quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Netanyahu acaba de alcançar um recorde: é o líder cujas bombas já mataram mais jornalistas do que a Primeira e Segunda Guerras e o conflito do Vietnã




por José Esmeraldo Gonçalves

Benjamin Netanyahu já está na galeria dos mais brutais criminosos de guerra desde que as Convenções de Genebra tentaram ordenar os excessos nos campos de batalha. Em 1929, chocados com as atrocidades cometidas na Primeira Guerra Mundial, os líderes ocidentais assinaram compromissos e normas para a defesa de prisioneiros de guerras, feridos, doentes e civis. Aos primeiros documentos seguiram-se vários acordos adicionais para proteger não combatentes, náufragos e proibir o uso de gases venenosos. Ao longo de décadas, a evolução tecnológica das máquinas de guerra foi objeto de outros protocolos. 

A guerra em Gaza praticamente rasga essas posturas. 

A reação aos atentados realizados pelo grupo terrorista Hamas foi legítima na origem, mas ultrapassa todos os limites e provoca reação mundial. A guerra também é alvo de protestos de muitos israelenses e condenada por judeus em vários países. O poderoso governo de extrema direita que comanda Israel ignora essas reações. Uma consequência dos ataques à população civil de Gaza (estima-se em mais de 60 mil o número de mortos) são os lamentáveis episódios de antisemitismo que ocorrem principalmente nas cidades da Europa. 

Netanyahu e seus comparsas viram na ação terrrorista do Hamas uma oportunidade para varrer a Palestina no mapa. Um símbolo cruel da estratégia rumo a esse objetivo são as cenas que mostram soldados israelenses metralhando multidões famintas que disputam os alimentos que eventualmente chegam a Gaza.  Essas imagens atravessam o cinturão militar e chegam ao mundo graças a repórteres, fotojornalistas e cinegrafistas que registram a barbárie. Esses profissionais são alvo da ira de Netanyahu que se incomoda com a divulgação das atrocidades. Os números em escalada mostram que 194 jornalistas foram mortos em Gaza desde 2023 (o Sindicato de Jornalistas Palestinos estima em 246 os profissionais da mídia assassinados em menos de dois anos). São cifras que ultrapassam os da Primeira e Segunda Guerras somados (69 vítimas) mais os jornalistas mortos na guerra do Vietnã (71). Na guerra da Ucrânia, até agora, 19 profissionais foram assassinados.

O último ataque de Israel ao hospital onde estavam os jornalistas emula uma terrível tática aplicada durante a Segunda Guerra Mundial e replicada nas décadas seguintes por grupos terroristas. Trata-se do ataque da "segunda bomba". A primeira devasta o alvo, deixa mortos e feridos; a segunda visa arrasar os sobreviventes e, principalmente, as brigadas e voluntários que socorrem os feridos. Foi essa segunda bomba que ampliou o rio de sangue no hospital bombardeado. Os ataques teria sido efetuados por drones cujas câmeras visualizam e confirmam detalhes do alvo, o que reduz a hipótese de erro 

Netanyahu sempre justifica as mortes com o argumento de que terroristas do Hamas estão infiltrados entre os correspondentes de guerra da AFP, Reuters, Al Jazeera, New York Times. O ataque ao hospital visava, segundo ele, um repórter que supostamente foi ligado ao Hamas. Provas? Netanyahu nunca precisa de provas para lançar bombas onde quer que seja sobre não combatentes, incluindo crianças.                        

