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| Reproduzido do X |
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| Reproduzido do X |
por O.V. Pochê
Difícil acompanhar. É extensa a nomenclatura que o Congresso criou para as emendas financeiras parlamentares. Tem deputado alemão que quer cidadania brasileira pra ganhar mandato aqui. É emenda individual; emenda de bancada; emenda de comissão; emenda do relator, emenda pix. Provavelmente, enquanto escrevo, alguém está bolando outra maneira de obter um naco de verba pública para transferir supostamente para suas "bases". Para ajudar suas excelências, sugiro nomes para as futuras emendas.
* Emenda Tio Paulo ("morre aqui")
" Emenda Bolso Furado ("diz ao TCU que o dinheiro tava aqui até agorinha")
* Emenda Cheguei Primeiro (" o Planalto liberou a grana e eu já tava na boca do caixa")
* Emenda Beijinho no Ombro ("é pra mídia que enche o saco e só fala em desvio de verba")
* Emenda Mamãe Merece ("vou comprar um trator pra minha velha")
* Emenda Jesus te Ama ("ô dinheirinho abençoado esse do meu livramento. Glória a Deus")
* Emenda das primas ("hoje tem festa no cabaré das Alagoas")
* Emenda My home, My life ("mais uma liberação dessa e se Deus quiser compro minha casinha em Miami. E a vista, véi")
* Emenda Porsche ("vou é pegar muié dos boiadeiro de Barretos. Segura, peão")
* Emenda Arthur Lira ("obrigado paipai")
* Emenda Rodrigo Pacheco ("brigado pelo pix, sô. Bundemais"
por Flávio Sépia
Relator do Orçamento, inserindo fundamentalismo em discussão institucional e econômica, diz que Haddad deveria ler menos Maquiavel e mais a bíblia. Mal sabe que os apóstolos eram PhD diante de Maquiavel ainda no maternal.
A Caras apostou alto na chamada de capa. "Roberto Carlos se renova na música". Jura? Músicos que trabalharam com o RC dizem que em shows e regravações são mantidos os arranjos originais. Roberto nunca quis mexer no que deu certo. A introdução da canção Detalhes, por exemplo, qualquer brasileiro, mesmo zerado em ouvido musical, vai pressentir as notas que virão a seguir. É difícil acreditar que Roberto Carlos, assim como seu público, anseie por novas emoções ou qualquer "renovação". A marca indelével é a mensagem que a plateia que segue o cantor esperar reencontrar em um eterno "stimming".
| A fúria e o som de Auschwitz não perturbam o dia de piscina da família Höss. Foto: Divulgação |
| Casa com varanda e vista para campo de concentração: o home office do CEO de Auschwitz. Foto: Divulgação |
por José Esmeraldo Gonçalves
Como um tranquilo reality, a câmera dirigida pelo cineasta Jonathan Glazer acompanha a rotina de Rudolf Höss (Christian Friedel) e Hedwig (Sandra Hüller) e filhos. Uma família comum vivendo em uma casa acolhedora, cercada de jardins e de um rio de águas calmas que corre tão monótono quando parece a vida dos Höss. Poderiam estar em um anúncio de banco digital se não tivessem o horror como vizinho. Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz, é tido por seus superiores como eficiente na função. Uma espécie de empregado de todos os meses durante os piores anos da Segunda Guerra Mundial. Poderia perfeitamente ser hoje um desses palestrantes e coachs que vendem motivação e sucesso.
O muro alto que separa a casa dos Höss das instalações do campo de concentração não esconde as chaminés dos crematórios e nem impede que a família ouça uma trilha constante de gritos de desespero e tiros. Ouvir, no caso, não é sinônimo de prestar atenção ou se importar com o barulho no condomínio. Höss age como um CEO da firma, um Elon Musk do X. É fanático por foco no trabalho. Faz reuniões com os subordinados, traça estatégia para "otimizar" o número de trens que levam prisioneiros judeus à morte e como expandir a linha de montagem do Holocausto. Não aparecem cenas de brutalidade. Ele se apresenta como um gestor que tem metas e business plans.
A extrema frieza está presente tanto na mesa de reuniões quanto nas conversas conjugais, quando o militar compartilha com a mulher os rumos da sua carreira e seu prestígio ascendente na cúpula executiva da "Solução Final".
Em todas as situações, a indiferença é o elemento perturbador e a naturalidade o fio que conduz a trama.
No seu discurso, ao receber o Oscar de Melhor Filme Internacional, Glazer enfatizou sua determinação em confrontar "Zona de Interesse" com o presente.
"Não para dizer 'veja o que eles fizeram então', mas 'veja o que fazemos agora'. Nosso filme mostra aonde a desumanização nos leva”. Agora estamos aqui como homens que recusam que o seu judaísmo e o Holocausto sejam sequestrados por uma ocupação que levou tantas pessoas inocentes ao conflito, sejam elas as vítimas do 7 de outubro em Israel, seja o ataque em curso em Gaza”, concluiu.
O exemplo citado por Glazer é um entre os muitos muros que atualmente escondem o que se passa ao lado. Não é o único. As chaminés da ascensão da extrema direita nos Estados Unidos, na França, itália, Polônia, Brasil, Argentina, Espanha, Israel, Portugal, Alemanha, Hungria, Finlândia, entre outros países, são evidências de um fenômeno político amparado pela mesma indiferença e comodidade que impulsionaram o nazismo e o fascismo.
