Quase chegando lá. Polícia do Pensamento, sabe-se, é a instituição do país fictício criado por George Orwell no livro 1984. Uma espécie de força-tarefa do MP da Oceânia, Lestásia e Eurásia destinada a antecipar o controle de idéias, pensamentos e abortar ações subversivas quando ainda gestadas no cérebro.
Quando o humorista Danilo Gentili reclamou de uma critica ao seu filme "Como se tornar o pior aluno da escola", a Folha demitiu o autor da entrevista, o repórter Diego Bargas. Coincidentemente, o jornal anuncia parceria de marketing em torno da obra que originou o longa-metragem, na base do compre o livro e veja o filme. Mas isso não deve ter nada a ver.
Diego dançou e a Folha alegou que opiniões antigas emitidas pelo jornalista nas redes sociais estariam em desacordo com as normas da redação.
Daí, danem-se os escrúpulos, o jornalão dos Frias baixou o que a redação está chamando de AI-5. Digamos que no "decreto" há itens aceitáveis em relação à responsabilidade profissional sobre informações internas da redação, bastidores de reportagem, sigilo sobre conteúdos, matérias exclusivas etc. O problema é quando o documento amplia o AI-5 e veta pensamentos ou atitudes como um jornalista da Folha, imagine, "apoiar um dos lados em uma controvérsia", isso mesmo, até fora do horário de trabalho e nas redes sociais privadas.
A linguagem do AI-5 da Folha parece detalhada, como se fosse uma peça jurídica, mas tem brechas de imprecisão. Quer ver? Teoricamente, se a mulher de um repórter tiver uma desavença com a sogra e este apoiar um dos lados da "controvérsia" e publicar isso no seu Face, estará infringindo a lei de segurança da Folha. Se vibrar Facebook ou no Instagram com a vitória do Palmeiras será chamado aos costumes. Se postar um vídeo de uma "controvérsia" nas ruas, por exemplo, um magistrado dando carteirada e ofendendo um guarda municipal poderá ser enquadrado. Mas há também trechos de puro bom humor, como o que diz que a da Folha "tem o apartidarismo como princípio editorial".
O que o jornal botou no papel é o seguinte; a Folha acredita que ao pagar um salário aos seus funcionários e remunerar seus colunistas e colaboradores está comprando também suas ideias e pensamentos fora do horário de trabalho e fora das funções de cada um. E deixa isso bem claro para quem manda e para quem obedece.
Curiosamente 1: o manual vazou. O que já implica em um "infração" por parte de quem divulgou um "documento interno" da empresa. Mas a Folha não deve reclamar disso, já que legitimou tantos vazamentos nos últimos anos.
Curiosamente 2: a Folha enquadra a rede social quando demissão do repórter Diego Borges não teve a ver com internet mas com matéria publicada no impresso. E aí fica a pergunta: a "sharia" da Folha não vai inibir críticas ou aguçar instintos de sobrevivência? Vai que o dono do filme, do livro, da empresa, do museu, do ministério, da prefeitura não goste do que for publicado? Vai valer a "jurisprudência" do caso Diego Borges?
Melhor o pessoal criar avatares para suas contas pessoais na rede. E avatares acima de qualquer suspeita. "Gentili do Morumbi", "Bolsonaro do Tatuapé", "Temer do Jaburu" e "Kataguiri da Vila Matilde" são boas sugestões.
