Le Monde aborda esse semana um tema que nunca encontrou muito espaço na mídia conservadora da América do Sul e nem na agenda ambiental do governo brasileiro. Trata-se de uma tragédia ambiental silenciosa que abateu a Colômbia por mais de 20 anos. A omissão das autoridades e da mídia se explica, em parte, porque o país é uma espécie de queridinho dos colunistas de economia neoliberais. A maioria aponta a terra de Pablo Escobar como um oráculo para a região. Sabe-se que, entre outras concessões, a Colômbia abriu mão da soberania em várias áreas de governo. Medidas na área econômica e de defesa interna são implantadas no país após decisões tomadas a milhares de quilômetros de distância.
Uma delas pode atingir o Brasil. E nem o governo brasileiro, agora acossado por tentativa de golpe, está atento ao problema. Pelo menos, não se tem conhecimento de qualquer iniciativa ou consulta à Colômbia sobre o fato. Durante anos, na guerra contra as drogas, a a Colômbia lançou de aviões militares toneladas de glifosato. O objetivo era destruir plantações de coca. Ocorre que a contaminação pode ter ido parar em rios que formam a Bacia Amazônica. Resumindo: trechos brasileiros de cursos d'água podem estar envenenados. Depois de protestos e denúncias de organizações internacionais, a pulverização foi suspensa só há poucos dias. Suspensa, não encerrada definitivamente. Estudos indicam que o herbicida permanece ativo na água durante um ano, segundo pesquisadores. Mas nem essa informação é confiável. Na verdade, cientistas da Universidade de Colúmbia admitem desconhecer os efeitos da substância a longo prazo. OMS aponta o glifosato como um cancerígeno poderoso. É o mesmo ingrediente presente no "agente laranja" com o qual os Estados Unidos bombardearam durante dez anos as florestas e plantações do Vietnã. Cerca de 600 mil soldados americanos foram afetados pelo desfolhante, já que combateram em áreas envenenadas pela própria Força Aérea.
Não há estatísticas conhecidas quanto aos danos humanos provocados na Colômbia. Os efeitos vão de câncer a malformações cerebrais de bebês.
Assim como não se tem notícia de qualquer monitoramento feito pelo governo brasileiro nas águas da fronteira da região amazônica.
A falta de ação não surpreende: o Brasil - onde os fabricantes de agrotóxicos ostentam bancadas ativas no Congresso - é uma espécie de campeão mundial no uso de glifosato na agroindústria. Além dos problemas ambientais e de saúde, o descontrole causa até prejuízo a exportações, já que alguns países boicotam entrada de produtos brasileiros por contaminação química.
Se não cuida do seu próprio veneno, porque o Brasil procuraria investigar se vazou, ou o quanto vazou, "agente laranja" colombiano nos rios da Amazônia?
O jornalismo investigativo que vive de "vazamentos" poderia correr atrás dessa pauta.
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sexta-feira, 30 de outubro de 2015
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