O Globo/Reprodução |
por Gonça
Ontem ocorreu a entrega da Bola de Ouro. É uma espécie de Oscar do futebol mundial que, na prática, é uma premiação restrita à Europa.Se existisse nos anos 60, não teria apontado Pelé, que não atuou por clubes daquele continente. Mas não deixa de ser um importante reconhecimento aos artistas da bola. Por falar em Pelé, ele compareceu à cerimônia em Zurique. Os vencedores da noite, incluindo o genial argentino Messi, fizeram questão de posar ao lado do maior craque de todos os tempos. Ronaldo também subiu ao palco, foi quem entregou o troféu ao argentino. Vendo as imagens pela internet e ouvindo as entrevistas, me ocorre uma evidência: Pelé e Ronaldo, quanta diferença, embora ambos tenham sido execepcionais. Um foi craque o tempo todo em uma longa carreira. Ganhou todos os títulos possíveis. O outro, teve trajetória mais curta, interrompida por graves contusões que o deixaram, em duas ocasiões, meses fora dos gramados; viveu episódios controvertidos como a famosa "convulsão" no mundial de 1998, os 100 quilos da Copa de 2006... Um fez sua brilhante carreira no Brasil, tornou-se um ídolo mundial, mas fez rolar sua magia no Maracanã, em outros estádios brasileiros, além de conquistar platéias em todos os continentes. Com a Seleção e com o lendário Santos da sua época. Ronaldo foi apresentado ao Maracanã já na segunda metade da sua atribulada carreira. Até na festa do Bola de Ouro, essa diversidade entrou em campo quando o tema foi Neymar, um craque em ascensão. Pelé tem defendido a permanência do garoto no Brasil. Sabe que em algum momento o moicano vai para a Europa. É inevitável. Mas Pelé considera precioso para o futebol brasileiro, especialmente para as novas gerações de jogadores e de torcedores, o tempo de Neymar no Santos. Quanto mais, melhor. Já Ronaldo, hoje empresário e, diz-se, com interesses em vários jogadores, declara que Neymar é "um talento muito grande para ficar só no Brasil". "É egoismo", decreta. Duas observações. Se Neymar é muito grande para o Brasil, conclui-se que o Brasil é pequeno para Ronaldo. E, "egoismo" de quem? Pelo que se sabe, a decisão de permanecer no futebol brasileiros por mais um tempo foi do próprio Neymar com o apoio do pai do jogador. Pesou mais a vontade de ficar do que do montante para sair. O próprio Neymar falou que queria retribuir um pouco mais a força que sempre recebeu da torcida do Santos. Mas disso, Ronaldo, que fez sua carreira - brilhante apesar dos percalços - fora do Brasil, não tem ideia. Seu contato próximo com a mística das torcidas de clubes do seu próprio país só se deu na reta final, já no Corinthians, em uma fase, praticamente, de exibição.
Marta e a decepção. Futebol feminino é jogo na vera ou reality show?
Após cinco vitórias, Marta perdeu a Bola de Ouro para a japonesa Homare Sawa. O fato de o Japão ser o atual campeão mundial certamente influenciou os eleitores. Mais do que perder o troféu, a brasileira lamentou a atual fase do futebol feminino no Brasil. De fato, a bola das moças não decola. Por vários motivos. A própria Seleção feminina tem frustrado a torcida em momentos decisivos nas competições internacionais. Mas falta de apoio não é. Vários clubes, como o Vasco e o próprio Santos, que agora acabou com seu time feminino, as "Sereias da Vila", investiram na modalidade. A CBF banca sozinha a Seleção. As televisões ensaiaram coberturas mais regulares. Em vão. Não há campeonatos, não há patrocinadores, nem público. As meninas só atraem alguma atenção quando se reúnem na Seleção, que se torna uma espécie de Harlem Globetrotters ocasional. Nem as mulheres, digo, as torcedoras, parecem se motivar. Há mais meninas nas arquibancadas de jogos do Vasco, Flamengo, Internacional, Coritiba, Náutico, Corinthians, Palmeiras etc do que o futebol feminino jamais viu em uma década. Há muitas escolinhas de futebol feminino espalhadas pelo país mas daí a torná-lo um esporte de massa a estrada é longa. Não há marketing, patrocinador, boa intenção que lote estádios se o público não quiser ir. Apesar de Marta - como no tênis, apesar do Guga -, o futebol feminino é, no Brasil, um chute de longa distância. Uma aposta para o futuro. E bota futuro nisso. Até lá, sem campeonatos de clubes que mereçam esse nome, sem regularidade, a seleção entrará em campo em Olimpíadas, no Pan, no Mundial ou em torneios caça-níqueis. Como se jogasse um reality show.