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Jaguar (1932-2025) - Em 1957, o cartunista que seria um dos fundadores do Pasquim publicou sua primeira página exclusiva na antiga revista Manchete, da qual foi colaborador



 

Em 1957, Jaguar dangou uma página na Revista Manchete. Reprodução da edição


por José Esmeraldo Gonçalves  

A edição 271 da antiga Manchete trazia uma página assinada por Jaguar. Ele já havia colaborado com a revista que chegara às bancas em 1952.  A novidade oferecida ao leitores era a página exclusiva do cartunista que faria história a partir de junho de 1969, quando foi um dos fundadores do Pasquim e deu traços ao Sig, o rato implacável e inesquecível.  O jornal foi um fenômeno de vendas, soube fazer a hora e, usando o humor como arma, tornou-se um símbolo da luta contra a ditadura. Os gorilas entendiam de pau de arara e não sabiam lidar com humor. Chegaram a prender toda a redação invocando as mais variadas desrazões. No caso do Jaguar, o "crime" foi uma charge que parodiava o grito da Independência e botava D. Pedro pedindo mocotó às margens do Ipiranga. Odiaram a piada. 
Em cada uma das milhares de charges que criou Jaguar imprimia seu estilo único e certeiro. Difícil escolher a melhor. Entre aquelas que mais gosto e que resume humor com gotas precisas de acidez e bouquet de ironia vai essa abaixo reproduzida do Pasquim. 


    

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

O material de divulgação do novo álbum de Taylor Swift The Life of a Showgirl) remete a Nicole Kidman no filme Moulin Rouge


Taylor Swift como uma deslubrante showgirl europeia. Reprodução Instagram



O novo álbum dsa cantora ("The Life of a Showgirl" tem um certo clima que lembra 
Nicole Kidmann filme "Moulin Rouge". Foto Divulgação



por Ed Sá

Durante sua última turnê na Europa, Taylor Swift criou "The Life of a Showgirl", produzido na Suécia. Segundo a cantora, o novo álbum se inspira no que aconteceu nos bastidores da turnê "The Eras Tour". Musicalmente, é um retorno ao pop. O que não se sabe é se "The Life of a Showgirl" fará referência a um acontecimento trágico que marcou sua passagem pelo Rio de Janeiro quando uma fã não resistiu ao calor e sofreu uma parada respiratória fatal no Engenhão, palco da apresentação carioca da turnê Eras Tour.  

Mistério na Glicério - Sexto Capítulo - "Uma casa de bonecas" - Um folhetim noir escrito por Roberto Muggiati

 

O blog Panis Cum Ovum publica o folhetim Mistério na Glicério, de Roberto Muggiati, originalmente lançado no República, voz não-oficial da República Independente de Laranjeiras, editado quinzenalmente por Ricardo Linck, do Maya Café.




domingo, 17 de agosto de 2025

Efeito Felca faz andar projeto contra a exploração de crianças na internet, mas bolsonaristas atuam para impedir a regulamentação das big techs

O youtuber Felca lançou a denúncia contra exploração de crianças na internet.
Imagem reproduzida do programa Altas Horas/Rede Globo 
 

O efeito da denúncia do youtuber Felca sobre a exploração e sexualização de crianças na internet é obviamente positivo e o avanço da legislação para impedir o fator pedofilia nas redes sociais é inadiável. 

O problema é máquina de moer de Brasília. 

Tudo que chega ao Congresso é triturado e deformado. Há projetos para responsabilização das bigtechs engavetados há tempos. Bolsonaristas e bancadas "comerciais" impedem o avanço de leis "sensíveis" aos seus interesses. É o caso, também, da regulamentação da jogatina digital de "tigrinhos, sites de apostas futebolísticas e cassinos on line.

A denúncia do Felca ganhou ampla repercussão nacional que tornou impossível a suas (deles) excelências ignorarem o clamor público. Infelizmente deu aos bolsonaristas e ao Centrão a oportunidade de desidratar os projetos, focalizar na questão da exploração e sexualização de crianças e deixar de lado a responsabilização das big techs. O motivo? O ano eleitoral vem aí e a turba quer liberdade para produzir fake news, difamar pessoas sem provas, usar a IA para atacar adversários e enganar os eleitores. Os países desenvolvidos estão criando mecanismos para legalizar - a palavra é essa - as big techs e levá-las a respeitar as leis, direitos autorais, cidadania, civilidade, ética e, de resto, a democracia como qualquer outra atividade deve fazê-lo. Daí, a trituradora entrou em ação.

