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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Demolição do Maracanã: a política da picaretagem (no sentido ferramental)

por Gonça
Há alguns anos, João Havelange, andou pregando em colunas de jornais a idéia da demolição do Maracanã. Pôr tudo abaixo, era a palavra de ordem do ex-presidente da Fifa e hoje acusado de ter recebido propina da ISL, empresa com interesses suspeitos e atualmente investigados no futebol mundial. O Maracanã era, segundo ele, irremediavelmente obsoleto. Na época, cariocas mais preocupados com a cidade, o futebol e sua memória, reagiram com indignação. Não se falou mais nisso e o Maracanã foi até reformado. Agora, no embalo da Copa de 2014, que é o pretexto pra tudo, os defensores da destruição do estádio, levaram a melhor. E ainda divulgam uma mentira. Dizem que atendem a exigências da Fifa. Não há um só documento da entidade que dirige o futebol em que esteja expressa a exigência de demolição do Maraca. Que fique claro: o Maracanã só foi ao chão por interesses do governo do estado na futura privatização. O presente de mais de 1 bilhão de reais que o poder público prepara para um sortudo a caminho. Claro que a Fifa exige modernização, detalhes como acomodação para a imprensa, visibilidade do campo igual para todos os lugares etc. Mas não obriga a destruição total.  Sabe-se que o Maracanã é (era) tombado. Conclui-se, então, que as instituições de defesa do patrimônio tomaram uma tremenda bola nas costas. Ou compactuaram com o jogo jogado. Fico pensando no que diz o pai e xará do atual governador em conversa familiar na mesa de jantar em um fim de domingo. Ex-cronista esportivo, jornalista competente, pesquisador musical, com o nome ligado ao Rio nas suas maiores expressões, o samba e o futebol, será que Sérgio Cabral, pai, foi convencido pelo Sergio Cabral, filho, de que a picaretagem, no sentido ferramental, era a melhor solução para o Maracanã? Sei não. Em 2006, a Alemanha sediou a Copa. O jogo final foi no histórico Estádio Olímpico de Berlim, de 1934, que foi reformado mas não destruido. Ao contrário, foram preservadas e ressaltadas suas características arquitetônicas. E olha que o velho estádio foi construido por Hitler, o que já seria um excelente pretexto para passar o trator. Só que a opção foi guardar a memória de um complexo que sediou as Olimpíadas de 1936 e que viu um atleta negro, o americano Jesse Owens, derrotar na cara do "Führer" a  propagada "supremacia ariana". Por aqui, como dizia um ministro da ditadura, "às favas com os escrúpulos". Uma autoridade até admite que os conjuntos esportivos Júlio Delamare e Célio de Barros, que ficam ao lado do Maracanã, também devem ser demolidos para "tornar maias atraente" a privatização anunciada. Ou seja: o gol contra da picareta no Maracanã, hoje, é apenas a preliminar do martelo do leilão, amanhã. A Fifa não é vestal mas não tem nada a ver com isso.
E o Rio, bom, o Rio é apenas a vítima.