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Ontem ocorreu a entrega da Bola de Ouro. É uma espécie de Oscar do futebol mundial que, na prática, é uma premiação restrita à Europa.Se existisse nos anos 60, não teria apontado Pelé, que não atuou por clubes daquele continente. Mas não deixa de ser um importante reconhecimento aos artistas da bola. Por falar em Pelé, ele compareceu à cerimônia em Zurique. Os vencedores da noite, incluindo o genial argentino Messi, fizeram questão de posar ao lado do maior craque de todos os tempos. Ronaldo também subiu ao palco, foi quem entregou o troféu ao argentino. Vendo as imagens pela internet e ouvindo as entrevistas, me ocorre uma evidência: Pelé e Ronaldo, quanta diferença, embora ambos tenham sido execepcionais. Um foi craque o tempo todo em uma longa carreira. Ganhou todos os títulos possíveis. O outro, teve trajetória mais curta, interrompida por graves contusões que o deixaram, em duas ocasiões, meses fora dos gramados; viveu episódios controvertidos como a famosa "convulsão" no mundial de 1998, os 100 quilos da Copa de 2006... Um fez sua brilhante carreira no Brasil, tornou-se um ídolo mundial, mas fez rolar sua magia no Maracanã, em outros estádios brasileiros, além de conquistar platéias em todos os continentes. Com a Seleção e com o lendário Santos da sua época. Ronaldo foi apresentado ao Maracanã já na segunda metade da sua atribulada carreira. Até na festa do Bola de Ouro, essa diversidade entrou em campo quando o tema foi Neymar, um craque em ascensão. Pelé tem defendido a permanência do garoto no Brasil. Sabe que em algum momento o moicano vai para a Europa. É inevitável. Mas Pelé considera precioso para o futebol brasileiro, especialmente para as novas gerações de jogadores e de torcedores, o tempo de Neymar no Santos. Quanto mais, melhor. Já Ronaldo, hoje empresário e, diz-se, com interesses em vários jogadores, declara que Neymar é "um talento muito grande para ficar só no Brasil". "É egoismo", decreta. Duas observações. Se Neymar é muito grande para o Brasil, conclui-se que o Brasil é pequeno para Ronaldo. E, "egoismo" de quem? Pelo que se sabe, a decisão de permanecer no futebol brasileiros por mais um tempo foi do próprio Neymar com o apoio do pai do jogador. Pesou mais a vontade de ficar do que do montante para sair. O próprio Neymar falou que queria retribuir um pouco mais a força que sempre recebeu da torcida do Santos. Mas disso, Ronaldo, que fez sua carreira - brilhante apesar dos percalços - fora do Brasil, não tem ideia. Seu contato próximo com a mística das torcidas de clubes do seu próprio país só se deu na reta final, já no Corinthians, em uma fase, praticamente, de exibição.
Marta e a decepção. Futebol feminino é jogo na vera ou reality show?
Após cinco vitórias, Marta perdeu a Bola de Ouro para a japonesa Homare Sawa. O fato de o Japão ser o atual campeão mundial certamente influenciou os eleitores. Mais do que perder o troféu, a brasileira lamentou a atual fase do futebol feminino no Brasil. De fato, a bola das moças não decola. Por vários motivos. A própria Seleção feminina tem frustrado a torcida em momentos decisivos nas competições internacionais. Mas falta de apoio não é. Vários clubes, como o Vasco e o próprio Santos, que agora acabou com seu time feminino, as "Sereias da Vila", investiram na modalidade. A CBF banca sozinha a Seleção. As televisões ensaiaram coberturas mais regulares. Em vão. Não há campeonatos, não há patrocinadores, nem público. As meninas só atraem alguma atenção quando se reúnem na Seleção, que se torna uma espécie de Harlem Globetrotters ocasional. Nem as mulheres, digo, as torcedoras, parecem se motivar. Há mais meninas nas arquibancadas de jogos do Vasco, Flamengo, Internacional, Coritiba, Náutico, Corinthians, Palmeiras etc do que o futebol feminino jamais viu em uma década. Há muitas escolinhas de futebol feminino espalhadas pelo país mas daí a torná-lo um esporte de massa a estrada é longa. Não há marketing, patrocinador, boa intenção que lote estádios se o público não quiser ir. Apesar de Marta - como no tênis, apesar do Guga -, o futebol feminino é, no Brasil, um chute de longa distância. Uma aposta para o futuro. E bota futuro nisso. Até lá, sem campeonatos de clubes que mereçam esse nome, sem regularidade, a seleção entrará em campo em Olimpíadas, no Pan, no Mundial ou em torneios caça-níqueis. Como se jogasse um reality show.
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