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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Jornalismo: quando a corrupção gera vasto conteúdo audiovisual e alimenta todas as plataformas.


Propina é, como se sabe, bíblica. Em troca de 30 moedas, Judas topou uma delação premiada para entregar Jesus. O fato, na época, não vazou e não virou capa de pergaminho. Só entre 70 a 90 anos depois de Cristo, estima-se, os escritos de Mateus ganharam a forma de evangelho e o escândalo veio à luz. Ao longo dos séculos, casos escandalosos nas vilas, cortes, castelos e papados eram apenas cochichados nos becos e salões e só depois, na poeira dos tempos, viravam material para historiadores.

Os meios de comunicação de massa e a intensidade do audiovisual potencializaram a divulgação multimídia dos escândalos. Seja qual for a editoria - política, economia, realeza, celebridades, esporte, sexo ou religião -  em 90% dos casos aparecem fotos, vídeos, gravações e mensagens de texto. Os outros 10% de audiovisual não caem na web e na mídia não porque não existam, mas geralmente por envolver figuras poderosas que, com um aceno, "selecionam" o vazamento.

Para não ir muito longe: corruptos brasileiros notórios, a partir do anos 1950, colecionaram muitas falcatruas mas deixaram pouco material ilustrativo. Mesmo os casos que se transformaram em ruidosos processos ofereceram, no máximo, alguns documentos, uma carta, um bilhete, um ou outro sinal exterior de riqueza. Suspeitas sobre antigas concessões de energia elétrica, de bondes, ferrovias, a construção de Brasília, a operação fraudulenta que destruiu a Panair do Brasil, os bastidores das grandes obras do regime militar, os escândalos financeiros da ditadura, entre os quais os casos Delfin, Lutfalla, Paulipetro, Halles etc. Na década de 1980, o chamado Escândalo da Mandioca, o Coroa-Brastel, o Caso Capemi, o BrasilInvest. Nos anos 1990, os processos que levaram à renúncia de Collor antecederam à fila de eventos dos governos seguintes: os casos Sivam, Banestado, Anões do Orçamento, Banco Nacional, Banco Econômico, Caso Marka e Fonte Cindam, Encol, Precatórios, Privataria etc.

Em comum, tais operações não deixaram vídeos nem flagrantes marcantes. Esse tempo acabou.

Na era digital, principalmente a partir de 2000, a corrupção passou a gerar multimídia quase on line. Além de visual detalhado com cenas de prisões, interior de celas, sítios, apartamentos, viagens, vídeos e áudios que flagram tramoias e armações, os escândalos atuais fazem dos seus protagonistas e coadjuvantes as "celebridades" do momento, os "famosos", no jargão dos sites especializados. Quase sempre, nos rastro das investigações surgem musas que a Playboy acaba estampando. Imagens de festas, mansões, Ferrari, jóias etc, completam o efeito ostentação que torna o noticiário ainda mais atraente. Não só o noticiário, livros e filmes completam o panorama. Antes mesmo das sentenças, a indignação popular com a corrupção parece experimentar algum alívio diante de imagens explícitas de conduções coercitivas, prisões, cabeças raspadas. O luxo substituído pelo esculacho, o olhar humilde em lugar do riso altivo, o uniforme prisional em lugar da roupa de grife.

Isso impressiona as massas escandalizadas.

A maior parte desse material que compõe o atual docudrama brasileiro vem a público através de "vazamentos" geralmente motivados por interesses partidários ou é repassada à mídia por figuras citadas nas investigações, desde delatores e indiciados que fizeram suas próprias gravações a adversários políticos dos envolvidos.

São muitos os exemplos midiáticos nos últimos anos, mas um deles tornou-se quase que a síntese de tudo o que está dito acima. Há cinco anos, no dia 27 de abril de 2012, o Blog do Garotinho, um desafeto de Sérgio Cabral, divulgou uma inesquecível sequência de fotos daqueles que ficaram conhecidos como a Turma do Guardanapo: o então governador do Rio de Janeiro e seus alegres parceiros.

Eram felizes e sabiam.


A foto acima foi publicada no Blog do Garotinho, há cinco anos, no dia 27 de abril de 2012.
Teria sido feita em 2009, supostamente no Hotel Ritz, em Paris. Da esquerda para a direita, Sérgio Côrtes, ex-secretário de Saúde, atualmente preso no Rio; Joaquim Levy, de barba, atrás, ex-secretário da Fazenda no governo Sérgio Cabral, é atual diretor no Banco Mundial e não tem o nome citado em investigações; Sérgio Dias, ex-secretário de Urbanismo da cidade do Rio de Janeiro (a mulher dele teria recebido dinheiro do grupo de Cabral); Wilson Carlos, secretário direto de Sérgio Cabral, está preso em Curitiba; Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, é delator na Lava-Jato; Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, atualmente preso em Bangu 8; Aloysio Neves, presidente afastado no TCE-RJ, preso no Rio; George Sadala, empresário com negócios junto ao governo Sérgio Cabral; e Fernando Cavendish, agachado, ex-dono da Delta, que foi preso no ano passado e agora responde a processo em liberdade. O ex-governador Garotinho, que divulgou as fotos, chegou a ser preso no ano passado, pagou fiança e responde em liberdade a processo do Tribunal Superior Eleitoral que o acusa de compra de votos por meio de programa assistencial em Campos dos Goytacazes (RJ). Foto: Reprodução