Jô Sôares (Dr. Sardinha) e Delfim Netto na capa da Manchete em foto de Rolnan Pìmenta |
por José Esmeraldo Gonçalves
Delfim Netto, ex-ministro da ditadura, morreu ontem em São Paulo aos 96 anos. Em 1968, ele foi um dos signatários do AI-5, que, nos anos seguintes, resultou em brutal ampliação do número de prisões de opositores do regime militar, assassinatos e sessões de tortura.
Delfim não se incomodava com críticas que o ligavam à ditadura e não renegava o passado, mas tentou se justificar e foi capaz de dizer que não época "não sabia" que a ditadura torturava e matava opositores. Comandou a economia durante dois governos especialmente violentos: de Costa e Silva e Médici. Era tão poderoso que ganhou a alcunha de "czar".
Ao fim do governo Médici, surgiram rumores discretos de que Delfim tinha apoio militar e poderia ser uma opção civil e confiável em um futuro, mesmo que distante, esgotamento da ditadura. Ernesto Geisel sacou sua carta e antes que o "delfim" de Médici lhe fizesse sombra o enviou para um cargo de luxo, ócio, e distante: embaixador em Paris. Anos depois, o economista foi ministro da Agricultura e ministro do Planejamento no período de João Figueiredo. Recentemente, em entrevista ao UOL, Delfim afirmou que assinaria novamente o AI-5, aparentemente continuava ignorando torturas e assassinatos do regime militar.
O economista conquistou bom trânsito e amigos jornalistas na mídia. Tornou-se uma espécie de comentarista de estimação, em forma de frases tidas como espirituosas. Um desses jornalistas e admiradores o considerava um "frasista genial". Em abril de 2011, em uma das suas falas no progama Canal Livre, da Band, ele cometeu uma dessas genialidades: “Há uma ascensão social visível. A empregada doméstica, infelizmente, não existe mais, ela desapareceu. Quem teve este animal, teve. Quem não teve, nunca mais vai ter".
De certa forma, Jô Soares e a Manchete deram uma força à popularidade de Delfim. Em 1979, quando fazia sucesso na TV o personagem Dr. Sardinha, que ironizava o ministro, Delfim e Jô aceitaram conversar e posar juntos com exclusividade para a capa da revista. O Dr. Sardinha tranformava em piada a falta de intimidade do então ministro com frutas, legumes, cereais e grãos em geral. Delfim revelou na entrevista que ao receber o convite da Manchete para posar com Jô pensou em recusar, "temia danos à imagem", segundo disse. Depois concluiu que era uma simples sátira. Ele tinha razão. Ao aderir ao humor e se deixar fotografar ao lado do Dr. Sardinha virou o efeito da gozação, mostrou até o jogo da cintura que não tinha e se tornou simpático diante da enorme audiência do programa do Jô na TV Globo.
2 comentários:
Um cara que ficou tanto tempo no poder durante a ditadura não pode ser inocente.
Faltou lembrar uns escândalos de corrupção que envolveram o sujeito aí e foram divulgados pela imprensa. "Chose de loque", como diria outro personagem do Jô Soares.
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