sábado, 16 de agosto de 2025

Na capa da Fórum: o influenciador de estimação de Donald Trump

 

Matéria assinada por Luiz Carlos Azenha, na revista 
Carta Capital mostra os pontos de contato entre Trump e a cartilha nazista. A eugenia se materializa na limpeza étnica da ruas de Washington, na caça aos imigrantes e aos pobres em geral. 



sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Primeiros momentos: o lado quinta série do encontro Putin-Trump

por Flávio Sépia 

Inicialmente,  os dois líderes chegariam à base aérea em território estadunidense em horários estipulados: Trump, o anfitrião diplomático, primeiro; Putin, o visitante, depois. Detonando o protocolo, o avião de Trump atrasou meia hora. Os dois acabaram chegando ao mesmo tempo. Havia tapetes vermelhos para cada um, mas Putin teve que caminhar até Putin. Nada disso foi gratuito. Ao seguir o tapete, o líder russo foi obrigado a passar entre caças enfileirados. Terceiro momento quinta série. Logo depois que os dois líderes se encontraram, um bombardeio B-2 fez um rasante sobre Putin, ele chega a olhar para cima e continua andando, parecia já esperar esse tipo de provocação. Outro ponto: não havia carro especial para conduzir Putin. O líder russo foi de carona na limusine do Trump. Do lado russo, outras provocações. Aos repórteres da comitiva russa foi servido Frango a Kiev.  Putin ostentou: usou o jato presidencial e mais três grandes aviões para levar sua tropa ao Alasca  Certo estava Serguei Lavrov, ministro do Exterior da Rússia, que desembarcou já no modo provocação: desembarcou usando uma camiseta com o logo histórico CCCP, um recado inconfundível. Cabe lembrar que muitos integrantes do governo russo discordaram do formato desse encontro tal como Putin o aceitou. As conversações deram em nada efetivamente. Trump, apesar disso, avaliou que houve avanços. 

Mídia: uma simples curiosidade.

Sem querer prejudicar empregos, a Globo não precisa de repórteres brasileiros nos Estados Unidos. Em questões geopolíticas, tecnológicas, de comportamento e comerciais, os tupiniquins repetem literalmente o discurso da Casa Branca em todos os campos. Os gringos poderiam reportar tudo isso sem intermediários. Até mesmo em ocasiões como a recente Copa do Mundo de Clubes evitaram falar sobre os problemas, incluindo as sucessivas e excessivas  paralisações de jogos em função de supostas ameaças de raios. Na verdade, motivadas por temor dos organizadores e dos seguradores de que os raios (que não vieram)  atingissem alguém no interior dos estádios.  Na linguagem da tropa da Globo tudo foi maravilhoso.  Há exceções na equipe entre comentaristas jornalisticamente mais honestos e com alguma independência. Em tempo de caça às bruxas convém não citar nomes ou correrão riscos trabalhistas.

Eleições 2026 - a corrida aos influenciadores que podem transformar likes em votos

Ilustração :TSE/Logotipo das Eleições 2026

Uma corrida silenciosa acontece nos bastidores do partidos. Com a aproximação do ano eleitoral, quando milhares de cargos estarão em jogo, os políticos passam uma lupa nos potenciais puxadores de votos que as redes sociais podem oferecer. Influenciadores com milhões de seguidores são o alvo principal. Muitos ainda não sabem que serão procurados. Basta aguardar. Claro que até a campanha eleitoral outros nomes surgirão, mas essa prévia abaixo faz todo o sentido. Se tais nomes toparam a disputa e se conseguirão transformar likes em votos é outra história.    

* Felca - ao denunciar exploração de crianças na internet, virou "objeto" de consumo de bolsonaristas e esquerdistas.

* Gominho - o amigo de Preta Gil construiu uma imagem de lealdade e solidariedade e ocupa as redes sociais. Vai receber convite? Nos bastidores do streaming produtores se movimentam para emplacar um doc sobre Preta Gil. Se confirmado o especial Gominho ampliará então sua visibilidade. 

