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quarta-feira, 13 de junho de 2018

Jornalismo: quem vai checar as agências de checagem?

por José Esmeraldo Gonçalves

Alguns veículos digitais alternativos pedem transparência ao mais novo e promissor nicho da comunicação: as agências de checagem.

E transparência nunca é demais.

O conceito de agência de checagem surgiu por volta de 1992, quando a CNN pediu a uma equipe de repórteres para investigar a veracidade dos anúncios da campanha presidencial de Bill Clinton e George Bush. Até então, dados da propaganda eleitoral escapavam à apuração jornalística e circulavam como verdades. Em eleições seguintes, o método foi adotado por veículos impressos regionais e nacionais dos Estados Unidos. Só após a virada para o século 21, com a velocidade e o crescente alcance dos sites jornalísticos e, em seguida, das redes sociais, foi fundado a FactCheck.org, uma agência independente. Desde então, esse sistema de checagem se espalhou por vários países.

Apurar corretamente e checar informações é ou deveria ser tarefa agregada ao bom jornalismo. Às vezes a premissa é relaxada na grande mídia por interesses econômicos, políticos, corporativos,  ideológicos, raciais, religiosos e sociais e até por falta de tempo e de profissionais (grandes veículos estão em processo de enxugamento das suas equipes). Por sua vez, a mídia digital, a velocidade inerente à internet e as redes sociais, principalmente estas, potencializaram tais distorções. Isso não quer dizer que a internet inventou a notícia falsa - manipulação de fatos por grandes veículos é uma realidade jurássica -, mas multiplicou por milhões de cliques as mais loucas ou mal-intencionadas pós-verdades e fake news.

O papel das agências de checagem em um país onde a mídia dominante é historicamente porta-voz das mensagens do poder econômico-financeiro e político seria em tese democrático. Pode tornar-se discutível se algumas relações de mercado ou posições políticas turvarem a desejada independência. São tão novas, principalmente no Brasil, que merecem ser seriamente discutidas.

É natural que algumas questões sejam levantadas. Seria aceitável um político contratar uma agência para investigar a campanha eleitoral do adversário ou isso fugiria à ética do checador, tornando-o parte da campanha que deveria investigar? Agência de checagem investigar reportagens ou notas originadas na velha mídia, por exemplo, é fato tão raro quanto o unicórnio cor de rosa. O que a impede? O corporativismo, a eventual prestação de serviços aos grandes veículos, o foco apenas nas mídias sociais e nos sites jornalísticos não vinculados a grandes corporações de mídia?  As agências de checagem chegaram ao Brasil há cerca de três anos em meio à radicalização política do país, isso as deixou imunes ou expostas a investigações seletivas? Agência de checagem não é um veículo no sentido jornalístico da palavra. Presta serviço sob demanda do cliente. Uma prova de transparência seria publicar e manter atualizada sua relação de contratantes.

Nos últimos dias, pelo menos duas polêmicas com conteúdo político envolveram agências de checagem. Você pode saber detalhes clicando AQUI e AQUI

Uma consequência irônica do quadro: se não houver mais transparência, será preciso criar agências de checagem para checar agências de checagem. Especialmente em um ano eleitoral.  O lado bom dessa surreal redundância é que o Brasil seria pioneiro em um novo nicho da comunicação...

Outra possibilidade aguardada é a "checagem cidadã": futura popularização de aplicativos de checagem do poderes, como Executivo, Legislativo e Judiciário, políticos, mercado financeiro, além de mídia e empresas, a partir de ferramentas à disposição do eleitor, contribuinte e consumidor,  muito além dos atuais "sites de transparência". Alguns desses aplicativos já estão em desenvolvimento. Eles vão rastrear a rede e confrontar informações com milhares de bancos de dados. Com um clique, você terá a verdade ou a mentira na tela do seu smartphone.