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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Aê Bahêa. Salve 8 de dezembro, Salve Conceição da Praia. Salve Oxum! Sincretismo religioso na veia. Acarajé, caruru , cachaça de jenipapo, Vinicius de Moraes e Baden Powell...




Oferendas digitais para N.S. Conceição da Praia/Oxum e lições que vêm da Velha Bahia: bebida para abrir caminhos, frutas,
moedas para prosperidade e gato preto, símbolo de proteção, ao contrário da tradição europeia que o vincula à má sorte. O quadro ao fundo é de Carybé, jornalista argentino, pintor e brasileiro naturalizado.
Foto: Acervo do Panis cum Ovum
 

por José Esmeraldo Gonçalves 

Em um dia como esse, 8 de dezembro de 1964, eu era secundarista em Salvador. Festa de rua. o programa mais acessível ao bolso. A Ribeira, meu bairro, comemorava todas as datas possíveis, as profanas, as católicas e os eventos das religiões afro-brasileiras. Eram tempos tranquilos. Os moradores abriam as portas e convidavam os passantes a provarem comidas ritualísticas como acarajé, abará, caruru e até pipoca. Para beber, licor ou cachaça de jenipapo. Fazíamos na Ribeira o roteiro que o Leblon chama hoje de baratona. Só que gratuita e parando em salas de famílias amigáveis. 

Na paz. 

Havia uma data em que subíamos no ônibus elétrico e deixávamos a península de Itapagipe rumo à Praça Cairu, a do Elevador Lacerda, ali pertinho do Mercado Modelo e da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. 8 de dezembro. Era o dia dela. A festa era puro sincretismo na veia. Conceição da Praia é Oxum para as religiões de matriz africana. Procissão cruzando com oferendas, o coral da igreja, hoje basílica, cantando ao som de tambores. Na rua, barraquinhas de acarajé, feijoada e muitas gabrielas.

Na época não havia intolerância agressiva contra a umbanda e o candomblé. Preconceito, sim, especialmente da classe média pra cima. Mas não existiam pastores a incentivar invasões, agressões e depredações de terreiros. Nem as Claudia Leitte da vida a mudar letras de canções para não pronunciar o nome de Iemanjá.

No verão de 1966, tempo em que os tambores mais aqueciam o Pelourinho, Vinicius de Moraes e Baden Powell lançaram os Afro-Sambas, álbum que hoje é clássico. A dupla levou o Brasil a cantar Ossanha, Xangô, Iemanjá e a cultura negra. Algo que os enredos das escolas de samba fazem hoje com muito brilho. Baden e Vinicius não foram cancelados nos cultos. E o disco pode ser tocado no "terreiro" do You Tube.  Ouça lá, mas se for vizinho do Malafaia convém baixar o som.

No mais, respeite a festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia/Oxum. Não começou ontem. É realizada desde 1549. É tão somente a celebração religiosa e popular mais antiga do Brasil. Dizem que só não se realizou quando os baianos estavam mais ocupados em guerras para expulsar holandeses e, depois, os portugueses.