O uso excessivo das expressões "fontes não identificadas", "fontes próximas", "pessoas ligadas a", "falei com um ministro agora", "nos bastidores do STF a interpretação é", "ouvi de uma autoridade do alto escalão que", "fiz uma apuração agora com uma fonte do Planalto" é de alto risco para o jornalismo. Nesse estilo, há até uma frase muito usada por comentaristas políticos e ainda mais pitoresca: "o Planalto interpreta"... Como assim? O Planalto fala?
Sabe-se que Bolsonaro não admite que o governo passe informações para certos veículos. Na famosa reunião do dia 22 de abril ele enquadrou ministros ao dizer que demitiria quem fosse elogiado pela Folha. Ataca a Globo e a Globo News também. Talvez por isso, o acesso à informação por parte dos profissionais dos veículos expurgados não deve estar fácil. Aparentemente, a CNN Brasil, por motivos já visíveis, tem maior mobilidade e acesso junto ao primeiro escalão do governo. E isso não é mérito. O uso de fontes não identificadas também não é. Se Watergate celebrizou uma fonte anônima, o Deep Troath, em um escândalo antológico, a Globo News, para citar quem usa o recurso com espantosa frequência, tem abusado da "garganta profunda" até em casos banais.
O fato é que Brasília está cheia de "gargantas profundas". Às vezes, a declaração colhida parece tão inofensiva, mais ilação do que informação, que o assinante não entende porque a fonte não se identificou. "Fiz uma apuração agora com uma alta autoridade e...". E aí vem uma impressão qualquer. Uma dessas "fontes" avaliou, por exemplo, que o tal vídeo da reunião ministerial era "devastador". A palavra "devastador" foi exaustivamente repetida naquela noite. O vídeo não tinha esse poder, como os fatos posteriores demonstraram. Nada foi "devastado", embora muitos brasileiros até preferissem esse apocalipse. A "ala militar", então, virou uma instituição. Pena que ninguém fale por ela ou fale qualquer coisa por ela. As "fontes" anônimas costumam destacar as aproximações de Bolsonaro com o STF e o Congresso como sinais de distensão na relação entre os poderes. Isso já foi avaliado repetidamente por vários comentaristas e um dia antes de Bolsonaro participava de manifestações que pediam o fechamento do STF. E aí?
O risco da banalização da "fonte próxima" é o jornalista se deixar usar e passar a mensagem que o governo quer para aquele momento. E aí o "fiz uma apuração agora" corre o risco de virar puro marketing bolsonarista e divulgar "bastidores" do interesse oficial.
Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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sexta-feira, 26 de junho de 2020
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