Em artigo publicado no Globo e na Folha, hoje, Elio Gaspari analisa os podres poderes dos golpistas.
Torna-se claro que os fichas-sujas que governam o país deixam de lado os escrúpulos, como pregou o cinismo de um ministro da ditadura, e aceleram o assalto ao planalto.
Há poucos dias, foi revelado um encontro entre o presidente interino e o ex-presidente da Câmara. Seria inacreditável, a essa altura, se não fosse rotineiro. Eles se "consultam" normalmente. Não se sabe se governam a uma cabeça e quatro mãos ou se a duas cabeças e duas mãos.
Provavelmente tinham muito o que conversar: ambos sofrem pesadelos e suores noturnos com o ectoplasma de gravadores fantasmagóricos.
Gaspari comenta a perícia que desmoralizou a tese das "pedaladas" e conclui o óbvio: a simulação do "julgamento" para depor Dilma Rousseff. Ou seja: o golpe.
A propósito, leia um trecho da entrevista que a presidente afastada concedeu à Pública (Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo). Dilma Rousseff reponde a uma pergunta da repórter Natália Viana.
Natalia Viana: Presidente, como a senhora avalia que seu impeachment, se for confirmado, vai afetar outros países latino-americanos e a política latino-americana?
Dilma: Eu acho que já começou a afetar antes, primeiro pela importância do Brasil na região. Mas acho que você tem hoje, no mundo latino-americano, essa variante do golpe parlamentar já feito antes de nós. Isso ocorreu com Paraguai, com Honduras. [O impeachment de Fernando Lugo, no Paraguai] foi durante a Rio+20. Eu sei porque a gente mandou os chanceleres lá para tentar evitar, e não conseguimos. O que está ocorrendo? Eu acho que é uma nova forma de retirar governos que criam descontentamento [em relação] à oligarquia econômica, ou política, ou um grupo de interesses, que se considera descontente em relação a alguma das características do governo em exercício. Aí o que eles fazem? Dão um golpe parlamentar. Em que consiste um golpe parlamentar? Ele não é igual a um golpe militar. Um golpe militar não só extingue o governo em questão, mas acaba também com o regime democrático. Tem uma característica: você tira o governo e mantém o regime democrático. Agora, tem um preço para se fazer isso. Você compromete suas instituições, você cria cicatriz na sociedade. Você, muitas vezes, impede a recomposição do tecido democrático. Então tem uma consequência grave. E acho que criará, na América Latina, uma instabilidade.
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quarta-feira, 29 de junho de 2016
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