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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Lições de história nas páginas da Manchete. Um leitor da revista, assinalado em foto publicada em abril de 1964, compara as manifestações da classe média conservadora: ontem e hoje...

Manchete fotografou, no dia 2 de abril de 1964, no Rio, uma passeata em apoio ao golpe militar. Um dos manifestantes, então com 26 anos (visto no círculo), guardou a revista e relembra, em mensagem informal, a época e suas consequências. A partir da foto, ele faz uma comparação com os protestos atuais.   
A edição semanal, regular, da revista Manchete, deixou de circular há 15 anos. Na década passada, foram feitas tentativas para reativar a publicação. Primeiro, por iniciativa de um grupo de ex-funcionários; depois, pela editora que adquiriu o título em leilão. Mudanças no mercado e o avanço da Internet, com os novos e práticos meios de leitura digital, tornaram-se obstáculos intransponíveis no caminho de volta da Manchete como veículo impresso.
Restou a memória, como nesse caso, de várias gerações de leitores da revista.
O engenheiro que se vê em uma foto publicada na Manchete e tirada no dia 2 de abril de 1964 guardou a revista. Ele conta que a imagem foi feita na Av. Rio Branco, esquina da Rua São José, no Centro do Rio de Janeiro. O país ainda estava sob o impacto do golpe e uma multidão foi às ruas apoiar a intervenção militar. Na foto, no círculo preto, está o citado engenheiro, então com 26 anos. Ele observa que foi à passeata acompanhado de uma cunhada e da sogra, "um católica que deixou saudades". "Uma importante característica da amostra representativa das pessoas da passeata fotografada: nenhum negro" - ele escreve, ao ressaltar que ali está "a classe média branca, católica e udeno-lacerdista". O autor da mensagem - Olavo Cabral - comenta que os netos de muitos participantes daquela passeata devem estar hoje em protestos similares não na Av. Rio Branco, mas na Av. Paulista e na Vieira Souto e Delfim Moreira.  "O mais importante desses dados históricos" - diz ele - "é o fato de o jovem engenheiro que, na época, era um 'fascistinha de carteirinha', isto é, um 'señorito', como se dizia na Espanha, nos anos 30, saber, hoje, muito bem, como é o pensamento daqueles que vão hoje às passeatas". Para o autor da mensagem, nada mudou "nas cucas". "Nada mudou na cor da pele, na classe social e na ideologia dos passeantes". Ao fim da mensagem, ele constata: "O engenheiro mudou. Afinal, aconteceu, a partir daquela data da foto, uma ditadura militar repulsiva de 20 anos. O engenheiro teve a oportunidade de devorar leituras com importantes influências. Não se apressem: não foi Marx. Foi Bertie Russell e Bakunin. Lamento o lugar comum: apesar de fazer imensas restrições a "Pasionaria"e seu partido na Espanha, uso o seu grito: 'Non pasarán!'"