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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Mídia: o novo júri da TV

Júris em programas de TV eram coisa dos anos 1960. Depois caíram em desgaste mas não em desuso. Atualmente, Luciano Huck, Marcos Mion, SBT etc ainda usam a velha fórmula. Silvio Santos foi um notório condutor de jurados, Flávio Cavalcante e Chacrinha também consagraram bancadas de julgadores. 

Não se esperava que o jornalismo fosse buscar no passado um corpo de jurados para liofilizar e deturpar as notícias. A diferença é que em emissoras como a GloboNews, CNN Brasil e Jovem Pan a nova bancada de jurados não se apresenta em programas fixos de auditório. Os juízes perpassam a grade dia e noite julgando as notícias, que geralmente interpretam aos seus modos, nem sempre comprometidos com os fatos. Especulam, parecem se orgulhar da capacidade de prever os fatos. Gostam de pregar o caos também. Não importa se acertam o futuro ou não. Quando as interpretacões não se confirmarem eles já estarão fazendo outras adivinhações para um público esquecido. 

Os novos jurados acham que o povo é imbecil. Eles não, são seres multipropósito que "contextualizam", adoram usar essa palavra, desde o caso Ana Hickmann à guerra no Oriente Médio, a mulher que quebrou janela de ônibus para salvar seu bebê. O que vier eles tracam. São capazes de falar durante horas sobre qualquer coisa que viralize nas redes sociais. São meio messiânicos. Estão convictos que prestam serviço de auto-ajuda jornalística a quem não está entendendo porra nenhuma de nada. Não há jornalismo investigativo nesses canais. Eles sabem disso, aparentemente. Uma prova é que diante da repercussão de um furo da concorrência pegam carona no trabalho de campo de um repórter a bordo de um artifício. A âncora, qualquer uma delas, diz, malandramente, algo assim "a Folha publicou e eu confirmei o seguinte...". 

Imaginem um repórter do New York Times dizendo uma babaquice dessas a propósito do furo da dupla Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, que cobriu o famoso Caso Watergate. "O Washington Post revelou e o New York Times  confirmou que Nixon... Seria um vexame, concordam?

Outra intervenção dos novos jurados é a corrida para mostrar à direção que eles também apuram. O que mais se ouve é "fiz uma apuração agora com a Polícia Federal e soube que... Nisso, admita-se, eles são bons. Geralmente a apuração que fazem é um exemplo do jornalismo mais barato, o jornalismo declaratório. Uma espécie de prostituição da notícia sempre apurada nas assessorias de imprensa que não  praticam jornalismo mas apenas divulgam o que lhes interessa. E o júri acredita. Alguns abusam tanto do jornalismo declaratório que até parecem porta-vozes das instituições onde fazem "apuração".

Para usar outra expressão que eles usam com frequência: não é possível confirmar com fontes independentes o que dizem as bancadas de jurados dos canais de notícias.