Que a Veja tem um longo histórico de apostas inacreditáveis, basta consultar a coleção da revista. A capa da edição desta semana está agitando as redes sociais.
Aparentemente, na busca de uma exclusiva, os editores fizeram uma jogada de risco. Foram buscar na internet profunda, a chamada Deep Web, o "Anhangá", um sujeito que se apresenta como membro de uma organização terrorista que se intitula "ecoextremista" e atende pelo bucólico nome de "Sociedade Secreta Silvestre". Das profundezas digitais, ele denuncia um suposto plano da SSS para matar Jair Bolsonaro, Ricardo Salles e Damares Alves.
Um jornalista da revista alega ter feito contato com o terrorista através do ambiente da Deep Web que é irrastreável, o que também torna difícil, quase impossível, confirmar a fonte da informação. O "Deep Troath" da Veja diz que tem contato com uma organização terrorista internacional, a "Individualistas que Tendem ao Selvagem (ITS), que fornece know how ao braço brasileiro da multinacional do terror. "Anhangá" se diz preparado e vai botar pra quebrar. Queria, por exemplo, segundo a revista, atacar Bolsonaro logo na posse, mas adiou a ação por causa do forte esquema de segurança. Em vez disso, os "Silvestres"teriam colocado uma bomba em uma igreja católica a quilômetros de distância do Planalto. Apesar da assessoria técnica do ITS, a artefato não explodiu, supostamente por falha no detonador. O que a igreja tinha a ver com as calças, o terrorista e a revista não explicam. Depois, apesar de "ecologista", a "Sociedade Secreta Silvestre" teria incendiado carros do Ibama, precisamente a instituição que tenta defender o que resta da Amazônia e que, por isso, tem sofrido fortes pressões do atual governo. O terrorista e a revista nem tentam explicar a contradição.
A Veja diz que a Polícia Federal está investigando os terroristas silvestres. Esperar que as autoridades botem a mão no Anhangá talvez seja a única chance de provar mais essa inacreditável e especulativa reportagem de capa da revista que agora pertence a executivos do mercado financeiro.
Até aqui, o fato faz lembrar dois momentos tão surpreendentes quanto ridículos do bravo jornalismo brasileiro. Um, tendo a própria Veja como protagonista, foi o famoso caso do "Boimate". Os editores da revista leram na britânica New Scientist uma piada publicada no Dia da Mentira, brincadeira comum adotada tradicionalmente pelos veículos locais. Só que Veja acreditou e reproduziu a matéria que dava conta de um fantástico feito científico: a fusão de células bovinas com tomates que resultaram em uma nova espécie, a Boimate. A vantagem, dizia a Veja, seria poder colher um dia um filé ao molho de tomate diretamente da horta. Depois de sofrerem merecida gozação, os editores pediram desculpas aos leitores.
O outro momento deep foi do programa do Gugu. Talvez por achar complicado entrevistar bandidos do PCC, a produção resolveu... produzir. Arrumaram dois mascarados que, entrevistados, deram uma lista de autoridades e jornalistas ameaçados de morte. A farsa foi desmascarada e o SBT multado.
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sexta-feira, 19 de julho de 2019
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