(*) "Zona de Interesse" estreou no Brasil, nos cinemas, em fevereiro. Agora chega ao streaming (Prime) e certamente convidará milhões de pessoas a escalarem a múltipla escolha dos nossos muros. Por exemplo, o muro de um Congresso com maioria de extrema direita; o muro do ativismo político das igrejas neopentecostais rumo à teocracia; o paredão das redes sociais manipuladas por algorítmos; o poder das big techs; o grande muro da destruição ambiental, o muro do crime organizado em associação com autoridades e a muralha dos ataques ao STF, só para citar alguns.
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| Balões sobrevoam a Capadócia, Foto. J.Esmeraldo Gonçalves |
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| Montanhas e horizonte da Capadócia, terra de São Jorge Guerreiro. Foto: J.Esmeraldo Gonçalves |
Uma aventura na terra de São Jorge. Em outubro do ano passado, o Santo Guerreiro entrou no meu roteiro de viagem. Percorri a região onde nasceu e viveu o capitão do exército romano que se converteu ao cristianismo e desafiou o império. Não vi o santo. Havia muitos cavalos, ainda usados no deserto. Pelo menos um cavalo branco (seria descendente desse aí na ilustração à esquerda?) pastava em um pequeno curral, mas o dragão não estava lá, não na rota dos viajantes e das câmeras fotográficas, que devem incomodá-lo bastante. Infelizmente, a imagem mais próxima de figura passeriforme com traços de icterídea com que me deparei foi a de uma turista brasileira que criava caso por onde passava. Mas até aquela "mala" detestável era insignificante na imensidão da Capadócia, na Anatólia Central, República da Turquia, onde o pensamento voa. Se, por terra, a região impressiona, com suas casas e igrejas escavadas nas rochas, verdadeiras cidades subterrrâneas (na era romana a Capadócia foi abrigo dos cristãos), de cima, a paisagem lunar é deslumbrante. Nas cúpulas das pequenas capelas, sob a rocha vulcânica, há afrescos milenares que mostram a imagem do Guerreiro em traços e cores que o tempo e o vandalismo quase apagaram, bem semelhante ao retrato que chegou aos dias de hoje e, como é de lei, decora paredes em botequins cariocas. Impossível deixar de pensar que naquelas terras nasceu um mito que é venerado por católicos, que é o protetor Ogum ou Oxossi das religiões afro, que é padroeiro em Portugal, Inglaterra, Lituânia, da cidade de Moscou e guerreiro adorado nessa São Sebastião do Rio de Janeiro. Já repararam que é o único santo que o carioca, com intimidade de irmão, chama de Jorge? Pois é, Jorge estará até na Globo! É mole ou quer mais? É fonte de inspiração para a novela "Salve Jorge", de Glória Perez, que terá cenas filmadas na Capadócia e em Istambul. Salve!.
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| Págiana reproduzida da edição especial de carnaval da Manchete, em 1991 |
Quem viu, viu. Em 1991, a União da Ilha não empolgou os jurados (ficou em nono lugar) mas levantou o povão e deixou um samba que até hoje é um dos mais tocados nos blocos cariocas. A simpática escola da Ilha do Governador também fez o sambódromo com uma alegoria impressionte de São Jorge, padroeiro da União da Ilha. O maior Santo Guerreiro que o Rio de Janeiro já viu. Hoje, dia de Jorge da Capadócia, o blog relembra esse carnaval. E sobre o samba daquele ano, se você já saiu em algum bloco, ouviu e cantou: "Hoje eu vou tomar um porre, não me socorre que eu tô feliz...", o samba "De Bar em Bar", do compositor Franco, que homenageava outro compositor histórico, Baeta Nunes, o Didi, falecido em 1987. Didi, procurador, boêmio e poeta, emplacou mais de dez sambas na União da Ilha e mais quatro no Salgueiro. (José Esmeraldo Gonçalves)
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| Reproduzido de O Globo |
por Flávio Sépia
Economista neoliberal é o seguinte. Se dependesse dele, o Brasil exportaria apenas coco e banana e mesmo assim trocaria esses produtos por miçangas e espelhos. Esse aí sugere no Globo que o país importe carros usados. A indústria automobilística e de autopeças gera empregos. Mas esse é um detalhe que não interessa aos neoliberais de mercado.
Agora, sério, nada é gratuito. Existe de fato um lobby para que o Brasil importe carros usados (atualmente só é permitida a importação de automóveis colecionáveis). E o economista ainda quer que o país subsidie a compra com isenção de impostos. Se o carro em questão não segue normas de segurança, regras ambientais e direitos do consumidor, dane-se.
Há países que aceitam até receber lixo industrial e doméstico e rejeitos hospitalares de nações desenvolvidas. O Brasil, por enquanto, não. Embora cargas clandestinas já tenho sido flagradas por aqui. Vai ver neoliberais já estão discutindo em fóruns acadêmicos como legalizar a importação de fraldas usadas, remédios vencidos e supositórios reciclados. Duvida?