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domingo, 23 de setembro de 2018

Homenagem a Gervásio Baptista, 95 anos - "Importante é estar entre amigos", diz o fotojornalista que fez história na revista Manchete

Gervásio Baptista; uma vida dedicada ao fotojornalismo. Foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil


Brincalhão e bem-humorado, Gervásio se emociona com a homenagem da Associação Baiana de Imprensa.
Foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil


Com a Medalha Ranulpho Oliveira. Foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil


Gervásio mostra uma das suas fotos. Foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil

por Ana Cristina Campos - Repórter da Agência de Brasil)

Rodeado de amigos, o repórter fotográfico Gervásio Baptista foi condecorado ontem, em Brasília, (22) com a Medalha Ranulpho Oliveira, da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), destinada aos maiores nomes do jornalismo que trabalharam na imprensa da Bahia.

Ícone do fotojornalismo brasileiro, Gervásio emocionou-se com a homenagem e mostrou que o lado brincalhão e bem-humorado ainda predomina. “O importante é estar com os amigos”, destacou.

Ao receber a medalha, Gervásio, com 95 anos, repetiu com seu chapéu o gesto do presidente Juscelino Kubitschek, acenando com a cartola para o povo na inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960 – instante que Gervásio captou com suas lentes, em uma de suas fotos mais emblemáticas. “Tenho saudade do velho JK”, disse. “Para mim, é uma surpresa agradabilíssima relembrar JK”.

 Nascido em 1923 em Salvador, um dos maiores fotógrafos da história brasileira também foi homenageado com uma exposição de imagens e reportagens dos mais diversos períodos da sua longa carreira, iniciada aos 12 anos no extinto O Estado da Bahia. Atualmente, o fotógrafo está numa cadeira de rodas, depois de cair e fraturar o fêmur.

O diretor de divulgação da ABI, Valber Carvalho, disse que a homenagem tem como objetivo reconhecer a importância de Gervásio na história do jornalismo no Brasil, em particular, na Bahia. “Ele é fundador da Arfoc [Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos] na Bahia”, lembrou. “Gervásio tinha uma coragem extrema de enfrentar autoridades, militares, delegados, que, muitas vezes de maneira acintosa, não deixavam que ele fizesse a notícia.”

Para o fotógrafo Orlando Brito, Gervásio é um símbolo do fotojornalismo no país. “Ele é uma figura quase que onipresente na história do Brasil desde o governo de Getúlio Vargas”, disse. “Toda a carreira do Gervásio é ponteada de fotos magníficas. Mas a que mais vem à minha memória é a do JK com o chapéu que revela a novidade que era Juscelino e toda a modernidade de Brasília que está atrás da foto.”

Segundo a associação, aos 27 anos, quando já se destacava no Diário de Notícias de Salvador, Assis Chateaubriand viu o talento do jovem fotógrafo e o levou para o Rio de Janeiro para trabalhar na revista O Cruzeiro, mas logo Gervásio mudou-se para a revista Manchete de Adolpho Bloch no início dos anos 1950.

Em 80 anos de carreira, Gervásio registrou raridades de Getúlio Vargas, Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Fotógrafo oficial de Tancredo Neves, Gervásio fez com exclusividade a clássica e última foto do presidente, acompanhado da equipe médica do Hospital de Base do Distrito Federal, em que ele aparece sentado de pijama e roupão.

Na ditadura, foi preso e, em uma das ocasiões, dividiu a cela com o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (avô do ex-governador Eduardo Campos, ambos mortos).

Registrou momentos da Revolução Cubana, em 1959, fotografou os líderes Fidel Castro e Che Guevara. Acompanhou a Revolução dos Cravos, em Portugal, em 1974, e foi ao Vietnã, nos anos de 1970, para registrar a guerra. Fotografou sete copas do mundo e 16 concursos de miss universo.

Até 2015, Gervásio Baptista fotografava no Supremo Tribunal Federal e na Empresa Brasil de Comunicação (EBC).