* Virgínia Fonseca - Tem cerca de 20 milhões de seguidores. Depôs na CPi dos sites de apostas e, por ter apoio de políticos bolsonaristas, saiu-se bem. Ganhou prestígio nas bancadas favoráveis ao jogo. A CPI deu em nada, mas ela ficou na memória dos chefes de partidos. Vai ser lembrada.

* Luva de Pedreiro. Já  não tem alcance nacional, passou a onda, mas pode ter força para puxar votos regionais.

* Zé Felipe, ex-marido de Virgínia. Cantor sertanejo com forte presença na internet é observado para candidaturas na região oeste do país.

* Deolane Bezerra, advogada e influenciadora. Foi convocada pela falecida CPI das Apostas. É articulada e pode ser procurada por líderes de partidos.

* Jojô Todinho. Figura polêmica, tem pretensões políticas, é aliada a posições da extrema direita bolsonarista.

- Danilo Gentile - o apresentador de TV costuma compartilhar suas opiniões políticas conservadoras de perfil direitista. 

* Felipe Neto - o youuber se coloca à esquerda, é cobiçado pelos progressistas, sua opinião terá alcance eleitoral, mas dificilmente será convencido a concorrer a cargos políticos.

* Luciano Huck - A cada eleição o apresentador se movimenta rumo à política partidária. São surtos, logo desiste. Em 2026 terá nova oportunidade, quem sabe...

* Gustavo Lima - O cantor foi tema de pesquisas que sondaram uma possível candidatura a presidente. É conhecido nacionalmente e as as enquetes demonstraram isso. Tem perfil bolsonarista. Por enquanto, nega pretensões eleitorais. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Na capa da Carta Capital: os intocáveis

 


O "pastor da calcinha" é puro "Nelson Rodrigues". Uma investigação abaixo de qualquer suspeita

por José Esmeraldo Gonçalves 

Falta um Nelson numa hora dessas. 

Um sujeito rico, pastor e alto funcionário público, foi flagrado de fio dental e peruca loura aparentemente rodando a bolsinha em uma calçada de luz difusa. 

Os vizinhos se assustaram com aquela figuraça novata no pedaço e gravaram o religioso travestido e em ação. 

Após a cena viralizar na internet, ele gravou um vídeo justificando a fantasia. Alegou que se disfarçou para realizar uma investigação particular. Queria descobrir um certo endereço. Não deu maiores detalhes. Talvez uma boa busca no Google revelasse o CEP em questão sem querer apelasse para o fetiche. O "homem de Deus" ainda não disse porque precisava tanto do tal endereço.

No vídeo-resposta em que tenta limpar a barra,o pastor aparece ao lado da mulher. Segundo ele, a "conja", como chama Sérgio Moro, não sabia detalhes da operação investigativa na qual o marido fazia figuração de trottoir. 

Um dos vizinhos revelou que o pastor compareceu à calçada por várias noites.

Nelson Rodrigues adorava expor a hipocrisia dos homens e mulheres "de bem". Se o pastor estava em missão investigativa ou não é problema ou solução dele. Para o jornalista e dramaturgo importava a inspiração para a sua crônica em A vida Como ela é no jornal Última Hora e, depois, na Fatos & Fotos.

sábado, 9 de agosto de 2025

Na capa da Carta Capital: a facção do esparadrapo

 


Os "kids pretos" do Legislativo

 

06-8-2025 - A cena é grotesca. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, é assediado por bolsonaristas que assaltam a Mesa da Câmara. A pauta deles: forçar a aprovação de anistia para os golpistas de 8 de janeiro e da blindagem para impedir que o STF julgue deputados.  Querem também o impeachment do ministro Alexandre Moraes. Na prática, pretendem golpear as instruções democráticas. Durante horas, Hugo Motta respirou o bafo fétido da facção bolsonarista, até que, produzido o conteúdo para as redes sociais, foram enviar likes e "nudes" políticos para o clã. Foto: Reprodução TV Câmara 





Fevereiro de 1981. Fascistas sob o comando do coronel Tejada invadiram o Parlamento da Espanha. O objetivo era impedir a democratização do país após a ditadura de Franco. Os democratas resistiram e o golpe fracassou. Tejada puxou cadeia de verdade, sem direito a romaria. Não se sabe se os bozorocas tentaram imitar Tejada. Talvez sequer conheçam o fato. Optaram pela farsa por afinidade com o método.



