A jornalista Daphne Galizia, de Malta, que investigava em seu blog (Running Commentary) o envolvimento do governo local no escândalo Panama Papers, morreu ontem em explosão que destruiu seu carro. A explosão ocorreu perto da residência da jornalista, na aldeia de Bidnija. Na véspera, ela denunciou ter recebido ameaças. Malta, como o Panamá, é conhecido paraíso fiscal.
Uma das matérias publicadas em maio desse ano no blog da jornalista Daphne Galízia. A página foi atualizada até ontem. |
Parentes da jornalista culpam o governo, segundo o jornal El País. Daphe Galizia, de 53 anos, estava à frente das denúncias que atingem autoridades. Apesar disso, o partido do governo acaba de obter expressiva vitória nas urnas.
O caso que ficou conhecido como Panama Papers também atingiu o Brasil, segundo documentos vazados do escritório de advocacia Mossack Fonseca, que intermediava abertura de contas e empresas de fachada. Dezenas de pessoas físicas e poderosas corporações brasileiras foram citadas como titulares de contas suspeitas de terem sido abertas para evitar pagamento de impostos.
Um pool global de jornalistas - foram mais de 300 repórteres em quase 80 países - publicou, no ano passado, uma série de reportagens sobre os Panama Papers. No Brasil, o jornal O Estado de S. Paulo, o portal e a RedeTV! representaram o pool, que foi vencedor do Prêmio Pulitzer de Jornalismo de 2017. Aqui, houve críticas à "seleção" dos temas abordados entre os milhares de documentos do Mossack Fonseca. Na época, a Agência Brasil informou que a Receita Federal e a PGR "estavam atentas" às denúncias. Após a repercussão inicial, o caso foi perdendo destaque e acabou abafado e teve o destino de outro rumoroso escândalo, o do esquecido e chamado Swissleaks: virou "notícia velha".
Aparentemente, mídia e Justiça tinham mais o que fazer.