por Eli Halfoun
Leio na imprensa que a Rede Record
está proibida de reprisar a recente entrevista que o excelente
repórter-apresentador Marcelo Rezende fez com Guilherme de Pádua, o assassino
da jovem, bela e talentosa atriz Daniela Perez, morta há 20 anos. Nem a Record
pode reprisar a entrevista e nem qualquer outra emissora pode focalizar o
assunto com novas entrevistas e exibindo imagens da jovem Daniela. A determinação
é da Justiça atendendo a um pedido da mãe de Dani, a autora Glória Perez. Glória
está coberta de razão: já sofreu muito para vira e mexe ver imagens e o nome de
sua filha relembrando o terrível episódio que ela, Glória, tem todo o direito de
tentar esquecer. Ou pelo menos de não querer relembrar com tanta angustia. Guilherme
de Pádua foi condenado, cumpriu pena e hipoteticamente está em dia com a
Justiça, mas jamais estará em dia com sua consciência e com a dor que causou em
uma mãe que perdeu brutalmente a doce filha.
Não se trata, como querem alguns, de
cercear a liberdade de imprensa, mas sim e apenas de reivindicar respeito emocional,
que a já tão sofrida Glória sem dúvida merece. A desnecessária exposição de um
caso julgado me faz lembrar episódio que aconteceu na revista Amiga quando eu a
dirigia. Depois de muitas tentativas a repórter Claudia Lopes conseguiu uma
entrevista exclusiva com Pádua (ainda não julgado e condenado) na cadeia. Não
tive dúvidas e publiquei na íntegra (na época o caso era ainda muito importante
como notícia) e lembro que Glória achou que eu a havia desrespeitado ao dar voz
para um assassino. Não era caso de desrespeito. A admiração que sempre tive por
Glória jamais me deixaria desrespeitá-la, mas na época tentei fazer apenas um
bom trabalho jornalístico. Pádua foi capa da Amiga, esgotou a edição nas bancas
e mesmo assim imediatamente após a publicação da entrevista Raul Gazola, a
pedido da então sogra Glória Perez esteve na Manchete para falar com Adolpho
Bloch. Fui chamado pelo Adolpho que em nenhum momento criticou o trabalho, ou seja,
a publicação da entrevista, mas exigiu que eu entregasse para Gazola as fitas
com a entrevista. As fitas foram entregues.
Até hoje não sei bem o que foi feito delas, mas estou convencido que a
revista Amiga em nenhum momento desrespeitou os envolvidos no caso. O fato é
que entreguei as fitas com tranquilidade porque o conteúdo estava impresso. E
na imprensa como no jogo do bicho vale o que está escrito. (Eli Halfoun)