polícia Federal embarca na mesma canoa furada. Em nova e meritória ofensiva em defesa do dinheiro público, decidiu batizar a operação de For All (o alvo são várias bandas de forró que “esqueceram” sistematicamente de declarar seus ganhos nos últimos anos e de pagar o devido imposto.)
A origem da palavra “forró” ainda é gringa, mas desta vez a fonte é outra. Citamos O Globo de hoje, quarta-feira, 19/10:
“Segundo a PF, o nome da operação, “For All” (“para todos”, em português) tem relação com a origem do nome forró. Há notícias de que, no início do século XX, engenheiros britânicos instalados em Pernambuco para construir uma ferrovia promoviam bailes abertos ao público, “for all”. O termo passou a ser pronunciado ‘forró’.”
Para desfazer este ledo e ivo engano, basta consultarmos a básica Wikipedia, que se valeu dos conhecimentos de nosso maior etimologista, Mestre Evanildo Bechara. Leiam abaixo – as versões em gringuês, inclusive, são mencionadas e devidamente contestadas.
Origem do nome
O termo "forró", segundo o filólogo pernambucano Evanildo Bechara, é uma redução de forrobodó, que por sua vez é uma variante do antigo vocábulo galego-português forbodó, corruptela do francês faux-bourdon, que teria a conotação de desentoação[1]. O elo semântico entre forbodó e forrobodó tem origem, segundo Fermín Bouza-Brey, na região noroeste da Península Ibérica (Galiza e norte de Portugal), onde "a gente dança a golpe de bumbo, com pontos monorrítmicos monótonos desse baile que se chama forbodó"[2][3][4].
Na etimologia popular (ou pseudoetimologia) é frequente associar a origem da palavra "forró" à expressão da língua inglesa for all (para todos).[2] Para essa versão foi inventada uma engenhosa história: no início do século XX, os engenheiros britânicos, instalados em Pernambuco para construir a ferrovia Great Western, promoviam bailes abertos ao público, ou seja for all. Assim, o termo passaria a ser pronunciado "forró" pelos nordestinos. Outra versão da mesma história substitui os ingleses pelos estadunidenses e Pernambuco por Natal (Rio Grande do Norte) do período da Segunda Guerra Mundial, quando uma base militar dos Estados Unidos foi instalada nessa cidade.[5]
Apesar da versão bem-humorada, não há nenhuma sustentação para tal etimologia do termo. Em 1912, estreou a peça teatral "Forrobodó", escrita por Carlos Bettencourt (1890-1941) e Luís Peixoto (1889-1973), musicada por Chiquinha Gonzaga[6] e em 1937, cinco anos antes da instalação da referida base militar em território potiguar, a palavra "forró" já se encontrava registrada na história musical na gravação fonográfica de “Forró na roça”, canção composta por Manuel Queirós e Xerém[3].
Histórico
Os bailes populares eram conhecidos em Pernambuco por "forrobodó" ou "forrobodança" ou ainda "forrobodão"já em fins do século XIX.[7]
O forró tornou-se um fenômeno pop em princípios da década de 1950. Em 1949, Luiz Gonzaga gravou "Forró de Mané Vito", de sua autoria em parceria com Zé Dantas e em 1958, "Forró no escuro". No entanto, o forró popularizou-se em todo o Brasil com a intensa imigração dos nordestinos para outras regiões do país, especialmente, para as capitais: Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Nos anos 60 grandes forrozeiros fizeram sucesso, tais como Luiz Wanderley, Nino e Trio Paranoá, Sebastião do Rojão, Zé do Baião e muitos outros que, posteriormente, caíram no mais completo esquecimento. Uma possível causa para esse ostracismo vivido pelos cantores de forró dos anos 60 e 70 na atualidade pode ser o desinteresse do grande público pelo forró tradicional, aliado à falta de apoio por parte dos grandes artistas da MPB regional.
Nos anos 1970, surgiram, nessas e noutras cidades brasileiras, "casas de forró". Artistas nordestinos que já faziam sucesso tornaram-se consagrados (Luiz Gonzaga, Marinês, Dominguinhos, Trio Nordestino, Genival Lacerda) e outros surgiram. Foi nessa década que surgiu a moda do forró de duplo sentido, consagrada pelas composições e interpretações de João Gonçalves. Outros grandes cantores do período foram Zenilton e Messias Holanda.
A década de 1980 foi de crise para o forró, o que fez com que grandes nomes do gênero carregassem na maliciosidade das letras para atrair a atenção do público. Foi a década do chamado "forró malícia" representado por nomes como Genival Lacerda, Clemilda,Sandro Becker, Marivalda entre outros. Foi nessa década que a bateria (esporadicamente utilizada nos anos 70) foi inserida oficialmente na instrumentação do gênero, assim como a guitarra, o contrabaixo e, mais raramento, os metais. A década de 1980 terminou sem que o gênero conseguisse recuperar o prestígio e, nos anos 1990, surgia um movimento que procurou dar novo fôlego ao forró, adaptando-o ao público jovem; era o nascimento do reinado das bandas de "forró eletrônico", surgidas no Ceará, cuja pioneira foi a Mastruz com Leite. Outros grandes nomes desse movimento são Calcinha Preta (que impulsionou o crescimento do forró pelo Brasil e pelo mundo a fora), Cavalo de Pau, Magníficos e Limão com Mel.
Referências
1. BECHARA, Evanildo (2009). Minidicionário da Língua Portuguesa Nova Fronteira [S.l.] p. 957. ISBN 9788520921852.
2. ↑ Ir para:a b Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verbete "forrobodó"
3. ↑ Ir para:a b Sobre Palavras - Forró vem de "for all"? Conta outra!, Sérgio Rodrigues, Revista Veja, 4 de agosto de 2011
4. José Augusto Carvalho. . "A origem forrobodó". Conhecimento Prático Língua Portuguesa (53). Editora Escala.
5. ↑ a b c Mvirtual. «Forró - Origens e Manifestações atuais». Consultado em 13 de janeiro de 2012.
6. ChiquinhaGonzaga.com - peças teatrais
7. IEnciclopédia da Música Brasileira: p. 301.
8. Ricardo Schott (Janeiro de 1995). «Raimundos: A corrida do ouro». Super Interessante