por Flávio Sépia
A implantação das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) foi saudada pela maioria dos jornalistas esportivos, principalmente aqueles especializados em "mercado" da bola, como um acontecimento místico no futebol brasileiro. Ao comprar o Cruzeiro, o ex-jogados Ronaldo foi visto como um "messias" baixando nas montanhas de Minas Gerais. Os gringos que adquiriram o Vasco foram recebidos como se o próprio Tio Sam aqui chegasse com avião cargueiro lotado de dólares. Deu n'água. Ronaldo fez um ótimo negócio ao entrar e sair sem investir o combinado e embolsar milhões. A 777, SAF do Vasco, também atrasou pagamentos e agora está ameaçada de processo na Justiça dos Estados Unidos, movido no Reino Unido, por negociações suspeitas e possibilidade de insolvência. A associação esportiva do Vasco da Gama agiu rápido e entrou com uma liminar que devolve o futebol ao clube. Não anula a transação mas afasta os gringos até que cumpram os compromissos assumidos.
Não demorou muito para que o modelo SAF mostrasse que seus objetivos não são a longo prazo e os controladores, como todo negociante, têm um só objetivo: recolher o mais rápido possível os lucros sobre o patrimônio adquirido (venda de jogadores, ativos imobiliários, direitos de TV, premiações, exploração de placas nos estádios, patrocinadores, comercialização da marca etc.
A propósito, no começo dos anos 2000 a Editora Abril vendeu 30% das ações do grupo a um fundo de pensão dos Estados Unidos, salvo engano, era o que garantia a aposentadoria dos professores. Com a "saf" do jornalismo, os Civita contavam com entrada de recursos. Algum dinheiro chegou, mas o preço foi alto. Em pouco tempo a Abril passou a viver um inferno administrativo e perdeu autonomia para investir. O fundo tinha assento na diretoria. Dos seus ranchos no Texas, os professores exigiam cada vez mais lucros ao fim do ano contábil. Aquela "saf" insaciável - somanada às mortes de Victor e Roberto Civita foi a semente perversa que levou ao fim da editora dos Civita.
P.S. Essa frase, a do almoço grátis, foi atribuída por jornalistas brasileiros ao ex-ministro da ditadura Delfim Neto. Por jornalistas puxa-sacos, evidentemente. Como se sabe e é fácil averiguar a frase tem raízes históricas e pitorescas. Segundo o New York Times já contou, esse "slogan" que fez sucesso aqui no Bananão (apud Ivan Lessa) surgiu em Nova Orleans no fim do século 19. Algumas tabernas exibiam na fachada um letreiro chamativo: free lunch. Só que os botecos faturavam com a venda de bebidas, muito mais lucrativas. A comida era um brinde e vinha com pitadas planetárias de sal. Quando mais comia, o freguês mais bebia.