por José Esmeraldo Gonçalves
O anúncio acima, em página dupla da Manchete, marcou o lançamento da Rural Willys. Algumas gerações de repórteres e fotógrafos que passaram pela Bloch acabaram ganhando na década e meia seguinte uma inevitável intimidade com a velha Rural. Houve uma época, entre os anos 60 e até o fim dos 70, em que a frota de transporte da empresa era formada quase que exclusivamente pelo famoso utilitário derivado do Jeep. As exceções eram uma ou duas Kombis que serviam às produções das revistas. Uma das Rural, aliás, tinha um engate para um trailer que também servia de apoio para os ensaios fotográficos de moda.
Era onde modelos, em um raro luxo, então, podiam trocar de roupa e se maquiar para as fotos. Pois bem, a velha Rural, que fez história nas cidades e estradas brasileiras, foi lançada em 1960, há 55 anos. Na época, o publicitário Mauro Salles, um apaixonado por automóveis, fez uma matéria testando o veículo (reprodução ao lado). Antes do modelo de 1960, que aparece no anúncio acima, a Willys montava aqui uma versão mais antiga de design ainda integralmente americano. Mas a Rural de 1960, que tinha um índice de nacionalização em torno de 90%, já exibia toques dos desenhistas da fábrica de São Bernardo dos Campos. Um deles, o detalhe inspirado nas linhas de Brasília e que dividia, bem visível, a grade do radiador. No ano da inauguração, Brasília era o tema preferencial das revistas da Bloch. Amigo de JK e de Oscar Niemeyer, Adolpho Bloch deu atenção especial ao projeto da nova capital desde o seu início. O arquivo fotográfico da Manchete, supostamente desaparecido, reunia o mais completo acervo da construção de Brasília desde a pedra fundamental e as primeiras estacas cravadas no Planalto Central até a inauguração em noite de gala e a evolução da cidade nos quarenta anos seguintes. |