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terça-feira, 5 de junho de 2018

1000 tons de preto • Por Roberto Muggiati

Fabiana Cozza: criticada por ser clara demais para...

...interpretar Dona Ivone Lara em musical. Fotos:Divulgação

“Renuncio por ter dormido negra e, após o anúncio do meu nome como protagonista do musical, acordar ‘branca’ aos olhos de tantos irmãos.”

Reprodução O Globo
Assim a atriz Fabiana Cozza anunciou sua desistência de interpretar o papel principal do musical "Dona Ivone Lara: um sorriso negro", por ser considerada clara demais” para viver o papel da famosa sambista. Filha de pai negro e mãe branca, Fabiana se declara uma mulher negra e se posiciona politicamente como tal. Ela afirmou ainda: “Quero que este episódio sirva para nos unir em torno de uma mesa, cara a cara, para pensarmos juntos espaços de representatividade para todos nós.”




Seu dilema lembra o da cantora de jazz Billie Holiday (1915-59), uma mulata clara, na época em que, nos estados mais reacionários, o público não aceitava a integração racial.


Billie Holiday: discriminada em orquestras "brancas" e "negras'.

Em meu livro de 2008, "Improvisando soluções" (Best Seller), relatei as formas de segregação que ela “viveu na carne quando começou a excursionar com a orquestra de Artie Shaw, formada só por músicos brancos. As plateias dos estados norte-americanos mais conservadores não admitiam mistura racial em grupos musicais. Se Billie negra teve problemas apresentando-se com orquestras brancas, ela não deixou também de ter problemas quando excursionava com a orquestra negra de Count Basie. Seu tom pálido de pele morena, acentuado pelos refletores, induzia o público a acreditar que fosse branca. Muitas vezes Billie teve de passar graxa no rosto para escurecer a pele e ‘passar por negra.’”