Passaralhos sobrevoam a Globo News.

O passaralho que fez ninho na Globo News parece não ter saciado o apetite. Depois das demissões de Daniela Lima, Eliane Cantanhede e Mauro Paulino, o clima é pesado nas redações do canal por assinatura. 

Uma recente pesquisa do Quest teria captado a Globo News como "esquerdista". E isso incomodou a cúpula do canal. Bem antes da pesquisa havia embates sutis ou às vezes, até declarados entre jornalistas com nuances progressistas e outros mais acomodados ao manual ideológico do planeta Globo. No You Tube há vídeos que registram esse suco de climão derramado nas bancadas dos telejornais.  

No embate entre a extrema direita bolsonarista e o STF, Daniela Lima vestia a camisa da democracia representada pelo time da toga em luta contra o golpismo. 

Não sei se a jornalista percebeu o movimento das peças da Globo expresso no perfil de novas contratações. Se consultasse o GPS veria um redesenho da terceirização de opiniões. Algo como o "recreio" acabou, afinal 2026 está logo ali. A Cantanhede mexeu com o lobby israelense, O sociólogo Mauro Paulino sempre interpretou as pesquisas com um olho nos números críticos e outro na democracia ameaçada. Daniela entrou no canal a 120 por hora e acionou fontes que eram consideradas "privativas" de umas e outras. Nenhum dos três se deu conta de que o modelo em alta de comentários pontuados por âncoras é do Cesar Tralli onde a crítica tem doses de contenção, mentoria e auto ajuda. 

 À sombra de Trump e suas taxas e interferências, o STF torna-se um alvo de críticas das bancadas sobreviventes e comentaristas convidados. A biruta eleitoral ainda não indica claramente quem será  o novo Collor da Globo, mas os clones estão na mesa, sob observação. A indignação contra o 8 de janeiro dá vez a insistentes apelos de "moderação" enquanto o golpismo renovado e fortalecido dessa vez invade e subjuga a mesa diretora da Câmara.  

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Mistério na Glicério - Quinto Capítulo: "Cherchez la femme" - Um folhetim noir escrito por Roberto Muggiati

 


CARTA AOS LEITORES E LEITORAS




 "Mistério na Glicério", por Roberto Muggiati. O blog Panis Cum Ovum publica o folhetim noir escrito por Roberto Muggiati, originalmente lançado no República, voz não-oficial da República Independente de Laranjeiras, editado quinzenalmente por Ricardo Linck, do Maya Café.

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terça-feira, 5 de agosto de 2025

Veja: só ficaram dois... • Por Roberto Muggiati

 

Álbum de família da Veja em 1968: Muggiati à extrema esquerda, Mino ao centro. Entre os mortos ilustres, o escritor Caio Fernando de Abreu (3ª fila ao centro), que completava vinte anos naquele dia.

 

Quando a revista de texto da Abril foi lançada com inusitado estardalhaço em setembro de 1968, o editor-chefe Mino Carta capitaneava a semanal com a ajuda de cinco subeditores: Tão Gomes Pinto (Brasil), José Roberto Guzzo (Internacional), Roberto Muggiati (Artes e Espetáculos, Ulisses Alves de Souza (Vida Moderna) e Sérgio Pompeu (Chefe de Reportagem).

