Terminal Rodoviário, em Vassouras, recebe o nome de Prefeito Severino Dias, ex-chef dos restaurantes da Bloch. Foto de Eny Miranda/Subsecretaria de Comunicação/Governo do Estado do Rio de Janeiro. |
Severino Dias na Manchete. Foto: Arquivo Lairton Cabral, reproduzida do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" |
Severino Dias era o chef dos restaurantes de Manchete. Durante algumas décadas, com a seu time de cozinheiro e garçons - uma equipe, aliás, maior do que a de muitas redações das revistas da casa -, serviu personalidades nacionais e internacionais que visitavam a redação.
Mais tarde, impulsionado pela capacidade de se comunicar, por facilidade de relacionamento e de fazer amizades, acabou entrando na política e foi eleito prefeito de Vasouras (RJ), de 1988 a 1992. Três anos depois, quando estava em campanha para voltar ao cargo, e era favorito, foi assassinado, com 11 tiros à queima-roupa.
Na época, investigou-se a motivação política do crime mas nada foi provado. Nessa semana, o governador Luiz Fernando Pezão inaugurou em Vassouras o Terminal Rodoviários Severino Dias.
O ex-chef da Bloch também é nome de uma escola pública na cidade que governou e foi homenageado com um busto em uma das praças locais. Seu herdeiro, Severino Dias Filho, que tinha 11 anos à época do crime, já foi vereador. Candidatou-se à prefeito em 2012, mas não se elegeu.
Voltando à Bloch, os restaurantes da casa comandados pelo chef Severino eram uma referência no Rio, especialmente entre as décadas de 1960 e 1980. Mas o auge gastronômico deu-se no prédio da rua do Russell. Eram três grandes salões: no térreo, no terceiro andar e na cobertura.
Frigideira de siri, camarão com chuchu, porpetas (almôndegas), feijoada, bife de panela, empadão de camarão, ossobuco e outras receitas entravam no menu da semana. Um cardápio saboroso mas nada saudável e impossível, hoje, quando os restaurantes das grandes empresas são regulados por nutricionistas prussianas.
Conta-se que o prato do dia era resolvido em reunião do chef Severino diretamente com Adolpho Bloch. Mas se o dono da empresa controlava a cozinha, não conseguia filtrar a freguesia. O restaurante "Chez Manchete", digamos, era o paraíso dos penetras. Justificável. Até que um administrador tivesse a ideia, no começo dos anos 80, de implantar tickets e cobrar um valor dos funcionários, almoçar na Bloch era 0800 total. Artistas sem palco, escritores sem editora, empresários sem empresas, produtores culturais sem produto e cantores sem gravadora aportavam na área, felizes da vida. Mas não só aspirantes a algum sucesso. Astros consagrados da TV - um deles quase que diariamente - batiam ponto no menu do Severino. Uma cantora não falhava às quartas-feiras; um lobista conhecido não perdia a feijoada; e um escritor, voltando da garçoniere (isso existia, na época) fazia uma média com a sua vítima em dia de camarão.
Foi o maior restaurante popular, e certamente o mais sofisticado, que o Rio já conheceu.
ATUALIZAÇÃO: Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, envia a seguinte mensagem:
Um adendo à figura. Seu nome completo era SEVERINO ANANIAS DIAS
O Cony, de sacanagem, sempre o escalava para falar "em nome da
redação da Manchete..." O Severino inventava palavras. Por exemplo, discursando no aniversário do Adolpho, começava: "Esta figura inevolúvel de Adolphu Bloqui. . .". Na véspera de Natal, 24, os membros da família e os editores de revista e burocratas mais graduados recebiam em suas casas um imenso peru natalino, que costumava durar até a Páscoa. O pessoal da cozinha madrugava para assar os galináceos a serem entregues ainda na parte da manhã. Os mais cotados recebiam, como brinde extra, um presunto ou um pernil. Não havia lugar na geladeira para tudo aquilo. Eram os bons tempos daquela revista que JK chamou de "quiçá, a maior da Galáxia..." FELIZ 2015!