Conheça ato institucional da Folha
1. A Folha encoraja seus profissionais a manter contas em redes sociais. Podem ser ferramentas úteis para fazer novos contatos e cultivar antigos, pesquisar pautas, tendências e personagens, agilizar apurações e promover conteúdo próprio e de colegas de jornal, expandindo o alcance do material publicado;
2. Nas redes sociais, a imagem pessoal tende a se misturar com a profissional. Parcela do público pode pôr em dúvida a isenção daquele que, na internet, manifesta opiniões sobre assuntos direta ou indiretamente associados a sua área de cobertura, especialmente as opiniões de cunho político-partidário e em áreas de cobertura de tópicos controversos;
3. Mesmo que o faça fora do horário de trabalho e ressalve que aquela é uma posição pessoal, o jornalista fica sujeito a suspeição, assim como o veículo. Revelar preferências partidárias e futebolísticas ou adotar um lado em controvérsias tende a reduzir a credibilidade do jornalista e a
da Folha, que tem o apartidarismo como princípio editorial;
4. A melhor maneira de evitar armadilhas é assumir que conteúdo postado na internet é público, nunca desaparece e pode ser facilmente descontextualizado. O alerta também vale para ferramentas de comunicação privada nas redes sociais ou aplicativos de mensagens;
5. A responsabilidade pelos comentários em página pessoal nas redes sociais é exclusiva do jornalista, mas uma manifestação imprudente, mesmo que não diga respeito a sua área de cobertura, pode dificultar o trabalho de colegas de Redação e, eventualmente, sua própria atuação futura. Assim como repórteres acompanham as redes sociais de pessoas públicas, as fontes, os possíveis entrevistados e grupos de pressão também consultam o perfil digital de jornalistas;
6. Tenha cuidado ao compartilhar conteúdos externos. O ato pode ser interpretado como endosso à opinião ou à veracidade da notícia. Ao postar conteúdo opinativo ou polêmico de terceiros, adicione uma introdução neutra. Exemplo: Dilma atacando o ex-vice. @dilmabr: A onda regressiva do governo golpista vai se agravando;
7. Além de seguir as orientações acima, o profissional não pode:
— antecipar reportagens e colunas que serão publicadas (incluindo teasers), mesmo as de sua autoria, salvo com autorização de seus superiores ou, se colunista, da Secretaria de Redação;
— divulgar bastidores da Redação ou dados e documentos internos da empresa, a menos que seja decisão do jornal;
— divulgar informação que o jornal decidiu não publicar por colocar em risco pessoas ou empresas (como sequestro em andamento ou boatos de falência, por exemplo);
— emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a reputação, a isenção ou a linha editorial da Folha ou de seus jornalistas;
— utilizar contas da Folha nas redes sociais em desacordo com os procedimentos e as condutas prescritas no Manual;
— destratar quem quer que seja. Em caso de insultos ou ofensas pessoais, responda educadamente ou ignore, mas jamais troque desaforos com quem quer que seja. Se pertinente, os superiores hierárquicos devem ser informados da altercação. Esse comportamento também é esperado de colunistas;
— postar conteúdo integral de reportagens e colunas. Em vez disso, deve-se publicar um link para a Folha, de preferência com uma amostra do material jornalístico. Na publicação de conteúdo jornalístico, incluindo imagens, o profissional da Redação deve dar prioridade às plataformas da Folha. O mesmo vale para análises e opiniões, dado que o jornal cultiva uma política de exclusividade;
8. A Empresa Folha da Manhã S.A. oferece serviço de assistência jurídica aos profissionais que dela necessitem em decorrência de sua atuação na Folha. Além disso, consultores jurídicos ajudam a esclarecer questões legais relacionadas a conteúdos jornalísticos que a Redação queira publicar.
Quando o humorista Danilo Gentili reclamou de uma critica ao seu filme "Como se tornar o pior aluno da escola", a Folha demitiu o autor da entrevista, o repórter Diego Bargas. Coincidentemente, o jornal anuncia parceria de marketing em torno da obra que originou o longa-metragem, na base do compre o livro e veja o filme. Mas isso não deve ter nada a ver.
Diego dançou e a Folha alegou que opiniões antigas emitidas pelo jornalista nas redes sociais estariam em desacordo com as normas da redação.
Daí, danem-se os escrúpulos, o jornalão dos Frias baixou o que a redação está chamando de AI-5. Digamos que no "decreto" há itens aceitáveis em relação à responsabilidade profissional sobre informações internas da redação, bastidores de reportagem, sigilo sobre conteúdos, matérias exclusivas etc. O problema é quando o documento amplia o AI-5 e veta pensamentos ou atitudes como um jornalista da Folha, imagine, "apoiar um dos lados em uma controvérsia", isso mesmo, até fora do horário de trabalho e nas redes sociais privadas.
A linguagem do AI-5 da Folha parece detalhada, como se fosse uma peça jurídica, mas tem brechas de imprecisão. Quer ver? Teoricamente, se a mulher de um repórter tiver uma desavença com a sogra e este apoiar um dos lados da "controvérsia" e publicar isso no seu Face, estará infringindo a lei de segurança da Folha. Se vibrar Facebook ou no Instagram com a vitória do Palmeiras será chamado aos costumes. Se postar um vídeo de uma "controvérsia" nas ruas, por exemplo, um magistrado dando carteirada e ofendendo um guarda municipal poderá ser enquadrado. Mas há também trechos de puro bom humor, como o que diz que a da Folha "tem o apartidarismo como princípio editorial".
O que o jornal botou no papel é o seguinte; a Folha acredita que ao pagar um salário aos seus funcionários e remunerar seus colunistas e colaboradores está comprando também suas ideias e pensamentos fora do horário de trabalho e fora das funções de cada um. E deixa isso bem claro para quem manda e para quem obedece.
