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domingo, 29 de setembro de 2019

A história secreta do castelinho que virou Manchete

As duas primeiras casas foram ao chão em nome da expansão do conjunto de prédios
da Manchete. A última, tombada, resistiu. Foto/D.A

A ponta final da Rua do Russell, no sentido do antigo Hotel Glória ao também extinto Hotel Novo Mundo, sofreu abalos arquitetônicos no anos 1970-1980. E coube à Manchete passar o trator em algumas construções da área.

O blog teve acesso a uma rara foto da configuração original da rua. A imagem foi feita no dia 17 de maio de 1972, uma terça-feira pós-fechamento da revista, a partir do terraço do primeiro prédio da Bloch, projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado no fim dos anos 1960.

Disposto a expandir a sede, Adolpho Bloch comprou o castelinho. Curiosamente, a casa tinha um pé direito na mídia. Pertencia a José Soares Maciel Filho, que foi ligado a Getúlio Vargas (fundou o jornal A Nação destinado a defender o governo do amigo e também foi dono do O Imparcial). Ele faleceu em 1975. Adolpho adquiriu dos herdeiros a casa que cedeu lugar ao segundo prédio do conjunto inaugurado em 1980, também projetado por Niemeyer.

Anos depois, ao receber do governo federal a concessão dos canais da Rede Manchete, a Bloch quis construir um terceiro prédio. A negociação foi um pouco mais demorada. A proprietária residente não queria inicialmente deixar a casa, a segunda na foto, de torres menores. Por incrível que pareça, coube a um contínuo da revista Manchete, apelidado de Sammy Davis  pela semelhança com o ator e cantor americano. convencê-la a vender. Sammy, que soube na redação da pretensão da Bloch, se ofereceu para resolver o impasse e passou meses argumentando como bom carioca. Contam os corredores que coube a ele o êxito da negociação. Se é verdade ou não, a casa foi abaixo para o terceiro edifício assinado por Niemeyer.

A Casa Villino: a única a resistir
à expansão do conjunto de
prédios da Manchete. 
Reprodução Instagram
A terceira casa vista na foto, vizinha ao edifício de apartamentos, resistiu à expansão do conjunto de prédios da Manchete. Não se sabe se Adolpho Bloch pensou em comprá-la. O fato é que ela sobreviveu e é hoje imóvel tombado, assim como todo o conjunto que pertenceu à Manchete.

Ainda bem que o último imóvel daquele trecho da rua resistiu. Trata-se da Casa Villino Silveira, de 1915, projetada pelo arquiteto italiano Antônio Virzi. Ali morou o fabricante do Elixir de Nogueira, Gervásio Renault da Silveira. A casa é um exemplo do estilo art nouveau e, ainda com a Manchete funcionando, abrigou um restaurante. Restaurante caro e obviamente não frequentado pelo proletariado da Rua do Russell, que continuou fiel ao Color Bar, point etílico situado no térreo do prédio de apartamentos que fecha a foto histórica e cheia de histórias.