Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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segunda-feira, 11 de abril de 2016
Boston Globe cria página falsa com as primeiras medidas de Donald Trump caso seja eleito. Odorico Paraguaçu perde...
Quem disse que os memes da internet não podem influenciar a grande mídia? O Boston Globe acaba de produzir uma primeira página fake que entra para a história do jornalismo como o primeiro meme da grande mídia.
O BG criou uma página falsa com base no que seria um dia do futuro governo de Donal Trump. Sintam a força das manchetes produzidas pela administração do fascistoide republicano que pré-candidato à presidente dos Estados Unidos. O jornal noticia que começam as deportações, há motins nas ruas, leis contra "difamação" amordaçam a imprensa, os mercados afundam com guerra comercial. Parece piada, mas o jornal alerta que tudo se baseia em declarações e promessas do próprio Trump. Uma nota do Editor assegura que Trump incita regularmente violência política, é um mentiroso, xenófobo, racista e misógino.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Boston Globe não é aqui...
Divulgação |
por Leandro F. Linhares
O filme "Spotlight, Segredos Revelados", de Tom McCarthy, é sucesso de público e crítica e tem despertado, especialmente, a atenção de profissionais do jornalismo. Li na mídia alternativa na web bons comentários sobre a saga do Boston Globe. Já a mídia conservadora publicou algumas análises em benefício próprio e tentou se espelhar no que achou que viu na tela. Mas esse suposto reflexo parece bem fora de foco. Senão, vejamos.
A equipe do Boston Globe ganhou o Pulitzer pela série de reportagens sobre os casos sistêmicos de pedofilia envolvendo padres católicos. Bom explicar que eles foram premiados, em 2003, na categoria "Serviço Público" e não "Reportagem Investigativa". Por um motivo simples: o Boston Globe não descobriu os fatos, e esse ineditismo é condição do Pulitzer para premiar reportagens investigativas. Os acontecimentos abordados no filme eram de conhecimento público desde 2001, quando algumas vítimas abriram processos contra padres. O Pulitzer considerou, com justiça, que o Boston Globe contribuiu para melhorar a vida das pessoas e protegê-las ao alertar sobre o caso e deixar a comunidade católica, em especial, mais atenta ao problema.
Não foi pouco o serviço prestado pelo jornal ao despertar consciências e acordar autoridades civis e eclesiásticas. E este é o toque 'romântico' do jornalismo: ajudar a promover mudanças justas e importantes para a sociedade. E é este tipo de motivação, certamente, o impulso que ainda leva muitos profissionais a escolher esse árduo ofício.
É curioso observar que o filme, assim como a reportagem real do Boston Globe, não demoniza personagens ou faz cargas iradas contra fulanos. Como se raciocinasse que as pessoas passam e os problemas ficam, o foco dos repórteres não é a cruzada messiânica. É a denúncia dos fatores que levaram à ocorrência da pedofilia quase como uma "norma do sistema". Independentemente das pessoas envolvidas e de responsabilidades individuais, o que resulta de bom para a sociedade é que reportagens desse quilate ajudam a construir mecanismos de proteção que dificultam ou impedem a repetição dos casos. Para alcançar tal objetivo, foi fundamental à equipe poder contar a história de forma independente, apoiada por diretores que protegeram a autonomia dos repórteres.
Haveria no contexto de produção da série de matérias do Boston Globe muitas lições úteis às grandes corporações da mídia brasileira. Mas temos uma estrutura familiar, política e ideológica muito particular nas grandes empresas de comunicação. Podemos supor que um simples telefonema de um cardeal amigo paralisaria uma dessas séries de reportagens por aqui - isso se ela sequer começasse - e há fartos exemplos ao longo da história facilmente identificáveis por centenas de coleguinhas que atuam ou atuaram em redações. O cinema tem outros exemplos de filmes baseados em reportagens investigativas que seriam inimagináveis na grande mídia brasileira. Quem não lembra de "O Informante", de Michael Mann, de 1999? Relatava um fato real ocorrido cinco anos antes: um ex-executivo da indústria do fumo denuncia crimes da indústria que adiciona aos cigarros componentes químicos que potencializam o fator viciante da nicotina. Imagina as corporações jornalísticas brasileiras investindo contra um poderoso anunciante?
É ruim, hein? Não há nada parecido no currículo nacional.
Houve até quem comparasse "Spotlight" com a atual cobertura jornalística da "Lava Jato'. Há semelhanças em um aspecto: as matérias sobre a Lava Jato também não seriam consideradas investigativas pelo Pulitzer já que em geral reproduzem fatos vazados de depoimentos de delatores premiados. Ou seja, como Spotlight, têm base em processos judiciais e não em levantamento jornalístico. Watergate, um caso clássico de jornalismo investigativo, é exemplar. O próprio Washington Post noticiou a invasão do escritório do Partido Democrata como um "assalto". Coube a Bob Woodward e Carl Bernstein estabelecer, meses depois, através de uma fonte própria, a ligação entre a Casa Branca, de Nixon, e a operação de espionagem contra os democratas. Não foi a polícia, nem a justiça, não foi o promotor, nem o juiz, nem o "japonês, não foi vazamento seletivo nem ocasional. Foi o jornalismo investigativo.
Entre as muitas diferenças que turvam o espelho e a comparação entre Spotlight e Lava Jato estão o interesse político mas do que ético, a difícil e quase impossível sobrevivência de repórteres independentes na grande mídia, o engajamento partidário, a disputa pelo poder e os poderosos interesses financeiros. É bom ou quer mais?
Melhor ver a equipe do Boston Globe em ação. Sonhar não custa nada.
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