Pompeu se foi em 2000, aos 61 anos; UIisses em 2011, aos 78; e Tão em 2022, aos 83. Agora foi  vez de J.R. Guzzo, aos 82 anos. Mino Carta fará 92 anos em 6 de setembro; este que vos escreve espera chegar aos 88 em 6 de outubro. Ambos aguardam tranquilamente a marcha natural das coisas, pois já noticiava William Shakespeare em 1606 a existência “daquele país desconhecido de cujas fronteiras nenhum viajante jamais voltou...”

sábado, 2 de agosto de 2025

Ano 2000 - Há 25 anos: o bug da Bloch e o último réveillon da Manchete

2000 - O último Réveillon da Manchete


Primeiro de Agosto de 2000: Justiça lacra a Bloch - A edição pronta que nunca foi para as bancas


por José Esmeraldo Gonçalves
Semanas antes da virada para o ano 2000 a mídia estava obcecada pelo bug do milênio. Especialistas lançavam no ar um certo pânico. Havia quem guardasse comida, remédios e dinheiro. Os mais crédulos, especialmente uma cantora da MPB, acreditava em abdução de pessoas. Neopentecostais arrumavam as malas e juntavam dízimos para viajar de primeira classe rumo ao resort celestial. 

Em Copacabana, trabalhando no réveillon para a Caras, apenas concluí: se o bug seria mesmo tão terrível, não havia o que fazer. Nada aconteceu. À meia noite verifiquei o celular e relógio estava lá, certinho. O novo milênio apareceu, o bug, não. 

No Forte de Copacabana, encontrei a repórter da Manchete Aiula Eisfeld. Cobríamos o Réveilon de FHC. Seria o Baile da Ilha Fiscal se o bug tivesse derrubado a festança da elite. Como o apocalipse digital não veio, foi apenas uma noite brega. Não sabíamos, mas o que estava a caminho era o Dia B do Bug inevitável da Bloch Editores. Não sabíamos, mas aquela "festa pobre", como cantava Cazuza, seria a última registrada pela Manchete. Sete meses depois, no dia 1 de agosto, a empresa iria à falência. Manchete encerrava um ciclo de 42 anos de circulação regular (ainda seriam publicadas, nos anos seguintes, edições produzidas por uma cooperativa de ex-funcionários e revistas especiais de carnaval). Manchete saía de fininho e começava uma dramática etapa de vida para milhares de colegas. Eu havia deixado a Bloch em fevereiro de 1996 após 17 anos de trabalho em duas etapas; 11 anos na Fatos& Fotos e seis anos na Manchete

Acompanhei à distância a luta dos ex-funcionários então levados a credores da Massa Falida da Bloch Editores. Ontem, a batalha para reaver direitos, liderada por José Carlos Jesus na Comissão de Ex-Empregados da Bloch Editores, completou 25 anos. A maioria - entre os mais de 2 mil trabalhadores que foram habilitados inicialmente, recebeu o que os advogados chamam de "indenização principal".  A MFBloch ainda lhes deve parcelas de correção monetária (foram pagas apenas três cotas, apesar de parte dos credores trabalhistas terem feitos acordos com o objetivo de obter quitação total mais rápida). Um grupo de habilitados posteriormente ainda aguarda a indenização principal, segundo ex-funcionários. 

O último dia da Bloch foi tão dramático, de certa forma tão cruel, quanto a longa  espera por justiça. Os funcionários foram obrigados a deixar às pressas o conjunto de prédios da Rua do Russell, com poucos minutos para recolher objetos pessoais. Assim expulsos, deixaram para trás o hall de editora lacrada e caíram em tempos de incertezas. 



Cinco anos após a falência da Bloch, ex-funcionários começamos a escrever o livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou (Desiderata), esgotado mas ainda disponível em sebos na internet. O objetivo alcançado era deixar registradas a vida e as vidas naquela aldeia plantada na Rua do Russell. Abaixo reproduzo um dos textos que escrevi para a coletânea,  o de apresentação, e uma crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha de São Paulo sobre o dia para não esquecer. 



Texto de apresentação do livro Aconteceu na Manchete,
as histórias que ninguém contou.

A crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha de São Paulo e reproduzida neste blog. 
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sexta-feira, 1 de agosto de 2025