Por ROBERTO MUGGIATI
A primeira vez que vi
Sérgio Mendes tocar foi num apartamento de Copacabana, podia ser o da Nara
Leão, não lembro bem – uma névoa etílica ofuscava aquela noite. De repente, no
meio de um solo à Horace Silver, o rapaz aborta o improviso e se manda. Tinha
de pegar a última barca para Niterói. Isso foi por volta de 1960. Seis anos
depois, Sérgio Mendes nadava em dinheiro na Califórnia. Deu-se ao luxo de
construir um estúdio particular de gravação na sua casa em Encino. Recomendaram-lhe
um carpinteiro jovem, barbudo com ares de hippie, e Sérgio ficou satisfeito com
o trabalho – fez até uma foto com ele no final dos trabalhos. Seu nome era
Harrison Ford. Nascido em Chicago em 1942, trabalhando em teatro amador, foi
tentar a sorte em Hollywood. Conseguiu algumas pontas, até um papel sem fala no
filme cult de Antonioni Zabriskie Point.
Com mulher e dois filhos pequenos para sustentar, Harrison, carpinteiro
autodidata, começou a fazer uns bicos para a comunidade afluente de Los
Angeles.
Construiu um deck para a piscina da louraça Sally Kellerman (a Hot
Lips de M*A*S*H), o estúdio de Sérgio
Mendes e armários para a casa do diretor George Lucas, que o escalou como ator
para o filme American Graffiti
(1973), sua porta de entrada para o cinema. Daí para Guerra nas Estrelas, do
mesmo Lucas, foi um passo; e então, para o papel que nasceu para fazer: Indiana
Jones. A essa altura, era Harrison Ford quem podia contratar Sérgio Mendes como
seu carpinteiro.Reprodução CNN |