Mostrando postagens com marcador o adeus de Marcelo Yuka. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador o adeus de Marcelo Yuka. Mostrar todas as postagens

sábado, 19 de janeiro de 2019

Marcelo Yuka: o último voo

por José Esmeraldo Gonçalves

Em abril de 2014, a Revista Contigo! me escalou para entrevistar Marcelo Yuka. Fui à casa dele, na Hélion Póvoa, na Tijuca, ao pé da floresta.

O gancho da matéria era o lançamento do livro "Não se preocupe comigo", a biografia do compositor, baterista, ex-integrante do Rappa e ativista, escrita pelo amigo e produtor Bruno Levinson.

Acho que nos primeiros vinte minutos de conversa, diante do ritmo em torno, com Yuka e sua equipe se multiplicando em projetos, o show que faria no mês seguinte, o lançamento do livro, o trabalho social em comunidades carentes, a agenda de palestras e até uma possível exposição de pinturas, encontrei um título para a entrevista que pouco começara: "O homem que sabe voar".

A imagem me veio à cabeça ao vê-lo na cadeira de rodas, confessando que sofria dores permanentes, inclusive naquele instante, e nem por isso desatento ao entorno e ao entrevistador. A todo momento, alguém da equipe o consultava sobre um ou outro detalhe dos projetos. Ao ver que eu o observava, antes de retomar a conversa, Yuka quis justificar a rotina acelerada: "Trabalho para escapar da depressão. Vivo no limite o tempo todo", disse, com um disfarçada tristeza. Mas a entrevista acabaria passando bem longe de  um tom inicial de tristeza.

Naquela cadeira, de onde decolava rumo aos seus ideais, Yuka vencia seu drama.

Ao publicar a matéria,  a revista não usou o título que sugeri. Mas que Yuka voava naquela cadeira, eu vi de perto.

* Marcelo Yuka morreu ontem, no Rio, vítima de um AVC e de infecções. O artista se despede  aos 53 anos, pouco mais de 18 anos após ser vítima de um assalto e dos nove tiros que o deixaram paraplégico desde 2000. 


Neste link, a reprodução da entrevista acima citada e já publicada neste blog. AQUI