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domingo, 4 de janeiro de 2015

PANAIR: há 50 anos, a ditadura civil-militar abateu, em manobra criminosa, a maior empresa aérea brasileira.


Reprodução
Anúncio publicado na Manchete Esportiva, 1958
Anúncio publicado na revista Manchete



por Gonça
O fato não ganhou muito destaque entre as graves conclusões da Comissão da Verdade. Na primeira semana de dezembro passado, entre os relatórios produzidos pela instituição que apurou violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura civil-militar,  o Volume II trata da consequências sofridas por determinadas empresas que foram prejudicadas pelos golpistas. A justificativa das perseguições era "política" (algumas corporações teriam ligação com o governo destituído, alegavam as autoridades), mas os objetivos reais era financeiros e de favorecimento suspeito de concorrentes.
Há 50 anos, mais precisamente no dia 10 de fevereiro de 1965, uma dessas empresas, a Panair do Brasil, foi literalmente ao chão. Segundo a Comissão da Verdade apurou, a empresa foi criminosamente declarada "falida", sem que houvesse qualquer razão administrativa ou operacional para a ato. Autoridades, funcionários da União e o SNI (Serviço Nacional de Informações), criado meses antes, empreenderam uma ofensiva contra a empresa, beneficiando a concorrente escolhida, a Varig. Para os militares, os sócios da Panair, Mario Walace Simosen e Celso da Rocha Miranda, tinham "notórias" ligações com o governo anterior. Com um simples decreto, o ditador Castelo Branco cassou as linhas da companhia - que tinha a maior malha aérea nacional e internacional entre as empresas brasileiras - transferindo-as para a Varig e a Cruzeiro. Em seguida, a ditadura pressionou para que a Justiça referendasse a fraude e decretasse a falência da Panair. Segundo o jornalista  Daniel Leb Sasaki, autor do livro "Pouso Forçado", a aérea não tinha títulos protestados, ações de fornecedores ou funcionários, nem dívidas com a União maiores que as concorrentes. Empréstimos então em curso somavam valores bem menores do que seus ativos e a Panair era, então, a segunda maior empresa privada do Brasil. Foi tamanha a perseguição empreendida pelos militares e tão fortemente suspeita que, em 1969, a ditadura providenciou outro decreto, feito sob medida e sob efeito retroativo, que impedia que empresas aéreas retomassem suas atividades "após processos de falência". Essa lei só foi aplicada contra a Panair, Mas companhia aérea é apenas o caso mais notório de ação comercial da ditadura. Em todo o Brasil, muitas empresas foram coagidas, concorrências foram orquestradas, contrato distribuídos, verbas transferidas e privilégios negociados, sempre sobre a justificativa "política", quando, na verdade, velados interesses econômicos e pessoais estavam na raiz das medidas. O rótulo de "subversivo" era a senha preferencial para as negociatas da época. E a Panair caiu nessa turbulência.
O lendário Constellation, hoje no Museu da TAM, em São Carlos (SP). Reprodução Facebook

No Santos Dumont. Reprodução

Dramático desfecho à parte, a Panair é o símbolo de uma época. Em janeiro de 1965, um mês antes de ser abatida, voava com aviões de última geração como DC-8 e Caravelle, além do DC-7 e dos equipamentos mais antigos com Constellation, Catalina e DC3. A malha internacional incluia entre outras rotas Paris, Frankfurt, Milão, Roma, Londres, Madrid e Lisboa, Buenos Aires, Montevidéu e Santiago do Chile. Obrigada a aterrissar, virou história

O livro de Daniel Sasaki e...
...o documentário de Marco Altberg reconstituem a história da Panair

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