Curiosamente 1: o manual vazou. O que já implica em um "infração" por parte de quem divulgou um "documento interno" da empresa. Mas a Folha não deve reclamar disso, já que legitimou tantos vazamentos nos últimos anos.
Curiosamente 2: a Folha enquadra a rede social quando demissão do repórter Diego Borges não teve a ver com internet mas com matéria publicada no impresso. E aí fica a pergunta: a "sharia" da Folha não vai inibir críticas ou aguçar instintos de sobrevivência? Vai que o dono do filme, do livro, da empresa, do museu, do ministério, da prefeitura não goste do que for publicado? Vai valer a "jurisprudência" do caso Diego Borges?
Melhor o pessoal criar avatares para suas contas pessoais na rede. E avatares acima de qualquer suspeita. "Gentili do Morumbi", "Bolsonaro do Tatuapé", "Temer do Jaburu" e "Kataguiri da Vila Matilde" são boas sugestões.
Conheça ato institucional da Folha
1. A Folha encoraja seus profissionais a manter contas em redes sociais. Podem ser ferramentas úteis para fazer novos contatos e cultivar antigos, pesquisar pautas, tendências e personagens, agilizar apurações e promover conteúdo próprio e de colegas de jornal, expandindo o alcance do material publicado;
2. Nas redes sociais, a imagem pessoal tende a se misturar com a profissional. Parcela do público pode pôr em dúvida a isenção daquele que, na internet, manifesta opiniões sobre assuntos direta ou indiretamente associados a sua área de cobertura, especialmente as opiniões de cunho político-partidário e em áreas de cobertura de tópicos controversos;
3. Mesmo que o faça fora do horário de trabalho e ressalve que aquela é uma posição pessoal, o jornalista fica sujeito a suspeição, assim como o veículo. Revelar preferências partidárias e futebolísticas ou adotar um lado em controvérsias tende a reduzir a credibilidade do jornalista e a
da Folha, que tem o apartidarismo como princípio editorial;
4. A melhor maneira de evitar armadilhas é assumir que conteúdo postado na internet é público, nunca desaparece e pode ser facilmente descontextualizado. O alerta também vale para ferramentas de comunicação privada nas redes sociais ou aplicativos de mensagens;
5. A responsabilidade pelos comentários em página pessoal nas redes sociais é exclusiva do jornalista, mas uma manifestação imprudente, mesmo que não diga respeito a sua área de cobertura, pode dificultar o trabalho de colegas de Redação e, eventualmente, sua própria atuação futura. Assim como repórteres acompanham as redes sociais de pessoas públicas, as fontes, os possíveis entrevistados e grupos de pressão também consultam o perfil digital de jornalistas;
6. Tenha cuidado ao compartilhar conteúdos externos. O ato pode ser interpretado como endosso à opinião ou à veracidade da notícia. Ao postar conteúdo opinativo ou polêmico de terceiros, adicione uma introdução neutra. Exemplo: Dilma atacando o ex-vice. @dilmabr: A onda regressiva do governo golpista vai se agravando;
7. Além de seguir as orientações acima, o profissional não pode:
— antecipar reportagens e colunas que serão publicadas (incluindo teasers), mesmo as de sua autoria, salvo com autorização de seus superiores ou, se colunista, da Secretaria de Redação;
— divulgar bastidores da Redação ou dados e documentos internos da empresa, a menos que seja decisão do jornal;
— divulgar informação que o jornal decidiu não publicar por colocar em risco pessoas ou empresas (como sequestro em andamento ou boatos de falência, por exemplo);
— emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a reputação, a isenção ou a linha editorial da Folha ou de seus jornalistas;
— utilizar contas da Folha nas redes sociais em desacordo com os procedimentos e as condutas prescritas no Manual;
— destratar quem quer que seja. Em caso de insultos ou ofensas pessoais, responda educadamente ou ignore, mas jamais troque desaforos com quem quer que seja. Se pertinente, os superiores hierárquicos devem ser informados da altercação. Esse comportamento também é esperado de colunistas;
— postar conteúdo integral de reportagens e colunas. Em vez disso, deve-se publicar um link para a Folha, de preferência com uma amostra do material jornalístico. Na publicação de conteúdo jornalístico, incluindo imagens, o profissional da Redação deve dar prioridade às plataformas da Folha. O mesmo vale para análises e opiniões, dado que o jornal cultiva uma política de exclusividade;
8. A Empresa Folha da Manhã S.A. oferece serviço de assistência jurídica aos profissionais que dela necessitem em decorrência de sua atuação na Folha. Além disso, consultores jurídicos ajudam a esclarecer questões legais relacionadas a conteúdos jornalísticos que a Redação queira publicar.