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terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Obrigado, Kubrusly, pela bela parceria • Por Roberto Muggiati

 

Documentário da Globoplay (Kubrusly – Mistério sempre há de pintar por aí)
. No Sul da Bahia, o jornalista em estado de graça ao lado do cachorro Shiva. Imagem Reprodução TV Globo

Comoveram-me as imagens de Maurício Kubrusly deixando-se levar pela espuma dos dias na companhia do seu cão numa praia da Bahia. Quando recebeu o diagnóstico de Demência Fronto Temporal (DFT), chegou a pensar em recorrer à morte assistida, como o fez recentemente o poeta Antônio Cícero. “Não tenho mais o que fazer aqui”, falou. Sua mulher, a arquiteta Beatriz Goulart, o demoveu da ideia. Tudo começou quando ele não conseguia mais ler os jornais e esquecia fatos importantes. Aventou-se a possibilidade de Alzheimer, mas depois se confirmou a demência. Com um relacionamento de quase vinte anos em casas separadas, Maurício propôs a Bia morarem juntos. “Estou esquecendo todas as coisas...” Já são sete anos de luta e o casal tem vivido os últimos tempos no sul da Bahia, na placidez de Trancoso. Um pouco dessa história é contado no documentário da Globoplay Kubrusly – Mistério sempre há de pintar por aí.

Mesmo sem ter o physique du rôle, Kubrusly foi o apresentador de TV mais popular do país, do qual revelou facetas pitorescas e desconhecidas no quadro Me Leva, Brasil, ao longo de 17 anos em mais de 300 programas do Fantástico.


O que poucos sabem: antes disso, Maurício Kubrusly, um carioca que migrou para São Paulo, foi o bem sucedido editor da Som Três, referência entre as revistas sobre música no país. O trabalho editorial em Manchete não me impediu de engrenar uma parceria profícua com Kubrusly, que iria muito além de meras resenhas de discos. Escrevi a seu pedido uma História do Rock em fascículos encartados na revista, depois editados num volume único de 200 páginas. E cinco livretos de 13x10cm e 35 páginas cada sobre aspectos do jazz – encartados na Som Três com anúncio do patrocinador na 3ª e 4ª capas (o jornalismo do Kubrusly passava um bolão para a publicidade esperta da Editora Três): Mestres do jazz, O piano no jazz, A estória do blues, O trompete no jazz e  O saxofone no jazz.









Da minha parte, reciclei o material descartável da revista para o formato mais perene do livro: A história do rock gerou dois volumes da série Tudo É História, da Brasiliense:  Rock: de Elvis à beatlemania [1954-1966] e Rock: da utopia à incerteza [1967-1984], ambos publicados em 1985; e Rock: do sonho ao pesadelo, da L&PM (1984). Já os livrinhos de jazz deram Jazz: uma história em quatro tempos (L&PM, 1985) e Blues: da lama à fama (Editora 34, 1995) – foram cinco volumes ao todo.

Todos os homens são mortais e o Kubrusly já recebeu o seu bilhete azul. Mas as imagens recentes de filmes e reportagens o mostram se divertindo muito, quase em estado de graça. Eu diria que, para ele, a Demência está sendo uma Sala VIP do Céu.