quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Mídia - Entrevista exclusiva (*) com a maior fonte anônima dos jornalistas que cobrem Brasília: o Entorno


por O V. Pochê

O blog conseguiu entrevistar a atual e maior fonte dos jornalistas brasileiros que atuam no DF: o Entorno. Trata-se de um colaborador com muita mobilidade. O Entorno atua próximo a Lula, frequenta o circuito mais íntimo de Bolsonaro, isso mesmo, e está por dentro do que Haddad fará na economia. O Entorno está ao lado de Alexandre Moraes, o maior gerador de conteúdo do momento. O Entorno está colado em Roberto Campos Neto e sabe da Selic antes do Bolsonaro a quem o Bob conta tudo. O Entorno consegue falar com "pessoas próximas" ao comandante golpista da Marinha. O Entorno é tão importante que a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) já o convidou para uma palestra. O Entorno não trabalha sozinho em Brasília, ele tem a concorrência do Pessoas Próximas, do Fonte Confiável, do Interlocutor, Observador Atento, . Uma âncora da Globo News às vezes até dispensa nomear a fonte. Ela costuma dizer que tem "um bastidor" e manda lá uma "exclusiva" sem pai nem mãe, que o " bastidor" dela é autosuficiente,  elástico, tem vida própria e aceita tudo. O jornalismo brasileiro banaliza a fonte anônima porque não entende a utilidade que ela tem para o jornalismo investigativo e, por isso abusa e usa. O exemplo clássico é o Deep Throat do Caso Watergate: não era uma fonte declaratória, dava informações que balizavam a investigação e sinalizavam pistas. Cabia a Bob Woodward e Carl Bernstein correrem atrás dos envolvidos e suas ramificações. 

Reprodução O Globo

Reprodução CNN
Reprodução O Globo

A expectativa do Entorno na nota acima não se concretizou. Acontece.


Aqui o Entorno, em nome dos seus similares, mostra como funciona o fantástico mundo do jornalista especulativo e de caça cliques.

 - Senhor Entorno, como se sente ao fornecer temas de debates aos comentaristas dos canais por assinatura, que passam horas "contextualizando" suas informações? 

- Eu me divirto. Devo dizer que não fantasio a toa. Conheço a política e tudo o que crio obedece a uma lógica e, por isso, repercute. Muita coisa faz sentido para quem conhece Brasília. Eu invento, não aumento.

- O senhor obedece a algum político ou interesses?

- Não. Já passei por vários cargos de assessoria técnica nos três poderes. Conheço todo mundo, sempre ajudei os jornalistas. Antigamente me procuravam para fornecer pistas de reportagens mais extensas. Hoje, as novas gerações buscam qualquer coisa para sustentar opiniões e análises. Acho que o jornalismo mudou nesse sentido. Opinião é opinião não precisa assim de tanta confirmação. Um repórter me pergunta quem é o favorito para determinado cargo. Eu solto um nome elegível. E eles botam lá, 'no entorno de fulano um nome forte é sicrano'.

- O senhor também lança 'balão de ensaio' ?

- Sim, mas antes que você me pergunte, não ganho nada com isso. Não preciso de dinheiro. É engraçado. Pego o nome de um político vaidoso mas sem chance de ser indicado para um cargo importante e passo para um repórter ou comentarista. Acredite, basta isso para o nome circular e o citado estufar o peito nos corredores. Eu mesmo dou-lhe os parabéns por estar 'cotado". O cara acredita, outros políticos acreditam, e ele passa a se considerar cogitado para nomeação. Depois, quando não é nomeado todo mundo esquece, até o comentarista ou repórter que levou o nome para a TV. O cara fica feliz porque no interior, na base dele,  passa a ser visto como de prestígio em Brasília. O eleitor, coitado, pensa que em algum momento ele pode emplacar em um cargo.

- Você como fonte não perde credibilidade junto ao jornalista?

- De jeito algum. O jornalista marca ponto por obter um informação exclusiva do Entorno e o canal preenche muitos minutos da programação debatendo essa possibilidade. Viu o caso do Aras? Nunca teve chance mas foi levado a sério para continuar na PGR. Nesse caso, dois políticos do PT lançaram o ' balão de ensaio', não fui eu. Mas houve um nome de um certo candidato a ministro da Defesa que circulou na mídia e jamais teve chance.

- Eu conheço um advogado muito badalado ultimamente. Confesso que ajudei a impulsionar, como se diz, a sua figura. Uma repórter adorou quando citei seu nome em off, claro, e fez média junto à chefia.

- Você não acha que essa entrevista vai queimar o Entorno.

- Acho que não. Tem muitos outros por aí, até contratados por políticos. Têm o Fontes Próximas, tem o Pessoa Ligada A...", têm o "Membro das Forças Armadas" , esse eu acho esquisito mas ultimamente tem subido muito como fonte.

- Você já foi desmentido?

- Por incrível que pareça, não. Veja, eu invento algo crível. Como tantos movimentos na política pode ou não acontecer. Não sou jornalista mas não sou burro e posso dizer o seguinte: a demanda por notícias é hoje muito grande. A velocidade de consumo de conteúdo e brutal. O tempo era mais lento nos anos 1990 e ainda mais lento nos anos 1980.  Havia um colunista de política muito famoso e considerado que não inventava notas mas veiculava o que os políticos lhe pediam. Ouvi muitas vezes, ' passa pro fulano que ele vai na minha casa hoje e vai gostar. Fala que fui eu que mandei'. Vigorava uma troca de favores. Ele divulgava a nota de interesse do politico e o político ficava devedor e um dia lhe daria uma notícia legítima.

- Você colaborou com jornalistas durante a Lava Jato ? Pergunto porque muito jornalistas participaram dos esquemas ilegais da Lava Jato.

- Não. Acho que a Lava Jato nem precisou disso, tinha ligação direta com vários jornalistas. Ninguém me perguntava nada sobre a Lava Jato. Dois ou três jornalistas que sempre falavam comigo nunca me perguntaram nada. Achei estranho porque na época eu trabalhava em um "entorno" que poderia interessar a eles. Não precisaram, recebiam tudo direto. Até livros foram publicados, não é?

- Sr.Entorno, muito obrigado. Posso usar suas informações? 

-Claro. Faço isso tudo dia. Nas últimas semanas induzi "candidatos" ao STJ, STF, AGU, PGR e até Ministério da Justiça. 

(*) Entrevista ficcional com fundo e frente de verdade. Qualquer semelhança é mera realidade 

Um comentário:

Gondim disse...

A maioria dessas especulações não se confirma e logo caem no esquecimento nas servem para preencher muitos minutos na tv e colunas de jornais. Têm jornalistas que falam até coisa assim "Lula está pensando em nomear..." como a moça consegue saber o pensamento do Lula. Têm fonte nos neurônios do presidente? Vão inventar assim no caraio.